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18 de outubro de 2024
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INCONSTITUCIONAL | GOLPISMO

Sem alcançar 2 milhões, Bolsonaro blefa à apoiadores pagos com R$ 100

Bolsonaro segue com a sua retórica de mentiras e deve tentar uma insurreição, assim como seu ídolo, Donald Trump

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Em discurso para o público que se aglomerou na Esplanada dos Ministérios em Brasília nesta terça-feira (7.set), o presidente Jair Bolsonaro, mais uma vez, como tem feito diariamente, ameaçou o Supremo Tribunal Federal, especialmente o ministro Alexandre de Moraes, e prometeu não aceitar medidas, ações ou sentenças que venham do que chamou de “fora das quatro linhas da Constituição”.

A máquina publicitária do bolsonarismo conseguiu reunir multidões consideráveis em São Paulo e em Brasília — mas insuficientes para quem quer instaurar uma ditadura no país. Mas o presidente manteve sua retórica descabelada com a premissa de que o Judiciário e o Legislativo lhe devem obediência. Eles até, segundo os próprios apoiadores, pagaram R$ 100 à cada um que fosse em comboio à Brasília, o investimento alto e o planejamento de um mês não levou até a capital federal o público esperado. 

Bolsonaro conseguiu reunir, segundo a Polícia Militar (PM) paulista, 125 mil pessoas para ouvi-lo. O número é expressivo, mas aquém dos dois milhões que o governo apregoava, após um mês de preparação para a manifestação, além de financiamento de ônibus que levaram pessoas de diversas regiões do país, com "tudo pago" até a Capital Federal. A expectativa de Bolsonaro era mentirosa desde o início, pois, segundo o Datafolha, na Avenida Paulista não cabem mais de 950 mil pessoas. A estimativa mais exata diz que 'apertado' cabem 500 mil pessoas no local.  

Não foi só nas ruas que o engajamento ficou abaixo do esperado. Levantamento do analista de redes sociais Pedro Barciela mostra que menos de 18% dos usuários do Twitter mencionaram ontem as manifestações e que, após um início forte, a hashtag #7desetpelaliberdade perdeu força, foi suplantada por #forabolsonaro e alcançada por #flopou (falhou, evento ignorado). 

NÚMEROS 

A oposição também fez um protesto em São Paulo, no Vale do Anhangabau, organizado de última hora, o grupo de manifestantes se uniu ao evento que acontece a 27 anos em todo o Brasil, "O Grito dos Excluídos e Excluídas", segundo também a PM paulista, lá o grupo atingiu um grupo de 15 mil manifestantes.

Manifestação contra Bolsonaro em Campo Grande (MS).  Foto: Tero QueirozManifestação contra Bolsonaro em Campo Grande (MS).  Foto: Tero Queiroz

Em Campo Grande (MS), cerca de 3 mil pessoas da oposição ocuparam as ruas no Centro. Também pela manhã de ontem, manifestantes pró-Bolsonaro, cerca de 31 mil, ocuparam a Avenida Afonso Pena, no Centro da cidade. MS é um reduto eleitoral de Bolsonaro. 

DISCURSO GOLPISTA 

Manifestantes pró-Bolsonaro em Brasília - Foto: Marcos Corrêa/PRManifestantes pró-Bolsonaro em Brasília - Foto: Marcos Corrêa/PR

“Nós não mais aceitaremos que qualquer autoridade, usando a força do poder, passe por cima da nossa Constituição. Não mais aceitaremos qualquer medida, qualquer ação ou qualquer sentença que venha de fora das quatro linhas da Constituição”, disse, do alto do carro de som.

“Nós também não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos três Poderes continue barbarizando a nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil. Ou o chefe desse Poder enquadra o seu ou esse poder pode sofrer aquilo que nós não queremos, porque nós valorizamos, reconhecemos e sabemos o valor de cada poder da República”, ameaçou.

“Nós todos aqui na Praça dos Três Poderes juramos respeitar a nossa Constituição. Quem age fora dela se enquadra ou pede para sair”, acrescentou o presidente.

Bolsonaro se repete nas quatro linhas de uma Constituição fantasiosa que ele criou na sua cabeça e tenta pregar no imaginário dos seus apoiadores. Ocorre que na Constituição de Bolsonaro a Lei só vale para 'outros', ele mesmo como Presidente já negou até que seja sujeito a crime de responsabilidade, previsto na mesma Constituição que ele diz 'se curvar'.

Quando diz que não respeitará uma decisão de um ministro do Supremo, apenas neste trecho, Bolsonaro já comete crime, a frase o enquadra no crime de responsabilidade registrado explicitamente no artigo 85 da Constituição Federal. “São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra o livre exercício do Poder Judiciário, o cumprimento das leis e das decisões judiciais.”, diz o texto Constitucional.  

Bolsonaro ainda falou ontem, para animar seus fãs, que pretende mandar que o Ministério da Justiça baixe uma portaria orientando a Polícia Federal (PF) a não cumprir “ordens ilegais” da Justiça. Não existe previsão legal de polícia não obedecer juiz na legislação brasileira.

Bolsonaro segue com a sua retórica de mentiras e deve tentar uma insurreição, que assim como seu ídolo, Donald Trump (Republicanos), fracassará. 

REAÇÃO 

O líder da Oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), anunciou que ingressou nesta tarde no Supremo Tribunal Federal (STF) com notícia-crime contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Entre os motivos para a ação, o senador destaca as manifestações deste 7 de Setembro contra membros do Judiciário, realizadas ontem (7.set) por apoiadores do presidente.

Na ação, Randolfe, que também é vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 no Senado, cita o "atentado contra a ordem constitucional, o Estado Democrático de Direito e a separação dos Poderes", "o eventual financiamento dos atos de hoje" e a utilização indevida da máquina pública, do dinheiro público e helicópteros, em favor desses atos".

O senador também solicitou a abertura de inquérito contra Bolsonaro "por sua grave ameaça ao livre funcionamento do Judiciário e pelo uso de recursos públicos para financiar seu carnaval golpista".