Indígenas da aldeia Córrego do Ouro, em Porto Murtinho (MS), denunciam que a unidade escolar da aldeia está com aulas paralisadas, em razão da falta de água, há três semanas.
“A aulas paralisaram por falta de água. O prefeito é conhecedor sim do nosso problema aqui da aldeia. O prédio da escola foi construído há quase 4 anos, funciona, só que não entregou totalmente completo. Porque o prefeito entrou com uma parceria do governo. O governo construiria o prédio e o prefeito ficou pela água e pela energia e até agora não temos. Tínhamos aqui o poço artesiano da Sesai, só que o poço secou tá com uns três anos (sic)”, introduziu Domingos Pedroso, vice cacique.
Apesar do apelo, a prefeitura tem tentado esconder o problema.
Domingos, que também é Conselheiro local de Saúde Indígena, revelou que o prefeito do município, Nelson Cintra (PSDB), nunca esteve na aldeia para cumprir a instalação do poço na escola. “O poço artesiano nós temos, só que está pouca água, a vazão é de 400 litros em três horas. Aí a bomba para de funcionar e já não manda mais água. E o poço artesiano é de responsabilidade do [Distrito Sanitário Especial Indígena] Dsei, mas para a aldeia, para a comunidade. E o poço artesiano da escola é do prefeito, só que não tem poço artesiano na escola. E as aulas continuam paradas. Não tem aulas para os meninos, desde o dia 7 desse mês, até agora não voltou as aulas por falta d’água”, lamentou.
Na última semana houve um protesto na aldeia, ocasião em que foram à aldeia representantes do Ministério Público Federal (MPF), uma secretária de Porto Murtinho, servidores do Dsei e um servidor da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). “Até agora não tivemos respostas, talvez mais tarde talvez o ministério vai mandar alguma coisa para nós. Estamos aqui aguardando. E a caminhonete continua retida aqui na aldeia. Nós seguramos a caminhonete do prefeito para que puxe água para os alunos, mas eles deixaram a caminhonete travada. Começa o feriado agora, mas na próxima semana nós vamos funcionar para nós puxar água. Chega dessa paralisação de aula (sic)”, protestou.
Irado com a reação dos indígenas, numa gravação de ligação telefônica a que o MS Notícias teve acesso, Nelson Cintra quis alegar que a responsabilidade pela água na escola é da Energisa, concessionária de eletricidade de Mato Grosso do Sul. “[A responsabilidade] não é da prefeitura, é da Energisa! Então vocês tão fazendo as coisas ao contrário, errada", disparou.
O prefeito ainda fez ameaças contra as lideranças tentando dissuadir o protesto que cobra por água na escola, para as aulas retornam. "Vocês tão arrumando mais um inimigo, as casas que eu tô direcionando para vocês, se vocês continuarem assim, eu vou ter que desviar para outra aldeia. Porque vocês não devia ter feito tanta grosseria com minha secretária, Ministério Público, vocês foram muito corajosos, Ministério Público Federal vocês desaforaram daquele jeito. Muito ruim, muito ruim, vocês foram muito inocentes", continuou.
Ainda no áudio, ao ser provocado a receber lideranças no gabinete para discutir uma solução a falta de água na escola, Nelson Cintra, se negou dizendo que só iria debater o assunto numa audiência em Campo Grande no Ministério Público Federal.
O prefeito ainda sugere que os indígenas devam pedir desculpas e chama o protesto por àgua de 'papelão'. Ouça a íntegra:
O líder indígena, Lindomar Terena, Coordenador Executivo de Saúde Indígena em Mato Grosso do Sul, disse à reportagem que teria ido a aldeia Córrego do Ouro para tentar ajudar a comunidade. Nesta 2ª.feira, Lindomar foi procurado, mas em razão das agendas pediu para esclarecer a situação 'mais tarde'. Assim que ele enviar posicionamento, sera adicionado ao texto.
A reportagem procurou a Energisa para comentar a responsabilidade da concessionária imputada pelo prefeito Nelson Cintra, no que tange o abastecimento de água na aldeia Córrego do Ouro. Assim que o posicionamento chegar à redação, será acrescentado a esse conteúdo.
OUTRAS AMEAÇAS
Essa não é a primeira ameaça pública feita pelo prefeito tucano. Após se envolver em um escândalo com garotas de biquini numa piscina em Corumbá, o prefeito foi a uma rádio confessar que desviou uma casa para uma cidadã de Porto Murtinho e que por isso, o marido dela deveria lhe ser grato, e não ter divulgado o vídeo escandaloso. Naquela ocasião, Nelson Cintra mentiu também que o MS Notícias o ‘teria pedido apoio financeiro’ e que por ele não ter destinado o apoio, então o site estaria numa suposta campanha contra sua imagem.