01 de novembro de 2024
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PÓS-ELEIÇÕES

PT precisa repensar comunicação, PSDB prepara eutanásia, direita não sabe o que fazer com vitórias

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Os reflexos das recentes eleições já se manifestam no cotidiano político do Brasil e, particularmente, de Mato Grosso do Sul. A primeira balança para aferir a pesagem das forças nos municípios tem os pratos das urnas nacionais. Neles, o campeão é o PSD, que conquistou 890 das 5.568 prefeituras brasileiras. Derrubou a antiga hegemonia do MDB, que mesmo assim continua bem vivo, com o segundo maior número de prefeitos (as): 864. 

Na sequência, o grupo das legendas bem-sucedidas no País traz o PP, com 752 eleitos (as), o União Brasil (591), o PL (517) e o Republicanos (440). Só então aparecem, no grupo intermediário, quatro partidos que já estiveram entre os cinco primeiros: o PSB (313) e o PSDB (276) superaram o PT (252), ao passo que o PDT encolheu significativamente (151). Outros dois partidos passaram de 100 triunfos, o Avante (136) e o Podemos (129).

Em Mato Grosso do Sul o PSDB, embora derretendo no restante do País, ampliou a sua hegemonia: de 37 prefeituras conquistadas em 2020, agora tem 44. É seguido de longe pelo PP, que saltou de 03 para 16. Já o MDB, um velho vencedor neste ranking, hoje respira com dificuldade: há quatro anos fez 09 prefeitos (as) e agora tem 10. Só mais uma agremiação está nesse time de crescimento, o PL, que saiu de 01 para 05 chefias de Executivo. 

Os partidos que sobreviveram elegendo prefeitos foram o PSB, que manteve o mesmo número (01) que fez em 2020, e o PSD, que tinha 04 e perdeu uma prefeitura, ficando com 03. No contraponto, entre as legendas que não elegeram um (a) prefeito (a) sequer está o antes vitorioso PT, tendo em sua companhia o PRD, Podemos, Psol e União Brasil. 

DESDOBRAMENTOS

Com estes resultados, o quadro futuro que começa a ser desenhado tem alguns cenários pré-definidos, entre os quais o troca-troca partidário. As duas maiores lideranças do PSDB, ex-governador Reinaldo Azambuja e governador Eduardo Riedel, parecem prontos para a revoada: o primeiro, rumo ao PL, e o segundo, acredita-se, em direção ao PP, da candidata que apoiou no segundo turno, a prefeita Adriane Lopes.

Riedel e Azambuja: posições diferentes no segundo turno e novos partidos à vistaRiedel e Azambuja: posições diferentes no segundo turno e novos partidos à vista | Foto: Reprodução/ Instagram

E é sobre Adriane que recaem algumas dúvidas em consequência da disputa. Ela ganhou mais quatro anos de mandato com um discurso hostil em relação ao presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva. Foi coerente com sua ideologia e o catecismo partidário, porém deve estar ciente que não conseguirá resolver os gigantescos desafios da próxima gestão somente com as receitas municipais e o apoio do governo estadual.

Para que Adriane Lopes e Lula (ou o governo federal) fortaleçam sua relação político-institucional, existem outras forças e lideranças dispostas a colaborar. Duas delas estão com a prefeita: a senadora Tereza Cristina (PP), que a lançou e bancou politicamente o risco, e Eduardo Riedel. A senadora não esconde ser bolsonarista e procura manter distância de Lula e do PT. 

O governador é mais pragmático. Ele se mantém na direita, contudo mantém um terreno aberto e confortável para dialogar com Lula e o PT, que inclusive ocupa espaços em seu governo. Todavia, isto não é suficiente para Adriane Lopes recorrer ao Palácio do Planalto quando precisar e, é óbvio, se assim o desejar. 

Ela necessitará de interlocutores de reconhecida influência junto a Lula e ao governo federal. Um deles está sempre disponível e é o grande interlocutor lulista no Estado, o deputado federal Vander Loubet (PT). É líder da bancada federal e tem trânsito fácil em todas as vertentes políticas e ideológicas, inclusive com adversários, como Tereza Cristina e Riedel. As ministras Simone Tebet (Planejamento e Coordenação) e Aparecida Gonçalves (Mulheres) são outras boas opções de suporte para reforçar as relações políticas e institucionais entre Campo Grande e Brasília. 

Quanto a Rose Modesto, o Lado B do resultado da disputa trouxe um lenitivo. Embora perdendo por apenas 12.587 votos, os 210.112 eleitores que a escolheram deixaram o município praticamente dividido. A conta é simples: Adriane teve 52,45% dos votos e Rose 48,55% dos válidos, o que revela uma cidade politicamente dividida. Desta forma, a líder estadual do União Brasil consolida em Mato Grosso do Sul sua liderança no partido que foi o quarto maior ganhador de prefeituras. E poderá, em 2026, optar por uma candidatura proporcional (Câmara dos Deputados) ou majoritária (Senado).

Rose Modesto: uma derrota com votação que garante novos voos eleitorais Rose Modesto: uma derrota com votação que garante novos voos eleitorais | Foto: Reprodução/ Instagram

SUCESSÃO

Não há como negar a importância do pleito municipal como laboratório geopolítico para as disputas eleitorais de 2026, quando as urnas definirão Presidência da República, governos dos estados, senadores, deputados federais e estaduais. Há algumas projeções lógicas e inegáveis, como a candidatura de Riedel à reeleição. 

A “guerra” pelas duas vagas do Senado já tem três pré-candidaturas no ensaio aberto: Nelsinho Trad (PSD), que tentará se reeleger, Reinaldo Azambuja (PSDB) e Vander Loubet (PT). Outros nomes deverão surgir, principalmente se a direita e a extrema-direita continuarem divididas. Mas, em princípio, as atenções se concentram nestes dois territórios, Governo e Senado, em vista de alguns fatos novos.

O fortalecimento de Tereza Cristina é inquestionável. Foi ela quem lançou a candidatura de Adriane e a conduziu, teimosamente, contrariando o posicionamento de seu líder maior, Jair Bolsonaro, que fez acordo com o PSDB e indicou uma candidata do PL para vice do tucano Beto Pereira. A senadora afiança que não é pré-candidata à sucessão em 2026. No entanto, todo mundo sabe que a política é como são as nuvens, sujeitas a mudanças.

O PSDB tende a esvaziar-se, em consequência do enfraquecimento do partido nas eleições municipais e o desânimo generalizado de líderes e militantes. Tornou-se praticamente um partido estadual, oxigenado pelos eleitores sul-mato-grossenses. Deixa de ser um abrigo confortável para seus principais condutores, Riedel e Azambuja. Eles têm projetos distintos para o futuro e, talvez em função disso, o ex-governador tenha optado em ficar equidistante no segundo turno, posição oposta à de Riedel, que assumiu o risco de patrocinar a candidatura de Adriane.

O PT é outra importante força política e da afirmação democrática brasileira. A radiografia destas eleições exibe um organismo debilitado eleitoralmente, haja visto o desempenho nada animador nas urnas. Suas maiores expressões, o ex-governador e deputado estadual Zeca do PT, e o deputado federal Vander Loubet, se obrigam a incentivar os dirigentes e a militância a reoxigenar o partido, revitalizando a dinâmica de mobilização, recompondo-se na articulação com os movimentos sociais e encontrando uma fórmula mais eficaz de comunicação com a sociedade. Não conseguirá sobreviver eleitoralmente muito tempo se permanecer dependendo de Lula e do lulismo.

Loubet e Lula: deputado é, com Zeca, o grande interlocutor de Lula no EstadoLoubet e Lula: deputado é, com Zeca, o grande interlocutor de Lula no Estado | Foto: Reprodução/ Instagram