O PMDB trabalhou com o óbvio, escorado em sua experiência e longevidade, pois que foi criado oficialmente em 24 de março de 1966, resultado da extinção dos partidos políticos imposta pelo AI-2 (Ato Institucional nº 2). Prestes a completar 49 anos, sabe que os desvalidos não votam em seus iguais, mas buscam aqueles que aparentam sucesso pessoal. (E antes que me crucifiquem os politicamente corretos, o PT aprendeu isso bem rápido, quando começou a cuidar das vestimentas, postura, e revisar os discursos de seus candidatos.)
Com maestria, os marqueteiros peemedebistas vestiram a administração que cabe ao partido, com o manto da excelência de gestão, contrapondo com os escândalos que assolam o PT e jogam o governo Dilma Rousseff no umbral enlameado que outrora derrubou governos.
O PMDB, que desde a sua fundação ocupou por duas vezes a Presidência da República, em condições discutíveis, pois em 1985 viu o destino tomar a presidência de Tancredo Neves, presidente eleito pelo Colégio Eleitoral, e entregá-la nas mãos de um José Sarney, pinçado das entranhas da ARENA (Aliança Renovadora Nacional) partido que deu sustentação à Ditadura. Depois, um atônito Itamar Franco, que conquistou a cadeira por ser vice de Fernando Collor (PRN) e era recém-ingresso no partido (filiou-se em 1992, ano que assumiu a presidência). A partir dai, esteve a reboque de todos os outros governos, mudando seu direcionamento tal e qual uma biruta.
Esteve nos dois governos do PSDB de Fernando Henrique Cardoso, ocupando ministérios, mas alijado da vice-presidência, mudou o discurso e a postura para participar da base do governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva, também alijado da vice-presidência mas conquistando os mais ambicionados ministérios, por fim, deu a sustentação necessária para a vitória eleitoral de Dilma Rousseff, enfim como um satélite gravitando bem próximo ao poder, com o vice Michel Temer.
O partido que desde cedo aprendeu a valorizar seus instintos, como um animal sobrevivente, pressente e cheira o perigo e, camaleonicamente, altera suas cores em tempo de escapar da predadora urna eleitoral.
Não foi diferente desta vez. Com o vice-presidente, o presidente do Senado, da Câmara Federal e seus ministros, apresentou uma banda do governo que tem competência, e deixa claro que existem muitos mais “gestores capacitados”, se for necessário. Foi como dizer que seu barco não avança mais, pelo fato de navegar num denso mar de lama, sem os ventos da estabilidade política e econômica.
A fala de Temer é marcante e elucidativa: "O PMDB fez as suas escolhas; a primeira delas é a reforma política de verdade, a outra é prestigiar a liberdade plena de informação. Também é nosso propósito defender a iniciativa privada"
Pronto, se houvesse público interessado em acompanhar as propagandas políticas que enfiam goela abaixo do povo, e aos que conseguiram controlar os engulhos e acompanhar a bem montada peça publicitária, caso o impeachment da presidente Dilma Rousseff do PT, que parte da população pretende, ganhe proporções, o PMDB deixou claro que o país não enfrentará graves riscos e que o país tem um vice mais capacitado, e com melhor equipe, que a titular.
Mas, são apenas conjecturas. Segundo Fernando Neisser, mestre pela Faculdade de Direito da USP, e Renato Ribeiro de Almeida, especialista em Direito Eleitoral, consultados pelo site Catraca Livre, Dilma Rousseff só poderia ser cassada por um eventual crime cometido no mandato atual, ou seja, a partir de 1 de janeiro de 2015. Mesmo denúncias de quando ela foi ministra ou no mandato de 2010 a 2014 não serviriam de base para o impeachment.
Mas num país onde harmonia e a independência dos poderes chegam a soar estranha frente aos fatos, a desonestidade dos amigos pode ser enaltecida como patriotismo, afinal vale a máxima de “para os amigos tudo, para os inimigos a Lei”, tudo pode acontecer. Resta o consolo de, caso Michel Temer venha a assumir a presidência por impedimento da titular Dilma, o país terá uma das mais lindas primeiras-damas do mundo, Marcela Tedeschi.