"Não acreditem em tudo o que eu falo". Esta frase, desculpa amarelada é muito comum para grande parte dos políticos, poderia ser acrescentada às românticas argumentações do prefeito Alcides Bernal (PP) e do vereador Marcos Alex (PT) para contar o relacionamento que vêm protagonizando nos últimos anos, especificamente nos capítulos em que a amizade e os interesses na vida publica sofreram abalos. Para avaliar isso, é necessário situá-los em dois momentos recentes.
Dia 4 de dezembro de 2015. Irritado com a aberta e malcriada insatisfação dos vereadores petistas que ameaçavam deixar a base governista, Bernal reagiu às críticas de seu antigo líder na Câmara, Marcos Alex, atacando-o. Disse, textualmente: “Alex não será mais meu líder. Não tem condições, até por conta do comportamento agressivo dele. Não serve para ser líder”. No mesmo dia, Alex rebateu. Em nota oficial, considerou infeliz a declaração do prefeito e ainda afirmou, textualmente: "Acho que neste momento, Bernal, não precisa de um líder, mas de um médico 24 horas por dia. Um prefeito que agride um vereador que lutou, quase que solitariamente, para que ele não fosse cassado, só pode estar sofrendo de amnésia ou de problemas psíquicos. Não há outra explicação”.
Dia 6 de janeiro de 2016, exatamente 22 dias depois da troca de diagnósticos nada meritórios, o “inservível” Alex e o “louco” Bernal se encontraram, amistosamente e aos sorrisos no gabinete central da Prefeitura. Os três vereadores da bancada petista estavam sendo recebidos por Bernal, mas a atenção principal recaía sobre Alex, o ex-líder e, como ele próprio afirmou, empolgado, depois da agenda, um dos nomes disponíveis do PT para a disputa sucessória.
Na nota que divulgou em dezembro para contra-atacar Bernal, o vereador foi implacável e não economizou no vocabulário depreciativo. Enfatizou que era chegada a hora de o prefeito tomar “o popular chá de desconfiômetro”. E ainda sugeriu com sarcasmo a inércia do administrador, disparando assim, na íntegra: “Está na hora de Bernal acordar e governar a cidade, ao invés (sic) de passar o dia todo atrás de inimigos e sabotadores. Não é mais possível tolerar, calado, um prefeito que acredita no cúmulo de que populares acordam pela madrugada, com uma picareta nas costas, para furar buracos nas já esburacadas ruas de nossa capital”.
Alex, de maneira sutil e ardilosa, insistia em taxar Bernal de desequilibrado, pois reportava-se às desculpas do prefeito, que para reagir às reclamações contra a precariedade das vias publicas, insistia na versão de que adversários abriam buracos na cidade apenas para desgastar sua administração.
Alex, é essencial destacar, manteve-se fiel escudeiro a Bernal antes, durante e depois de sua cassação. Foi líder do prefeito cerca de um ano e nesse tempo todo não conseguiu estabelecer com Bernal uma relação de proximidade compatível com a função política o antigo laço afetivo. Tomou chá de cadeira e, pior, não conseguiu concretizar as demandas de sua bancada e do partido junto ao Executivo, especialmente no preenchimento de cargos. Uma das exceções nesse capítulo foi quando Bernal designou a vereadora Thaís Helena para comandar a secretaria de Assistência Social, abrindo vaga para a investidura de Alex, o primeiro suplente. Hoje, a vaga dele é definitiva, desde a posse de Zeca do PT como deputado federal.
Todos os convivas do agitado e sorridente encontro de quinta-feira passada exibiram-se para as câmeras como se estivessem no melhor dos mundos. Exultantes, acariciavam até a hipótese de um amplo entendimento político-eleitoral, tão amplo que os petistas já desenham uma composição de chapa com Bernal e, em outra hipótese, lançar chapa própria, tendo Alex entre as alternativas para concorrer ao Paço. Só não se sabe ainda se pela cabeça do prefeito que precisa de um médico 24 horas por dia passa o desejo de repatriar para sua liderança na Câmara um vereador inservível.