26 de dezembro de 2024
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CONTRAGOLPE

Operação que prendeu militares levará Jair Bolsonaro à cadeia

Plano era matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, diz petição

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A Polícia Federal (PF), ao deflagrar a Operação Contragolpe, na terça-feira (19.nov.24), apresentou uma petição à Suprema Corte do Brasil solicitando a prisão preventiva de acusados de conspirar para que Jair Bolsonaro (ex-presidente) aplicasse um golpe de Estado após sua derrota nas urnas em 2022.

A seguir, a lista de criminosos presos:

Além disso, a PF solicitou a realização de buscas e apreensões em Lucas Garellus, Rodrigo Azevedo e Wladimir Matos Soares, e busca pessoal em todos os investigados.

QUEM SÃO OS PRESOS?

Foto: Rafael Martins de Oliveira, Hélio Ferreira Lima, Rodrigo Bezerra de Azevedo e Mario Fernandes / Arquivo pessoal e Eduardo Menezes/SG/PR  envolvidos no plano para matar Lula, Alckmin e MoraesDa esquerda para a direita: Rafael Martins de Oliveira, Hélio Ferreira Lima, Rodrigo Bezerra de Azevedo e Mario Fernandes. Foto: Arquivo pessoal e Eduardo Menezes/SG/PR – envolvidos no plano para matar Lula, Alckmin e Moraes

Mário Fernandes, general e ex-secretário de Bolsonaro, foi uma das principais figuras por trás das tentativas de golpe após a derrota nas eleições de 2022. Ao lado de Bolsonaro ele queria agir rapidamente e mobilizar sua base de apoio para desestabilizar o novo governo.

Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel, também esteve envolvido em reuniões golpistas, sugerindo estratégias para neutralizar o ministro Alexandre de Moraes, até com a possibilidade de violência.

Rafael Martins de Oliveira, major do Exército, participou da articulação golpista em um grupo de WhatsApp e ajudou a financiar ações para mobilizar os bolsonaristas nas ruas.

Rodrigo Bezerra Azevedo, major e ex-integrante das Forças Especiais, coordenou uma milícia digital que espalhava fake news e fomentava a resistência ao novo governo. Esses militares tiveram um papel fundamental nos eventos que culminaram nos distúrbios de 8 de janeiro de 2023, em Brasília.

ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA 

Jair Bolsonaro será próximo preso na Operação Contragolpe.  Foto: Isac Nóbrega/PRJair Bolsonaro será próximo preso na Operação Contragolpe.  Foto: Isac Nóbrega/PR

A PF informou que a organização criminosa estava dividida em cinco eixos:

  1. Ataques virtuais a opositores;
  2. Ataques às instituições (STF, TSE), ao sistema eletrônico de votação e à integridade do processo eleitoral;
  3. Tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  4. Ataques às vacinas contra a Covid-19 e às medidas sanitárias da pandemia;
  5. Uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens, que se subdivide em:
    • Uso de suprimentos de fundos (cartões corporativos) para despesas pessoais;
    • Inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde;
    • Desvio de bens de alto valor entregues por autoridades estrangeiras a Jair Bolsonaro ou a agentes públicos a seu serviço, visando enriquecimento ilícito.

A Procuradoria-Geral da República se manifestou a favor das medidas cautelares solicitadas pela PF.

Essa operação poderá levar Jair Bolsonaro à prisão nos próximos meses, por ter organizado um golpe de Estado para se manter no poder. A íntegra da petição.  

CRONOLOGIA DA AÇÃO CRIMINOSA

As atividades anteriores ao evento de 15 de dezembro de 2022 indicam que o monitoramento começou após a reunião na residência de Walter Braga Netto, em 12 de novembro de 2022. Foto: Alan Santos/PRAs atividades anteriores ao evento de 15 de dezembro de 2022 indicam que o monitoramento contra Moraes começou após a reunião na residência de Walter Braga Netto, em 12 de novembro de 2022. Foto: Alan Santos/PR

Novembro de 2022:

A investigação revela que ações ilícitas, conduzidas por militares com formação em Forças Especiais, começaram a tomar forma. O grupo criminoso planejava um golpe de Estado, inicialmente monitorando o Ministro Alexandre de Moraes, com o objetivo de sua prisão ilegal ou até execução. O foco era impedir a posse do governo legitimamente eleito (Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin), restringindo a democracia e o Poder Judiciário.

1ª semana de dezembro de 2022:

As ações se intensificaram com o desenvolvimento do plano para o golpe. O então presidente Jair Bolsonaro fez ajustes no projeto do golpe. Trocas de mensagens entre Mauro Cid e Marcelo Câmara indicaram que estavam monitorando o Ministro Alexandre de Moraes para facilitar sua prisão ou execução, caso o golpe fosse consumado.

9 de dezembro de 2022:

Reunião entre Bolsonaro e o General Estevam Theóphilo, comandante do COTER, no Palácio do Planalto. A reunião teve como objetivo reforçar o apoio militar ao golpe. A PF indica que o general concordou em apoiar as ações, desde que Bolsonaro assinasse o decreto preparado para isso.

10 de dezembro de 2022:

Marcelo Câmara enviou mensagens a Mauro Cid detalhando o monitoramento do Ministro Alexandre de Moraes, especialmente em relação à diplomação de Lula, marcada para 12 de dezembro de 2022. O grupo criminoso observava o evento para possíveis ações ilegais.

12 de dezembro de 2022:

Mensagens entre Mauro Cid e Marcelo Câmara indicaram que a operação contra Moraes estava em andamento. Por volta das 12h58min, Cid escreveu “Nada”, e Câmara respondeu “Ainda não”. Mais tarde, Marcelo Câmara indicou que "O cara está assustado", referindo-se ao Ministro Moraes.

13 de dezembro de 2022:

O prefixo telefônico vinculado ao codinome "Gana" se deslocou de Goiânia/GO para Brasília/DF, passando por áreas de interesse para a ilegal detenção de Moraes. O foco estava em locais próximos ao endereço de Moraes e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

15 de dezembro de 2022:

Deslocamento de veículos e prefixos telefônicos para Brasília, incluindo veículos de Rafael de Oliveira e do Batalhão de Ações de Comandos (BAC). A PF identificou que uma operação clandestina para prender ou executar o Ministro Alexandre de Moraes estava em andamento. Técnicas militares típicas de uma operação de Forças Especiais foram usadas, mas com um caráter antidemocrático.

DIÁLOGOS GOLPISTAS

Entre novembro e dezembro de 2022, Mário Fernandes manteve intensos diálogos com militares sobre temas golpistas, especialmente com o Coronel Reginaldo Vieira de Abreu, com quem discutiu a "live argentina" para alegar fraudes nas eleições de 2022. Fernandes também mencionou sua colaboração com outros generais, como Vergara e Laerte, e explorou estratégias como o uso de adidos militares para disseminar propaganda. Ele ainda compartilhou com o General Ramos e com Hélio Osório Coelho (líder evangélico) sobre a propagação de falsas alegações de fraude, relacionadas à mesma live. 

As investigações confirmaram a participação de figuras de destaque no Exército, como o tenente-coronel Mauro Cid e o major Rafael Martins de Oliveira, em ações para desestabilizar o governo e prender um ministro do STF.

Em novembro de 2022, Cid, Oliveira e outros militares discutiram, em reunião, a logística e os custos de ações clandestinas. No dia 14 de novembro, Oliveira questionou Cid sobre o progresso dos planos, indicando movimentações para reunir apoio, incluindo mobilização no Rio de Janeiro.

Em uma troca de mensagens de 15 de novembro, Oliveira enviou um documento intitulado "Copa 2022", que parecia estimar gastos relacionados a ações clandestinas. A PF sugere que o documento visava subsidiar operações nos meses seguintes, sem especificar alvos ou a natureza das ações. Em outras mensagens, os envolvidos discutiram o uso de códigos e a movimentação de recursos, com referências a R$ 100.000,00 para cobrir custos de hospedagem, alimentação e material.

A investigação também revelou a criação de um grupo no aplicativo SIGNAL, no qual os integrantes usavam codinomes como "Alemanha", "Áustria" e "Brasil". A PF identificou que os números usados pelos membros do grupo foram ativados em Uberlândia/MG, sugerindo uma coordenação cuidadosa.

LIGADOS A GOLPISTA

A PF identificou que o Tenente-coronel Rafael de Oliveira fez contato com outros militares, como:

  • Coronel Daniel Capell Arias Silva (4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada);
  • Dermário da Silva (Comandante do Centro de Instrução de Operações Especiais - CIOPEsp);
  • Capitão Lucas Guerellus (1º Batalhão de Forças Especiais);
  • Coronel Gilvan Nascimento Santos Junior (Comando de Operações Terrestres - COTER).

Em 15 de dezembro de 2022, mensagens entre membros do grupo indicaram preparações para uma ação em Brasília, possivelmente visando a prisão do Ministro Alexandre de Moraes. A PF solicitou medidas cautelares, como a quebra de sigilos telemáticos e bancários, contra os investigados.

PLANEJAMENTO DO GOLPE

A Polícia Federal destacou o estágio avançado do planejamento de um golpe, conforme encontrado em documentos apreendidos. O planejamento detalhava a neutralização do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Ministro Alexandre de Moraes, além de um regime favorável a ideologias de extrema direita. A planilha do golpe descrevia ações de desinformação, operações militares e medidas para garantir a legalidade de um novo processo eleitoral, com foco na perpetuação do poder de Bolsonaro.

A investigação também revelou que o golpe incluía a prisão de juízes do STF e a criação de um "Gabinete de Crise" com a participação de militares para restabelecer a legalidade, além de coordenar um novo pleito eleitoral sob o controle dos golpistas.

PARTICIPAÇÃO DE MÁRIO FERNANDES

A investigação revelou o papel de Mário Fernandes, General de Brigada na reserva e ex-Chefe Substituto da Secretaria Geral da Presidência, como um dos principais articuladores do golpe. Fernandes defendia a necessidade de medidas radicais para garantir a permanência de Bolsonaro no poder, incluindo ações para subverter a ordem democrática.

OPERAÇÃO "TEMPUS VERITATIS"

Após as eleições de 2022, a Operação "Tempus Veritatis" revelou a participação de Mário Fernandes em planos de execução de figuras-chave do governo eleito, incluindo o Ministro Alexandre de Moraes e os presidentes eleitos Lula e Alckmin. Fernandes foi identificado como um dos principais responsáveis por coordenar atos golpistas e fornecer apoio material e financeiro aos manifestantes no QG do Exército.

Com o avanço das investigações, a Polícia Federal identificou a crescente organização golpista que buscava desestabilizar as instituições democráticas e instaurar um regime autoritário no Brasil.