Tenho quatro irmãs professoras e foram elas que me chamaram a atenção: o PSDB tem ódio pelos professores. Vejamos por quê: em 1988, portanto, 27 anos atrás, o PSDB do então governador Álvaro Dias (hoje senador pelo PSDB/PR) jogou a cavalaria da PM para cima dos professores do estado do Paraná. Foi um episódio lamentável e até hoje é lembrado, em manifestações, no mês de outubro, pelos professores daquele estado.
Anos depois, Fernando Henrique Cardoso, professor-doutor da USP, assumiu a Presidência da República e praticamente privatizou o ensino universitário brasileiro, além de achatar salários, destruir conquistas históricas e quebrar o encanto de gerações com o seu discurso de intelectual “de esquerda”, que inexplicável e contrariamente mudara ao optar pelas elites retrógradas, como é feito há cinco séculos...
Os professores do estado de São Paulo estão em greve há mais de mês, e o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, recusa-se a negociar com eles. A postura dele é a mesma dos que criminalizaram, durante o regime de 1964, o movimento estudantil, sindical e comunitário em todo o país. Alckmin expressa melhor que qualquer outro “cardeal” tucano como não se resolver – mas agravar – as questões sociais ao governar por quase três décadas o estado mais rico do país e piorar a qualidade de vida por lá.
No mês passado, precisamente no dia 29 de abril, o governador do Paraná, Beto Richa, um playboy como Aécio Neves, massacrou os professores estaduais com a PM, com cachorros, gás de pimenta e gás lacrimogêneo. Ao contrário de Álvaro Dias, ele não usou os cavalos para pisotear os professores. Menos mal. Richa, que também é do PSDB, está metendo a mão no fundo de previdência dos servidores públicos estaduais. Lembram-se do confisco da poupança do Collor? É um confisco parecido, amealhando direitos líquidos e certos.
Da Arquidiocese de Curitiba, que é conservadora, ao “New York Times”, jornal norte-americano que nada tem a ver com a nossa realidade, foi unânime a condenação ao massacre de Beto Richa. Uma rara unanimidade, aliás. Pena que não seja por motivos que nos encham de orgulho, como uma democracia construída com muito sacrifício.
A propósito, como andam as negociações do novo governador Reinaldo Azambuja, do PSDB, com os servidores e com os professores do estado? Até onde se pode ver, um diálogo de surdos. A bem da verdade, a depender da performance dos dois últimos mandatos do ex-governador, uma relação nada diferente em relação ao Paraná e São Paulo, estados em que professores e funcionários públicos têm que pedir perdão por existirem.
Era assim, também, no tempo das oligarquias regionais, quando a política café com leite reinava em todos os quadrantes do território brasileiro, inclusive no velho Mato Grosso. Getúlio Vargas acabou com essa pouca vergonha, ao instituir o DASP (Departamento Administrativo do Serviço Público), extinto no governo de Fernando Collor de Mello. Juscelino Kubitschek e João Goulart, por seu turno, valorizaram a carreira do magistério e do serviço público, diversamente proporcional aos que se dizem discípulos de seu legado aqui em Mato Grosso do Sul: basta ver o placar eletrônico da Câmara Federal na melancólica sessão que aprovou o projeto de lei que legaliza a precarização do trabalho, ao liberar a terceirização às atividades-fim nos setores privado e público.
(*) Semy Alves Ferraz é engenheiro civil, ex-deputado estadual e ex-secretário de Infraestrutura, Transportes e Habitação de Campo Grande.