A mais recente e reservada reunião entre lideranças da cúpula dirigente serviu para demonstrar, com nitidez, o impasse que pode levar o PMDB a um novo processo interno de disputas e conflitos, tendo como pano de fundo o controle do partido e a indicação de quem será o candidato à Prefeitura em 2016. Na presença do ex-governador André Puccinelli e vários parlamentares, o ex-prefeito Nelsinho Trad afirmou não ter intenção alguma de candidatar-se, transferindo para o partido a responsabilidade de indicar Marquinhos Trad, seu irmão, para ele o melhor nome.
A afirmação de Nelsinho foi em resposta a uma interpelação do deputado federal Carlos Marun, um dos “prefeituráveis” peemedebistas. Dirigindo-se a Nelsinho, o ex-deputado perguntou se o ex-prefeito, sendo uma das opções naturais, alimentava a vontade de entrar na disputa sucessória. “Eu não sou e nem serei candidato. A bola da vez é o Marquinhos” tinha, disse, segundo segredou um dos participantes do encontro.
?Para ser candidato, porém, Marquinhos precisa ter o apoio de Puccinelli e, com isso, o controle orgânico da legenda. As bases partidárias fiéis ao ex-governador e cientes de suas diferenças com a família Trad não veem com bons olhos essa hipótese, sobretudo após veículos da imprensa local publicarem que Puccinelli estaria disposto a ceder e dar o controle do PMDB a Marquinhos Trad, o deputado estadual mais votado e o melhor colocado nas pesquisas de intenção de voto feitas até agora.
O líder da bancada na Assembleia Legislativa, deputado Eduardo Rocha, já se insurgiu contra a solução, por entender que Marquinhos Trad já não tem mais identificação com o PMDB e está na linha politicamente oposta a Puccinelli. Além disso, é corrente que para Marquinhos Trad candidatar-se precisará ter o aval de um partido cujo controle não é seu e a homologação de seu nome depende de aprovação dos convencionais, cuja maioria, de acordo com levantamento dos dirigentes, é fiel a Puccinelli.
Marquinhos tem a opção de buscar outra legenda para ser candidato a prefeito. Porém, não pode correr o risco de ser processado por infidelidade partidária e ficar sujeito à perda do mandato. Enquanto não encontra segurança jurídica para tornar-se independente do vínculo com o PMDB, apega-se à perspectiva de assumir o controle do partido e, na condição de líder das pesquisas, quebrar a resistência dos que se opõem a seu nome, convencendo-os que é a garantia para a retomada da hegemonia peemedebista na capital do Estado.
Tudo isso se processa num quadro ainda complexo e com incógnitas desafiadoras, entre as quais o mistério sobre o real projeto de Puccinelli, considerado solução inquestionável para devolver ao partido o comando político-administrativo de Campo Grande. Dividido entre os afazeres familiares e o papel de guru e conselheiro político, oi ex-governador não dá sinais concretos sobre como responderá aos apelos da militância para que assuma de vez o papel de pré-candidato. Só se sabe que depois da declaração de Nelsinho à pergunta de Marun uma enorme interrogação aflige as lideranças peemedebistas, atentas ao clamor das bases. Foi, segundo a leitura de muitos, uma despedida de Nelsinho Trad da fidelidade cartesiana aos projetos de Puccinelli e ao próprio PMDB.