21 de dezembro de 2024
Campo Grande 25ºC

Editorial

Impeachment de Dilma representa sério risco para o futuro da democracia

O PMDB talvez, e apenas talvez, seja o único partido a quem interessa o impeachment da presidente.

A- A+

O propalado, divulgado e exorbitado pedido de impeachment para a presidente Dilma Rousseff (PT) é a exata tradução do “bicho papão”, usado para atemorizar criancinhas penalizando-as em caso de malfeitos, traquinagens ou aporrinhações não suportadas por adultos. No caso Dilma, o bicho papão está sendo usado para mantê-la acuada, desestabilizada, refém.

O presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ainda que o tenha feito em outro contexto, acertou ao dizer que o povo brasileiro é conservador. A partir dessa assertiva é fácil quantificar o grau de conservadorismo da Casa que comanda e do próprio Congresso, como um todo. E os retrógrados têm por hábito criar temores e aventar improváveis golpes contra o mundo.

Mas, e o impeachment?

Em caso de impedimento da presidente assumiria um PMDB meia-boca, conivente e participativo de todos os esquemas de corrupção neste e nos governos anteriores. Não seria definitivamente o bem, quando muito, um mal menor, hoje, porque no futuro, com certeza provocaria um retrocesso maior em nossa claudicante democracia.

E o modo de pensar desse eleitorado “conservador” é o seguinte:

“Se mudar as estruturas, muda grande parte da máquina pública, de ministros até os convocados ou nomeados. Isso gera custo e um séquito de pessoas que pretendam se locupletar, desviando ainda mais o dinheiro público, afinal, querem ganhar o que os outros já ganharam, tirar sua parte no quinhão”.

Não deixam de ter razão. Para quem observa a política brasileira que vai além dos políticos, é comum observar que as marolas do mar de lama são provocadas pelos que caminham ou se instalam no arredor do político, aquele que ocupa os holofotes.

E o impeachment beneficiaria um único partido e algumas agremiações nanicas e negociáveis. Sequer para a oposição seria vantagem. Para a democracia seria um desastre.

Impedida a presidente Dilma, assumiria o posto seu vice, Michel Temer (PMDB-SP) escudado pela comoção popular, que arrastaria consigo pelo menos a grande massa de deputados do baixo-clero, menos esclarecidos e mais adeptos do “tudo pelo voto e abaixo as verdades”.

Michel Temer teria, a princípio, um cheque em branco passado pelas manifestações das ruas; seja sobre caminhões, automóveis, tratores, motos, bicicletas, ou mesmo a pé; e todas as suas ações, possível de retrocessos nos avanços conquistados a trancos e barrancos. E para tudo teria uma explicação lógica e o benefício da dúvida.

Para as medidas econômicas duras, porém necessárias, o apoio de todos. Pior do que uma derrota nas urnas, seria a satanização imposta ao governo petista de Dilma. Eles destruíram com o apoio do voto que vocês deram, agora teremos que reconstruir ainda que utilizando dos excessos que nos permite a ciência econômica.

O fato de o PMDB ser copartícipe de todos os escândalos, e caso se comprovem nomes da alta cúpula partidária, seriam lançados como boi de piranha para um bem maior: o poder.

E não se pode negar que o PMDB possui em seus quadros pessoas capacitadas para as mais diversas áreas, o suficiente até para deixar o céu carregado e pintar nele um lindo arco-íris.

E depois?

Mas e o futuro da democracia? Quanto de atraso isso representaria no caminhar por suas próprias pernas a nossa democracia que ainda gatinha? Estas são as questões a se pensar quando se pretende compor um samba do criolo doido, dando, por meio do impeachment, uma característica de parlamentarismo para um regime presidencialista.

E as eleições? Como se poderá julgar o trabalho de um grupo que veio para determinado fim sem que isso indique que implique ou signifique as mudanças que o país necessita. Buscando um pouco do expediente apreciado pelo ex-presidente Lula, e partindo para um comparativo elucidativo, é como buscar um técnico de futebol para uma equipe de futebol em vias de rebaixamento e acreditar que este mesmo técnico tenha condições de comandar o time para conquistar o campeonato mundial interclubes.

Estamos sendo levados a confundir alhos com bugalhos. Que os envolvidos respondam à Justiça pelos seus erros, e que a Justiça consiga se desvencilhar de quaisquer laços com os outros dois poderes.

Em fevereiro, o jornal Britânico Financial Times listou 10 motivos para o impeachment de Dilma, entre os quais a Petrobras, crise econômica, problemas hídricos e de energia, desmantelamento das bases no Congressos etc. No entanto, economista é radicalmente lógico, diferente dos cientistas sociais que possuem uma visão mais abrangente e descartam essa possibilidade. “Incompetência, por si só, não é motivo para o impeachment”, diz acertadamente Peter Hakim, presidente emérito do instituto de análise política Inter-American Dialogue, em Washington.

Oposição

Para a oposição, o melhor cenário é com Dilma Rousseff no poder, desgastando sua imagem e, mais importante que isso, desgastando a imagem do PT. No momento, é vantagem para a oposição; e até para o PMDB, se o partido não tivesse uma sede insaciável de estar no poder ou perto dele; que Dilma tome as impopulares e difíceis medidas de austeridade e seja responsabilizada por elas.

Some-se a isso os erros na política externa, as perigosas parcerias com pseudo-ditaduras esquerdistas do continente americano e das ditaduras africanas, aos escândalos que se sucedem, as críticas generalizadas até de antigos aliados, as benesses aos amigos com dinheiro do BNDES etc., não há motivo para que se apague o holofote que ilumina e destaca os erros do governo Dilma Rousseff (PT).