24 de abril de 2025
Campo Grande 23ºC

NEUTRALIDADE GOLPISTA

Hugo Motta 'sobe no muro' sobre PL da anistia aos golpistas

Motta vinha sendo visto como alguém disposto a manter a proposta fora da pauta, mesmo diante das tentativas da bancada bolsonarista de forçar sua tramitação

A- A+

A atmosfera política na Câmara dos Deputados mudou drasticamente nas últimas horas, deixando Brasília em estado de alerta. A possível inclusão do Projeto de Lei que propõe anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro voltou a ganhar força depois de sinais contraditórios vindos do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Até recentemente, o entendimento era de que Motta não colocaria a proposta em votação. Mesmo sob forte pressão da ala mais radical da direita, ele vinha mantendo um discurso de recusa a pautar o projeto, especialmente em regime de urgência. Porém, uma postagem feita por ele nas redes sociais nesta terça-feira (15.abr.25), durante uma viagem fora da capital, reabriu o debate e gerou dúvidas sobre seus próximos passos.

Sem mencionar diretamente o projeto, Motta declarou que as decisões sobre o andamento das pautas devem passar por consulta com os líderes partidários. Ao fazer isso, ele praticamente transfere a responsabilidade sobre o futuro do texto para o Colégio de Líderes da Câmara — o que, na prática, pode abrir caminho para que o projeto avance, caso tenha apoio suficiente entre os chefes de bancada.

“Democracia é ouvir o Colégio de Líderes”, escreveu ele, em uma fala genérica que muitos interpretaram como um gesto de neutralidade estratégica — ou até mesmo como um recuo frente à pressão. A movimentação causou surpresa, já que, até então, Motta vinha sendo visto como alguém disposto a manter a proposta fora da pauta, mesmo diante das tentativas da bancada bolsonarista de forçar sua tramitação.

Nos bastidores, surgiram duas interpretações principais sobre a mudança de tom. Uma delas aponta que o presidente da Câmara estaria tentando se descolar do custo político de decidir sozinho sobre um tema tão sensível, especialmente considerando os riscos de desagradar qualquer dos dois lados: a base governista ou o bloco conservador. Outra leitura sugere que Motta estaria cobrando uma reação mais firme do governo Lula, indicando que o Planalto precisa se mobilizar para conter o avanço da proposta entre os partidos aliados, muitos dos quais ocupam cargos no Executivo.

Na véspera, a perspectiva era de que o PL da Anistia perderia força, após declarações públicas de figuras importantes, como o ministro Gilmar Mendes, do STF, que criticou a proposta. No entanto, a nova sinalização de Motta redesenhou o cenário e trouxe de volta a possibilidade de a proposta começar a tramitar oficialmente.