Heitor Miranda dos Santos, ex-prefeito de Porto Murtinho, irmão do ex-governador e deputado eleito Zeca do PT, foi velado das 12h às 15h30 desta 5ª.feira (24.nov.) no Cemitério Jardim das Palmeiras, Vila Nasser, em Campo Grande (MS). Heitor faleceu ontem (23.nov) no hospital Unimed.
Centenas de pessoas faziam fila numa das capelas no local para dar o último adeus ao político de 69 anos. Antes de sair do local, abraçavam Zeca, que estava sentado a uma cadeira na porta de saída da capela.
Muito emocionado, o deputado era confortado pelos sobrinhos, netos e esposa Gilda Gomes dos Santos, que estava sentada ao lado do marido.
“O sentimento que, com certeza todos que aqui estão têm é que nós perdemos uma grande figura. Dos irmãos sobram só Alípio e eu, três já se foram com o Heitor. As irmãs, os cunhados, as cunhadas, sobrinhos, sobrinhas perdem uma figura alegre que orientava a todos, que motivava a todos e que apontava caminhos. Os amigos perdem uma figura que gostava da boa música, do bar, das histórias acerca do Rio Paraguai, de Porto Murtinho, de Mato Grosso do Sul e todo o Brasil, porque Heitor era um homem muito culto”, disse Zeca bastante emocionado ao sair para tomar um ar na porta da capela.
Amigos e personalidades políticas passavam por Zeca e eles com a voz bastante embargada destacavam a importância que Heitor teve para o desenvolvimento da cidade na qual foi prefeito duas vezes (1989-92 e 2012-16).
“Perdem aqueles que sonham, como ele sonhou, com uma América do Sul livre, integrada, solidária, que fosse capaz de superar a pobreza, o esquecimento, a miséria. Para isso, há 30 anos o Heitor mergulhou no coração da América do Sul, para conhecer de perto a realidade do interior do Brasil, da Argentina, Chile, Bolívia e Paraguai. Ele ousou pensar na ideia do caminho para o Pacífico, não como uma saída apenas para o comércio e suas relações, mas como um instrumento de integração do ponto de vista cultural, histórico e humano... das artes da música, da dança, da culinária... Construir um novo momento para América do Sul é o sonho do Heitor. 30 anos depois ele se vai e aquilo que ele sonhou começa a acontecer. Ele foi tido como louco, como enganador que prometia o que era impossível, e esses mesmos que taxavam o Heitor de enganador, de mentiroso, de sonhador, hoje se colocam como os responsáveis pela ideia da integração sul-americana. Então, ele leva com ele tudo, é muita cara a figura do Heitor”, contou o irmão.
Zeca disse à reportagem que Heitor apresentou a ideia do que hoje tornou-se Rota Bioceânica já em 1980. “Me lembro que em 1999, quando tomei posse como governador de Mato Grosso do Sul, Heitor fez uma viagem com um grupo de políticos, empresários do Brasil e do exterior e lideranças sociais, saindo do Chile até Porto Murtinho, mostrando o que ele chamou de ‘novo caminho para o Pacífico’. Na época, um político aposentado, ex-senador da Argentina fez um verso para o Heitor, naquela noite em que comemoramos a chegada deles em Murtinho, que dizia: ‘Os grandes sonhos às sonham os santos loucos, as realizam os empreendedores natos. As criticam os imbecis crônicos e as usufruem do cidadão comum’. Heitor era um desses, um santo louco, capaz de pensar um novo mundo, mais justo, mais humano e solidário”, considerou Zeca.
Três anos mais velho, Zeca disse que admirava a inteligência, interação e capacidade de comunicação do irmão mais novo. "Eles tinham predicados de comunicação que nunca tive, uma capacidade admirável de absorver conhecimentos”, apontou.
O deputado disse que o irmão morreu em razão de um conjunto de doenças que adquiriu nos últimos anos. “Eu o encontrei 3 dias antes de morrer, percebi no semblante dele que ele não queria mais ficar lá. Ele falava para mim: me tira daqui, aqui não é meu lugar, meu lugar é na política, quero falar dos nossos sonhos. Ele queria voltar para Murtinho. A gente fica triste, mas estou honrado de ter tido Heitor como irmão”, finalizou Zeca.
Marcelo Heitor Miranda, o filho mais velho do ex-prefeito disse que todos os adjetivos elogiados como político podem ser transferidos e ampliados para o Heitor pai. "Amoroso, generoso, muito presente e visionário, não só na política, mas na família também. Agradeço a Deus pelos ensinamentos, o legado que ele deixa é forte... todos amavam meu pai, por isso esse grande número de pessoas vieram hoje se despedir dele", considerou.
Como ensinamento máximo, Marcelo diz que Heitor lhe deixa: "Deixa a todos nós o amor pela vida e o amor pela terra dele. Duas frases que marcam a gente desde quando éramos crainças. Tinha duas frases que ele falava que era 'celebrar sua vida e celebrar sua terra. Ele nos educou com uma frase de Tolstói que dizia que não é universal quem não canta sua aldeia, então que ele possa cantar Porto Murtinho lá de cima agora".
A ideia da Rota Bioceânica era pauta recorrente no lar dos Mirandas. "Desde que me entendo por gente, eu nasci em 1981, desde lá ele debate a implantação dessa ideia, na época era chamado de padeiro, louco, vendedor de sonhos... mas ele sempre dizia que Murtinho, principalmente por ser centenária, a vida inteira viveu errada, de costas para o Rio, sendo que o caminho era estar de frente para o rio, então, ele os irmãos argentinos, paraguaios e chilenos propuseram essa ideia. Hoje a ideia está pronta, está funcionando, está licitada a obra da ponte de Porto Murtinho, a parte de asfaltamento totalmente finalizadaEntão, foi uma semente que ele plantou que vai mudar a história daquela região", disse.
Marcelo disse que desde os 5 anos viaja com o pai pelo trajeto da Rota e que agora pretende levar as netas de Heitor para fazer o mesmo percurso. "Ele falava, olha: nós vamos sair daqui e em mil quilômetros vamos estar no Chile. Pretendo levar minha filha agora, a netinha dele, para ela sobre tudo o que avô tanto falava", completou.
Presente na cerimônia, a vereadora de Campo Grande e deputada federal eleita pelo PT Camila Jara avaliou a importância de se valorizar a história de figuras políticas como Heitor. "Eu cresci vendo os trabalhos sendo desenvolvidos pelo Heitor e Zeca, principalmente nos feitos da área social. Até hoje estamos discutindo projetos idealizados por ele, estamos discutindo na Câmara hoje, por exemplo, a Rota Bioceânica, que vamos levar para Brasília e ampliar o impacto desse projeto", comprometeu-se.
O deputado estadual reeleito do PT, Pedro Kemp, disse que conheceu Heitor de perto na época do governo Zeca, quando Kemp era secretário de educação. "Era um visionário, o recebi várias vezes em meu gabinete. Eu o vi e o conheci como uma pessoa que tinha uma vontade muito grande de contribuir com a coletividade. Além de político, ele era uma pessoa muito querida por todo mundo. Em reuniões do PT ele era muito querido, pois era leve, contava piadas, cantava. Então, acho que ele deixa uma legal de um grande político e amigo".
Kemp ainda avaliou que Heitor é um exemplo de político. "Quem quer atuar na política pode tê-lo como um exemplo de tudo que é bom na política. Ele trabalhava em prol do bem comum, pensando na coletividade. Ele pode ser um exemplo para todos de que é possível fazer política com seriedade, com ética e responsabilidade", acrescentou.
O deputado também lembrou que é preciso lembrar que ele foi um dos grandes defensores da Rota Bioceânica. "Pretendemos discutir depois enquanto bancada do PT, eu, o deputado Amarildo Cruz e o deputado Zeca que vai assumir, uma forma de nós o homenageamos e perpetuamos a memória dele, pensar em nominar algo com o nome dele. Ele merece essa homenagem, precisamos reconhecer a importância dele", finalizou.
A cerimônia de cremação de Heitor ocorreu às 16 no Crematório Campo Grande.