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OPERAÇÃO 3FA

Hacker da Vaza Jato mostra Carla Zambelli como 'peoa bolsonarista'

Criminoso também cita reunião com Jair Bolsonaro

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A deputada federal bolsonarista a Carla Zambelli (PL-SP) pagou para 'testar a qualidade do serviço' de Walter Delgatti Netto, conhecido como o hacker da Vaza Jato. A revelação foi feita por Delgatti, ao ser preso pela 3ª vez nesta 4ª feira (2.ago.2023), na Operação 3FA, da Polícia Federal (PF), que investiga a invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ocorridas de setembro a dezembro de 2022.

O mandado de prisão saiu em razão de que o hacker que possui diversos antecedentes criminais, não possui ocupação lícita, estaria vendendo acesso ao sistema do CNJ. A justiça disse que Delgatti deu um endereço falso à polícia e vinha sendo procurado há meses. Delgatti foi localizado num flat em São Paulo (SP). 

Em depoimento à PF, Delgatti disse que Zambelli foi a mandante e financiadora das invasões. O hacker disponibilizou um extrato bancário que prova que Renan Cesar Silva Goulart e Jean Hernani Gujmaraes Vilela, pessoas próximas à Deputada e atualmente servidores comissionados de seu próprio Gabinete e do Gabinete de seu irmão, o deputado Bruno Zambelli Salgado, transferiram R$ 13,5 mil para a conta da empresa Delgatti Desenvolvimento de Sistemas. Eis: 

A PF disse que após a invasão, Delgatti vendeu acesso à criminosos que por sua vez inseriram falsos Alvarás de Soltura de presos, utilizando falsamente a assinatura eletrônica de Magistrados. 

PEOA DO BOLSONARISMO

Carla Zambelli e o hacker da Vaza Jato. Foto: RedesCarla Zambelli e o hacker da Vaza Jato. Foto: Redes

Nesta 4ª, além de prender o hacker, a PF realizou busca e apreensão na casa e no gabinete de Zambelli. Fez buscas na casa de Renan César Silva Goulart, Jean Hernani Guimarães Vilela e Thiago Eliezer Martins Santos. A ordem foi expedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

Conforme os investigadores, em 4 de janeiro de 2023, Delgatti declarou a autoria da invasão ao sistema informático do Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP) do CNJ. Naquela ocasião, Zambelli escreveu um texto e enviou ao hacker para que ele confeccionasse uma falsa ordem de prisão ao Ministro do Supremo Alexandre de Moraes. 

"O sistema informático do Banco Nacional de Mandados de Prisão do Conselho Nacional de Justiça - BNMP/CNJ foi invadido, sendo inserido falso mandado de prisão em desfavor do Ministro do Supremo Tribunal Federal ALEXANDRE DE MORAES e, posteriormente, expedidos dez alvarás/ ordens de soltura em favor de internos do sistema prisional brasileiro", explica a peça judicial em que consta a ordem de prisão de Delgatti. 

Além disso, o hacker confirmou à PF que encontrou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no Palácio da Alvorada, em que o então mandatário o teria questionado sobre a possibilidade de invadir as urnas eletrônicas. 

Na ocasião, o ex-presidente teria perguntando se com o códigofonte o hacker conseguiria invadir a urna eletrônica. Mas, o plano não vingou porque seria necessário ir até a sede do TSE. 

TRÊS HIPÓTESES 

A mandado de prisão do hacker apresenta apenas 3 teses de como tudo teria ocorrido, duas delas envolve Zambelli. Eis: 

Hipótese nº 1: 
Entre setembro e dezembro de 2022, a partir de Araraquara (SP), Walter Delgatti Neto, a pedido da Deputada Federal Carla Zambelli Salgado de Oliveira, invadiu sistemas informáticos do Conselho Nacional de Justiça, com o objetivo de expor eventuais vulnerabilidades dos sistemas do Poder Judiciário brasileiro, como forma de desacreditar o sistema eletrônico de votação gerenciado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Para tanto, Walter Delgatti Neto recebeu valores em espécie de quantidade ainda não identificada e transferências PIX, estas últimas totalizando R$ 13.500,00, de Renan Cesar Silva Goulart e Jean Hernani Gujmaraes Vilela, pessoas próximas à Deputada e atualmente servidores comissionados de seu próprio Gabinete e do Gabinete de seu irmão.

Hipótese nº 2: 
No dia 4 de janeiro de 2023, a partir de Araraquara (SP), Walter Delgatti Neto, a pedido da Deputada Federal Carla Zambelli Salgado de Oliveira, após invadir sistemas informáticos do Conselho Nacional de Justiça, incluiu Mandado de Prisão em desfavor do Ministro Alexandre De Moraes.

Hipótese nº 3: 
No dia 4 de janeiro de 2023, a partir de local ainda não identificado, pessoa ainda não identificada, possivelmente Thiago Eliezer Martins Santos, valendo-se do acesso obtido aos sistemas do CNJ por Walter Delgatti Neto, inseriu Alvarás/Ordens de Soltura em favor dos custodiados no sistema prisional brasileiro: Cleide Roseane Boettsche; Alexsandro Cavalar Fernandes; Thiago Benhur Flores Pereira; Leandro da Silva Mendes; Thiago Veiga Vaz; Eduardo Viegas Maciel; Sandro Silva Rabelo; Jefferson Fernando da Silva; Leonardo Gomes Dabadia e João Carlos De Sousa.

Acesse aqui a íntegra do depoimento do hacker da vaza jato

NOME DA OPERAÇÃO

O nome da “Operação 3FA” é uma referência à autenticação de dois fatores (2FA), método de segurança de gerenciamento de identidade e acesso que exige duas formas de identificação para acessar recursos e dados, sendo que, tendo os investigados violado o sistema, foi necessária a atuação do Estado (PF, MPF e Judiciário), que atuou na repressão à conduta criminosa e na prevenção a novas ações semelhantes.

O QUE DIZ ZAMBELLI 

(2.ago.23) - Brasília (DF) 02/08/2023 Deputada Carla Zambelli durante coletiva no salão verde da Câmara dos Deputados.(2.ago.23 - Brasília) - Deputada Carla Zambelli durante coletiva no salão verde da Câmara dos Deputados.

Logo após as buscas em sua casa, a deputada bolsonarista falou com jornalistas nesta 4ª feira (2.ago.2023), no salão verde da Câmara dos Deputados. Ela confirmou sua relação com o hacker e tentou livrar Jair Bolsonaro, mesmo assumindo que o ex-presidente teve uma reunião privada com o hacker. Ela negou que tenha 'testado' o serviço do hacker, expedindo op falso mandado de prisão contra Moares: 

"Sou uma deputada séria, eu sei do que é certo e o que é errado e eu acho que eu não participaria de uma piada de mau gosto com Alexandre de Moraes. Eu sei o que pode acontecer com o deputado que brinca com ministros do Supremo Tribunal Federal, haja vista o nosso amigo Daniel Silveira que está preso em Bangu", argumentou a extremista de direita

Apesar de confirmar que apresentou Delgatti à Bolsonaro e que eles tiveram reunião juntos, Zambelli argumentou que nada foi pedido por Bolsonaro. Ela manifestou-se falando de si em terceira pessoa: "Se houver qualquer coisa relacionado ao Walter Delgatti é Carla Zambelli que responde. O presidente Jair Bolsonaro não tem absolutamente nada a ver com isso", declarou.

Zambelli prestará depoimento à PF na próxima 2ª feira (7.ago.2023). Durante a busca e apreensão na casa da deputada, a PF levou 2 celulares, um HD e passaporte.