12 de novembro de 2024
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Flagra em Alceu reacende “caso Olarte” e põe instituições em xeque

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O vereador Alceu Bueno (PSL) e o prefeito Gilmar Olarte (PP) possuem mais coisas em comum que a trama para desalojar Alcides Bernal da chefia do Executivo, cargo para o qual foi eleito democraticamente. Na última semana, prisão de um ex-vereador e um empresário - com a apreensão de vídeos picantes, sustentados por depoimentos de alguns dos envolvidos e que podem comprometer Bueno – traz revelações que acentuam algumas suspeitas que vão na direção de ambos e atiçam os questionamentos sobre implicações – por enquanto sem relação entre os dois -, que não se resumem à política. 

Os dois casos – a cassação de Bernal e o envolvimento de Bueno em mais um escândalo – fazem com que, em princípio, dois poderes, o Legislativo e o Executivo, transformem-se no alvo de impactantes questionamentos da sociedade sobre sua estatura ética, moral e institucional. Assim acontece com o Judiciário e o Ministério Público, que também fazem parte do mesmo teatro de acontecimentos, cada qual com suas atribuições passíveis de ser questionadas. Afinal, a trama política que derrubou Bernal foi investigada pelo Gaeco (Grupo de Apoio Especial Contra o Crime Organizado), e operação policial na caça a integrantes de um esquema que lucrava com chantagem por, supostos, crimes sexuais e resultou na prisão do ex-vereador e advogado Robson Martins.

Olarte e Bueno são, supostamente, citados no âmbito das intervenções policiais e judiciais, com por conta, possível participação direta em crimes de abuso sexual de menores. Há, conforme informações amplamente divulgadas na imprensa, gravações e áudios de qualidade e em considerável quantidade em que os dois políticos seriam citados como pedófilos. As peças documentais reunidas pelo Gaeco, de acordo com informações vazadas a jornalistas,  revelariam que ex-aliados e amigos do prefeito tentaram chantageá-lo com a divulgação de um vídeo em que ele estaria em intimidades sexuais com um adolescente. Da mesma forma, são fartas as evidências do golpe que apeou Bernal do poder. O Judiciário, nesse caso, teve sua isenção desafiada porque manteve no cargo um prefeito (Olarte) que nomeou em seu primeiro escalão os filhos de dois desembargadores da ativa.

Partícipe ativo na quartelada pró-Olarte, o vereador Alceu Bueno carrega em seus ombros uma extensa e pesada relação de acusações, processos e suspeitas. Com certeza, hoje ele é a maior ferida ética da Câmara Municipal, acumulando denúncias e inquéritos de ordem política, empresarial e agora moral. Seu envolvimento com a pedofilia não é apenas uma acusação de duas adolescentes com quem teve relações sexuais. A Polícia está de posse de vídeos gravados pelas próprias meninas, que os utilizavam para a chantagem feita aos seus clientes, segundo as autoridades, pelo ex-vereador Robson Martins e pelo empresário Luciano Pageu. Para completar o enrosco do Legislativo, os vídeos podem incriminar um outro ex-vereador e ex-deputado estadual, Sérgio Assis.

ARTIFICIO - Bueno negou os atos de pedofilia. Mas foi desmentido pelos vídeos e pelas declarações já obtidas pela Polícia. E ele mesmo havia acionado a Polícia para flagrar os chantagistas, um artifício que vem utilizando como argumento de defesa. A extensa ficha de Alceu Bueno ainda não foi suficiente para ser enquadrado pela Justiça. Com seu mandato na corda bamba, graças a uma liminar que suspendeu sua condenação por compra de votos nas eleições de 2012, ele acredita o corporativismo protecionista da Câmara e retempera os apelos místicos e filantrópicos, membro destacado que é da Igreja Mundial do Poder de Deus. Porém, desta vez é o conjunto da obra que o encurrala. A luta é contra os fortes indícios de suas peripécias que, nos detalhes, estão inclusos nas peças processuais e no escopo dos achados do Gaeco e da própria Polícia.

Olarte – cuja investidura contou com a decidida ação de Bueno -, por outro lado, ainda não foi acusado oficialmente de pedofilia, embora alguns de seus mais próximos ex-colaboradores em depoimentos ao Gaeco e à Justiça, no processo que investiga a derrubada de Bernal, tenham informado a justiça sobre o caso.

Porém, não se sabe o que virá pela frente, pois a partir de hoje, quando o delegado Paulo Lauretto cumprir o prometido e revelar tudo que foi apurado na investigação, tanto a Polícia quanto a Mesa Diretora da Câmara viverão uma realidade impositiva em relação à confiança que precisam suscitar na sociedade.

O flagrante policial e a confissão de Bueno que cedeu às chantagens são suficientes para requerer a custódia ao Judiciário. E à Câmara caberá decidir se continua equilibrando-se na corda bamba da credibilidade ou enfrenta à natural disposição de um vereador acuado. Não se pode deixar de lado a hipótese do gesto extremado de quem, ao perceber que não tem saída, resolva ameaçar que pode contar tudo que sabe sobre seus colegas da política e, sobretudo, nesse caso em que há evidências da participação de outras pessoas influentes na cidade.