07 de setembro de 2024
Campo Grande 30ºC

CAMPO GRANDE (MS)

Em 2024, mulheres usarão força das urnas para quebrar antigos tabus

Com primeira candidata feminina eleita para a prefeitura, a tendência é aumentar a concorrência de gênero

A- A+

Campo Grande pela primeira vez, em mais de 100 anos de história, tem uma prefeita gerada pelas urnas. Adriane Lopes, ex-Patriota convertida ao PP e pronta para lutar pela reeleição, é o que se classifica como nome natural para entrar no páreo. Ao assumir o Executivo em abril de 2022, para completar o mandato do titular, Adriane iniciou sua gestão sob generalizada desconfiança. Mas firmou-se e agora, 16 meses depois, ganhou seu próprio espaço entre as grandes lideranças locais.

Ela reúne condições diferenciadas para motivá-la a encarar o desafio. Além da estrutura e da visibilidade inerentes ao cargo que ocupa, conta com o substancial apoio de um partido bem posicionado: o PP é dono de um dos maiores tempos no horário de propaganda eleitoral e sua principal liderança no Brasil, a ex-ministra da Agricultura e senadora Tereza Cristina, é a mais empolgada defensora da candidatura de Adriane.

Outra legenda com boas chances de lançar uma mulher é o PT. Com pelo menos seis nomes, o partido ainda não desenhou preferências, porém a tendência natural é optar pela deputada federal Camila Jara. Outras três já se apresentaram: a advogada Giselle Marques e as professoras Eugênia Portela e Bartolina Ramalho Catanante. Há mais dois nomes disponíveis, os da ex-primeira-dama Gilda dos Santos e da vereadora Luíza Ribeiro.

A galeria de pré-candidaturas femininas na sucessão campograndense não se limita a PP e PT. Outras forças com ou sem tradição na disputa têm suas militantes aptas ao enfrentamento. A ex-deputada e superintendente da Sudeco, Rose Modesto, foi candidata em 2016, levou a eleição ao segundo turno e deu um susto no vencedor, Marquinhos Trad (PSD). Hoje, ela é um trunfo do União Brasil e goza de simpatia entre forças da base do presidente Lula, que não desprezam uma solução com seu nome.

ANTERIORES

Nas eleições de 1988, vencidas pela chapa Lúdio Coelho-Marilu Guimarães, apenas uma mulher concorreu: foi Maria Teresa Rojas Soto Palermo, do PCdoB. Ela foi a última colocada, com 548 votos (0,32%). Em 1996, a solitária candidatura feminina quase chegou lá: Marilu Guimarães encarou o favoritismo de Juvêncio da Fonseca, arrastou o embate para o segundo turno e perdeu por apenas 5.309 votos: ela teve 100.123 e o adversário 115.432.

No ano 2000, mais uma vez uma mulher solita na corrida dominada por homens: Monika Schrader (PV). Que não foi muito bem votada, mas alcançou 16.674 votos (5,09%), o suficiente para superar os candidatos do PPS, Carmelino Resende, e do PL, Bernardo Lahdo. Em 2004, mulheres só tiveram espaço na vaga de vice: Marisa Serrano, com Nelsinho Trad; Nilde Brum, com Dagoberto Nogueira; e Rose Reis, com Suel do PSTU. As urnas fizeram de Marisa a vice-prefeita.

Em 2008, Iara Costa (PMN) foi candidata majoritária e ficou em terceiro, com 15.528 votos (3,84%), à frente de Henrique Martini (Psol), que tinha Ivone Teodoro como companheira de chapa, e de Suel Ferranti (PSTU), com Ângela Silva de vice. Em 2012, duas mulheres concorreram à vaga de vice-prefeita: Fernanda Fialho (PV), na chapa de Fernando Bluma, e Michelle Machado (PSTU), na chapa de Suel Ferranti. Ambos ficaram no primeiro turno.

PULVERIZAÇÃO

O ano de 2016 teve a segunda eleição mais pulverizada na Capital, com 14 concorrentes e o maior número de mulheres (08) nas majoritárias, duas como  cabeça de chapa, Rose Modesto (PSDB) e Rosana Santos (PSOL), que teve sua candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral. As candidatas a vice eram Adriane Lopes (PEN), com o vencedor, Marquinhos Trad (PSD); Juliana Padilha (PSC), com o Coronel David; Maria Freitas (PMB), com Pedrossian Filho; Márcia Mega (Pros), com Lauro David; Adryelle de Paula (PSTU), com Suel Ferranti; e Eclair Arce (PCO), com José Flávio.

A diferença de Trad sobre Rose no primeiro turno (33.956) aumentou no segundo. Ele venceu a adversária com 241.876 votos (58,77%) contra 169.660 (41,23%). A diferença foi de 72.216 votos. O resultado, contudo, foi fundamental para alargar o horizonte democrático de espaços de gênero na política. Tanto que, na sucessão seguinte, a mais concorrida de todas as disputas sucessórias locais, ingressaram no embate das urnas 10 mulheres, duas a prefeita e oito a vice. A psicóloga Cris Duarte (Psol) e a delegada de Polícia Sidnéia Tobias (Podemos) eram as majoritárias de seus partidos.  

As mulheres que concorriam como candidatas a vice-prefeita: Val Eloy (Psol), na chapa de Cris Duarte; Kelly Costa (PDT), com Dagoberto Nogueira; Priscilla Afonso (Novo), com Guto Scarpanti; Carlla Bernal (Solidariedade), com Marcelo Miglioli; Juliana Zorzo (MDB), com Márcio Fernandes; Adriane Lopes (Patriota), com Marquinhos Trad; Dani Duarte (Pros), com Paulo Matos; e Eloísa Castro Berro, com Pedro Kemp. A disputa teve apenas um turno e foi vencida por Marquinhos e Adriane.