“Temos que esclarecer algumas coisas, pois muitas informações veiculadas não são verdadeiras. É preciso separar o que é fato do que é boato”, foi assim que o delegado responsável pela investigação que desarticulou uma rede de prostituição e exploração sexual de menores em Mato Grosso do Sul começou a coletiva de imprensa sobre o caso na tarde de hoje.
Segundo o delegado Paulo Sérgio de Souza Lauretto, hoje a investigação completa um mês. “Tudo começou dia 23 de março quando uma adolescente fugiu de casa em Coxim e mãe registrou boletim de ocorrência”, explica Lauretto.
Conforme Lauretto, Fabiano Viana Otero, de 33 anos natural de Ponta Porã, é peça chave do grupo. Ele foi identificado como principal articulador do esquema e era quem agendava os encontros das adolescentes com políticos. No início da investigação, segundo delegado, a polícia acreditou que uma das adolescentes era namorada de Fabiano, mas depois foi confirmado que ele assediava as garotas para que elas participassem de encontros íntimos com políticos.
Em relação à lista de clientes do grupo, foi confirmado apenas os nomes do vereador Alceu Bueno (PSL) e do ex-deputado Sérgio Assis. Segundo o delegado, é possível identificar com clareza de imagem o vereador Alceu Bueno em encontro íntimo com as adolescentes. Ainda segundo delegado, em um dos vídeos uma das garotas diz ter 15 anos de idade. O vídeo foi encaminhado ontem para instituto de perícia criminalística e o laudo deve ser entregue em 10 dias.
Segundo delegado, as meninas se encontraram duas vezes com Bueno e o último encontro foi no dia 22 de março, um domingo. Os encontros aconteciam, primeiramente, em locais distintos e depois em motéis da cidade.Sobre denúncias recebidas pelo MS Notícias, em 2014, que Alceu Bueno teria, supostamente praticado sexo com adolescentes em Jardim, o delegado disse desconhecer, mas informou que a inteligência da Polícia Civil continua apurando novas informações.
A identidade das adolescentes assim como a atual localização das garotas será mantida em sigilo para garantir a segurança delas, que, segundo o delegado, foram ameaçadas depois do esquema ter sido descoberto e de Luciano e Fabiano terem levado prejuízo estimado de R$ 1 milhão. Lauretto apenas confirmou que uma das adolescentes é de Coxim e outra da Capital.
O esquema tinha como objetivo promover o encontro sexual e registrá-lo por meio de vídeos para depois extorquir os envolvidos. A polícia apresentou o chaveiro com uma micro-câmera embutida que era usada pelas meninas para filmar o ato sexual.
Segundo delegado, a investigação foi mantida em sigilo até dia 16 quando o escândalo veio à tona diante da prisão do ex-vereador Robson Martins e do empresário Luciano Pageu no estacionamento de um supermercado da Capital pela tentativa de extorsão contra Bueno. No entanto, Lauretto explica que para a polícia a presença de Robson no local foi uma surpresa, pois em nenhum momento da investigação ele foi citado.
O delegado explicou que segundo o advogado do Alceu Bueno, o vereador já havia pago R$ 100 mil ao grupo e que no dia do flagrante iria entregar mais R$ 15 mil. Segundo advogado de Bueno, os aliciadores das adolescentes teriam exigido R$ 27 mil, mas Alceu não havia conseguido todo valor.
A fuga de Fabiano foi lamentada pelo delegado, que esperava obter dele mais detalhes do esquema e também identidade de outros envolvidos. “Esperamos que ele se entregue, pois ele poderia esclarecer muitas dúvidas e divulgar nomes de outros envolvidos”, diz Lauretto.
O delegado geral da Polícia Civil, Roberval Cardoso fez questão de deixar claro que assim que soube do fato, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) deu ordens para que todas as informações fossem apuradas sem poupar ninguém.
Robson e Luciano foram presos em flagrante pelo crime de tentativa de extorsão, mas tiveram prisão preventiva decretada e permanecerão detidos na Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos). Luciano, segundo delegado, teve participação ativa no esquema, pois era ele quem levava e buscava as garotas em um Honda Civic Branco. Luciano, no entanto, diz que o articulador do esquema era Robson, que por sua vez, atribui a culpa a Luciano. “São declarações contraditórias, estamos investigando isso”, diz Lauretto.
Alceu e Assis, segundo delegado, serão indiciados por ato libidinoso, forma de exploração sexual cuja pena é de quatro a dez anos de reclusão, mas devem responder o processo em liberdade por terem emprego e residência fixos desde que não interfiram nas investigações. Se isso acontecer pode haver pedido de prisão preventiva. Já Luciano e Robson, que estão presos, e Fabiano, que está foragido, serão indiciados por exploração sexual e coação das adolescentes.