Na noite de ontem, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) ocupou a Tribuna do Senado para analisar a atual situação do país. O petista elogiou as escolhas da presidente Dilma Rousseff (PT) para a área econômica, defendeu a participação da iniciativa privada nos investimentos em infraestrutura e elencou temas que o governo e o Congresso Nacional deverão priorizar no ano que vem nos setores de petróleo e energia.
Delcídio destacou o nome de Nelson Barbosa para o Ministério do Planejamento e o de Joaquim Levy para a Fazenda, ressaltando que os novos ministros trazem tranquilidade a economia, ao manter projetos sociais importantes, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, além de combater a inflação e gerar emprego.
Para o senador, os cortes que serão feitos pelo governo no Orçamento dos próximos anos tornam cada vez mais necessários os investimentos privados em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.
“Nós temos que incentivar a iniciativa privada a participar num momento em que o governo vai ter que puxar as rédeas da economia para que a gente tenha efetivamente confiabilidade, credibilidade e traga investidores para ajudar o nosso país. Eu vejo um cenário difícil em 2015 e 2016, mas a presidenta escolheu pessoas muito bem preparadas, competentes, que defendem um modelo de desenvolvimento em consonância com uma política fiscal rígida. Por isso, não tenho dúvida que vamos vencer os desafios”, disse o petista.
Petrobras -O senador lembrou que o Brasil precisa de investimentos e os problemas que a Petrobras enfrenta estão inibindo esses investimentos, situação que precisa ser revertida. “Acho que o futuro ministro das Minas e Energia terá um trabalho árduo pela a frente. Primeiro, em função do momento que a Petrobras vive. A Petrobras é uma empresa de excelência, construída por brasileiros que dedicaram suas vidas para que ela se tornasse uma das maiores petroleiras do mundo. E se a Petrobras passa por um momento difícil não se pode generalizar por causa de um tratamento incompatível que uma minoria deu à companhia. A Petrobras tem quadros excepcionais e desenvolveu tecnologia de ponta ao longo de sua história. São inegáveis os avanços conquistados. Quanto as irregularidades divulgadas nos últimos meses, a Justiça, com isenção e equilíbrio, vai tomar as providências devidas”, disse. Delcídio lembrou que a Petrobras movimenta um setor importante da economia, que precisa ser preservado. “As empresas que prestam serviço à Petrobras não podem quebrar. A despeito de investigações, as obras estão andando e empregam mais de um milhão de pessoas, fora os desdobramentos que o setor de petróleo e gás traz para a economia como um todo, desde o prestador de serviço até o fornecedor de equipamento e o operário que trabalha na obra. Todos os projetos são grandes alavancadores da economia e hoje vemos uma dificuldade grande com os próprios bancos, que estão contra-indicando investimentos nessas empresas. O Brasil consolidou empresas de alta tecnologia, que têm know-how, que são competitivas e operam no mundo inteiro. Por isso precisamos olhar isso com muito cuidado, para que uma investigação legítima e necessária não prejudique o andamento de obras estratégicas para o país”, ponderou. Pré-sal - Delcídio, que é engenheiro especialista do setor de petróleo, gás e energia, não tem dúvida de que o pré-sal é economicamente viável. “Eu vejo muita gente falar que o preço do petróleo está caindo. Realmente, isso traz uma preocupação para o caixa da Petrobras. Nós estávamos trabalhando com um horizonte de US$100 o barril e hoje o preço está abaixo de US$70 no mercado internacional. Mas o pré-sal é viável porque o breakeven é US$45, aproximadamente. Portanto, se a gente trabalhar com valores acima de US$45 constatamos que o pré-sal é absolutamente viável”, ressaltou. Ele, destacou , porém, que a exploração do pré-sal precisa ser rediscutida pelo Congresso Nacional. “Chegou a hora, até pelo momento que a Petrobras vive, de a gente rediscutir o papel da Petrobras como operadora exclusiva do pré-sal. Será que vale a pena essa exclusividade ? A Petrobras vive um momento de carência de recursos e pelas regras atuais é obrigada a investir 30 % em todos os projetos de exploração do pré-sal, mesmo naqueles em que ela não tem nenhum interesse. Como entrar agora em projetos que talvez não deem um retorno rápido para a companhia? Eu acho que o Congresso, no ano que vem, vai ter que discutir isto. O operador exclusivo é a alma de uma parceria. Será que todas as petroleiras aceitam isso pacificamente? Será que outras empresas que viessem a entrar no pré-sal não gostariam também de ser operadoras exclusivas? Sem dúvida alguma, estes são temas extremamente relevantes , que vão exigir um trabalho grande do futuro ministro de Minas e Energia e dos executivos responsáveis pela Petrobras”, previu. Setor elétrico - O senador está preocupado também com a situação do setor elétrico. “Eu posso falar com tranqüilidade porque trabalhei no setor por muitos anos . Em 2004, fui o relator do novo modelo do setor elétrico, que tinha três pilares: a modicidade tarifária, a universalização e o planejamento. Criamos um programa, o Luz para Todos, que democratizou o consumo de energia elétrica no Brasil, talvez um dos programas mais importantes sob o ponto de vista de inclusão social, que funciona muito bem até agora. No ano passado houve a antecipação das concessões, uma iniciativa absolutamente inquestionável, porque à medida em que há a caducidade das concessões, automaticamente a tarifa iria se reduzir em 20%. Mas, por mais procedente que tivesse sido essa medida, nós enfrentamos dificuldades que não se esperavam, ou não se imaginavam à época, entre elas um período de estiagem muito grande, que levou a um despacho térmico intenso e provocou a elevação das tarifas no mercado livre a R$822 o MWh. Isso levou a uma situação econômico-financeira das companhias absolutamente fora daquilo que se previa e está fazendo com que as empresas de distribuição busquem o sistema financeiro para cobrir o seu déficit , o que nos leva a antever nos próximos meses, uma situação muito parecida com a que enfrentamos em 1987 e 1988, onde o setor de energia elétrica foi levado a fazer um grande pacto entre as companhias. Eu entendo que o momento que o setor elétrico vive hoje é extremamente preocupante pelo tamanho que essa dívida está atingindo. Acredito que teremos que repetir esse pacto agora para garantir a liquidez do setor”, sugeriu. Delcídio destacou que o Brasil não pode viver novos racionamentos de energia. “Não podemos viver de novo problemas como o que tivemos no racionamento de 2001 . Eu conheço esse assunto muito bem, porque , como diretor de Gás e Energia, trabalhamos intensamente na Petrobrás em um programa que o ministro Tourinho chamou de Programa Prioritário de Termoelétricas. Era um programa de mais de 8 mil megawatts e se considerarmos a potência firme da Usina de Itaipu, é mais do que uma Itaipu. O interessante é que hoje esse programa que criamos lá atrás está salvando a pátria, porque as usinas estão operando a plena carga. Ele foi muito criticado à época. O Ministério Público, a Procuradoria-Geral da República questionaram a aquisição de máquinas da GE, da Alston e da Siemens . Mas as aquisições desse tipo seguem uma precificação internacional. Qualquer pessoa que quiser saber quanto custa uma máquina de 100MW da GE é só entrar na internet e verificar. É claro que os preços variam em função da demanda, o que é natural. Naquela época, essas máquinas estavam extremamente demandadas, porque havia problemas de racionamento em vários países, entre eles os Estados Unidos. Mas a realidade é que esse projeto foi implementado e alguns críticos diziam que eles trariam prejuízos à Petrobras , mas hoje ele são um sucesso, proporcionando lucros cada vez mais crescentes ano a ano, mostrando que um projeto arrojado e não compreendido por muitos hoje é um absolutamente reconhecido. Se não fossem essas usinas, nós , sem dúvida alguma , teríamos problemas de racionamento em algumas regiões do país”, garantiu.
Dany Nascimento