A política não pode ser entendida de forma linear dada a sua complexidade. É evidente que cabem críticas à gestão Gilmar Olarte, e elas tendem a ser extremamente ácidas quando o foco recai sobre ações isoladas, enganos e desacertos em cada uma das decisões. Mas se recuarmos o suficiente para um melhor apanhado do horizonte político que culminou com sua posse, e de como se desenvolveu a administração durante seu pouco menos de um ano de governo, seremos surpreendidos.
Olarte foi escolhido para ser vice-prefeito na chapa vencedora das eleições encabeçada por Alcides Bernal (PP), quase num “basta” eleitoral aos 20 anos de administração peemedebista na Capital. Eleito, foi vítima do personalismo de Bernal e relegado a uma sala. Sem função, sem participação, sem voz.
Assistiu, dessa forma, a uma gestão centralizadora, irascível, desconecta e apolítica de um prefeito que tomou a cidade para si, sem equipe, sem a necessária governabilidade que necessariamente deve ter a participação dos três poderes constitucionais, independentes e, sobretudo, harmoniosos. Na administração Bernal, harmonia nunca houve, principalmente em relação à Câmara de Vereadores que se viu engessada.
E a guerra se deu entre o legislativo e o executivo deixando por vítima a população, a administração que ficou totalmente conturbada, e as finanças municipais. A Câmara cumpriu seu papel, como sempre fez em governos anteriores e agiu de acordo com o seu entendimento, cassando o mandato de Bernal na intenção de evitar um mal maior, que naquele momento significava arriscar mais três anos de descontrole de gestão e orçamentário.
A Capital que foi entregue para Olarte administrar já vivia um caos causado por duas administrações capengas. No apagar das luzes do governo de Nelsinho Trad (PMDB), licitações foram canceladas, contratos milionários foram prorrogados por 25, 30 anos (Solurb, Águas Guariroba), o organograma de prestadores de serviço com empresas suspeitas foi estabelecido em uma teia de favoritismo quase impossível de romper (exemplos das empreiteiras – tapa buracos e outras). Obras foram entregues à toque de caixa e antes da eleição para salvar alguma honra e tentar reverter a derrota que se mostrou inevitável, mas de qualidade questionável.
A situação quase insustentável sofreu pela incapacidade administrativa da gestão Bernal, estagnada, letárgica, confusa. Uma ilha habitada por meia dúzia de náufragos comandados por um imediato elevado à posição de capitão.
Gestão possível - Olarte assumiu sabendo que “é sempre melhor dar seguimento à construção do que iniciar uma reforma”, e buscou, com os poucos recursos com que contava, fazer o melhor. Equipe, não tinha; conhecimento de como se desenvolveram os negócios da antiga gestão, também não; conhecimento do rombo econômico, menos ainda; tempo, nenhum.
Apoio do Legislativo – Resta à Câmara, pelo bem da governabilidade, o que significa em última instância o bem da população de Campo Grande, dar o apoio necessário para que as ações que vem sendo tomadas e tentadas pelo prefeito tenham resultado positivo. Não cabe à base de apoio, formada pelos 23 vereadores que votaram pela cassação de Bernal, negociar apoio em troca de benesses.
Mario Cesar (PMDB), o presidente da Câmara Municipal de Campo Grande soube, a tempo, perceber a importância da participação dos poderes para o crescimento da Capital. Propôs a governabilidade e colocou a experiência daquela Casa a serviço do Executivo.
Resgate – De certa forma, e da forma mais certa possível, Olarte conseguiu destravar investimentos, retomar e ampliar o projeto de Revitalização da Região Central, reaver empenhos que haviam sido perdidos, minimizar os problemas de atendimento à saúde pediátrica, reordenar um mínimo das finanças.
Não se pode, então, entender de forma linear o desenhar da política nem apontar o dedo para um único ator numa peça que conta com tantos personagens.