A Lava-Jato, criada há sete anos para investigar poderosos deixou de existir nesta 4ª-feira (3.fev), os investigadores da força vão ser realocados ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Federal (MPF) do Paraná.
A partir de agora, cinco integrantes do Gaeco se dedicarão aos casos que faziam parte do acervo da Lava-Jato. “A força-tarefa paranaense deixa de existir, porém alguns de seus integrantes passam a atuar no Gaeco, com o objetivo de dar continuidade aos trabalhos”, afirmou, em comunicado, a força-tarefa.
Com muitos casos e alvos no Rio de Janeiro (RJ), a Lava-Jato foi prorrogada até março.
Desde o seu início, visando atingir pessoas de cargos do alto escalão, a Lava-Jato de Curitiba deflagrou 79 fases e condenou 174 pessoas. Entre elas estão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o ex-governador Sérgio Cabral, além de diversos atores políticos das últimas décadas como José Dirceu e Antônio Palocci.
Durante as operações a Lava-Jato recuperou R$ 4,3 bilhões por meio de acordos delação premiada e de leniência. Ao todo, esses acordos deverão devolver R$ 15 bilhões aos cofres públicos.
A Lava-Jato também gerou a formação de outras forças-tarefa ao redor do país, com destaque para a do Rio de Janeiro.
A Lava-Jato começou com a investigação de um esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef. Entre os locais utilizados por ele para essa prática estava um posto de gasolina em Brasília, o que deu origem ao nome da operação. Com as investigações, a operação descobriu a participação de uma série de políticos e, eventualmente, de um sistema generalizado de corrupção na Petrobras.
Até 2018, os processos foram conduzidos pelo juiz Sergio Moro. Ele deixou a Justiça Federal no fim daquele ano para assumir o Ministério da Justiça no governo Jair Bolsonaro, cargo que já deixou após alegar interferência do presidente na Polícia Federal. Moro também é alvo de um pedido de anulação dos casos do ex-presidente Lula na Lava-Jato. O petista, com base em troca de mensagens entre Moro e Deltan Dallagnol, então coordenador da força-tarefa, alega que o juiz não era imparcial para julgar o seu caso. O processo corre no Supremo Tribunal Federal e deve ser julgado ainda este ano.
O presidente Jair Bolsonaro falou que a Lava-Jato já não precisa mais existir pois em seu governo, segundo presidente, não há corrupção. Apesar disso, os filhos do mandatário são alvos de investigações, assim como aliados de Bolsonaro do bloco chamado "Centrão". Os chefes no PP e PL, Ciro Nogueira e Valdemar Costa Neto indicaram presidentes e diretores de autarquias importantes do governo federal, eles figuraram em escândalos recentes de corrupção, como o mensalão e a Operação Lava Jato. Roberto Jefferson e Costa Neto chegaram a ser condenados pela participação no esquema de compra de apoio parlamentar durante o governo Lula (PT), eles estão livres e foram agraciados com a eleição de Arthur Lira, tendo eles recebido emendas generosas do Planalto.
A declaração de Bolsonaro ocorreeu num momento em que ele era criticado por apoiadores da Lava Jato pela indicação do desembargador Kassio Nunes ao Supremo Tribunal Federal (STF) – nome que foi chancelado por integrantes do Centrão, os ministros do STF Gilmar Mendes e Dias Toffoli e parlamentares contrários à Lava Jato.
EM 7 DE OUTUBRO DE 2020 — “Eu desconheço lobby para criar dificuldade para vender facilidade. Não existe. É um orgulho dizer para essa nossa imprensa maravilhosa que eu não quero acabar com a Lava Jato. Eu acabei com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo”, afirmou ele. “Nós fazemos um governo de peito aberto e quando eu indico qualquer pessoa para qualquer local tendo em vista a quantidade de críticas que ela recebe por grande parte da mídia”, disse o presidente.
ALIADOS NA MIRA DA LAVA-JATO
O senador Ciro Nogueira (PP-PI) comanda o PP (Progressistas), partido do centrão que também participou do acordo de distribuição de recursos do mensalão. A legenda foi denunciada como pessoa física na Operação Lava Jato. Bolsonaro foi filiado ao PP de 2005 a 2016.
Nogueira já foi alvo de ao menos duas operações da PF (Polícia Federal) e é réu no STF desde 2019, sob acusação de organização criminosa. Em fevereiro deste 2020, ele foi denunciado por supostos de crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro — ele nega todas as acusações.
Valdemar Costa Neto chegou a ser preso, em 2012, após ser condenado pelo esquema do mensalão. Cacique do PL (Partido Liberal), nome pelo qual atende agora o PR (Partido da República), o ex-deputado federal indicou o novo presidente do Banco do Nordeste, Alexandre Borges Cabral. O político também conseguiu uma diretoria no FNDE e emplacou um aliado na diretoria-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).
Já Roberto Jeferson, é presidente nacional do PTB, sigla a que Bolsonaro foi filiado de 2003 a 2005, denunciou o esquema do mensalão, que se tornou um escândalo durante o governo Lula. Jefferson foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e teve seu mandato como deputado federal cassado em 2005. Permaneceu na cadeia por um ano, dois meses e 23 dias.
O líder do PTB demonstrou com mais afinco em 2020 seu apoio ao presidente da República. Participou de lives defendendo Bolsonaro e atacando o Congresso e publicou fotos em redes sociais nas quais aparecia armado. Sua filha, Cristiane Brasil (PTB-RJ), participou de manifestações contra o STF promovidas por partidários do presidente em Brasília. Ela, agora ex-parlamentar chegou a ser presa no ano passado acusada de desvio de dinheiro público, mas foi solta na sequência e repete até hoje ter sido alvo de injustiça. Em 30 de setembro de 2020, o ex-deputado federal cassado Roberto Jefferson foi às redes sociais e escreveu: “minha filha está triste, preciso tirá-la daquela masmorra”.
Mais dos alvos da operação Lava Jato que investiga desvios do Sistema S, é o ex-advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef.
Em tese, quem tem o poder de manter ou acabar com a Lava Jato é o procurador-geral da República, Augusto Aras, que foi indicado por Bolsonaro ao posto desprezando a lista tríplice apresentada pela associação de procuradores.
ESTRATÉGIA ELEITOREIRA
Parlamentares de diferentes partidos ouvidos pelo blog enxergam a fala do presidente Jair Bolsonaro sobre a Lava Jato como uma operação para, entre outros objetivos, “apagar” a imagem do ex-ministro Sergio Moro para a eleição de 2022.
Moro, ainda dentro do governo, virou alvo do presidente após os filhos de Bolsonaro, ambos políticos, alardear o pai sobre a possibilidade de o ex-ministro da Justiça concorrer na eleição presidencial de 2022. Sendentos por poder, nem mesmo um aliado para eles seria bom na cadeira presidencial, já que assim os filhos do presidente acabariam alvos de investigações sobre seus atos políticos. Com o pai na cadeira de presidente eles estão blindados.