05 de novembro de 2024
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DELAÇÃO DE RONNIE LESSA

Conselheiro do TCE, Domingos Brazão, mandou matar Marielle Franco, diz jornal

Delatado trata Flávio Bolsonaro como pupilo e juntos colaboraram na defesa das milícias do Rio de Janeiro; Conselheiro é apenas um dos mandantes

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O jornal The Intercept revelou nesta 3ª feira (23.jan.24), que Domingos Brazão, Conselheiro do Tribunal de Contas e político emedebista do Rio de Janeiro, seria um dos mandantes do assassinato da vereadora do PSOL Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, executados em 14 de março de 2018. 

Segundo o veículo de comunicação, Brazão foi delatado pelo ex-PM bolsonarista preso por executar a vereadora, Ronnie Lessa. Além dele, também estão preso como executores o ex-policial militar Élcio Queiroz e o  ex-sargento do Corpo de Bombeiros, Maxwell Simões Corrêa, o Suel. Os três já fizeram delação. 

Como mostramos aqui no MS Notícias, Ronnie era o ‘sub-chefe’ do trio que emboscou e efetuou 13 disparos de submetralhadora HK MP5 de fabricação alemã contra o carro em que estava Marielle e Anderson. Élcio disse que dirigiu o carro usado no crime; Élcio disse que vigiou as vítimas e que Lessa efetuou os disparos. 

Ronnie Lessa é o 3º criminoso a aceitar fazer um acordo de delação com a Polícia Federal. No entanto, o acordo ainda precisa ser homologado pelo Superior Tribunal de Justiça, o STJ, pois Brazão tem foro privilegiado por ser conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro.

O advogado Márcio Palma, que representa Brazão, disse que não ficou sabendo dessa informação. Disse também que tudo que sabe sobre o caso é pelo que acompanha pela imprensa, já que pediu acesso aos autos e foi negado, com a justificativa que Brazão não era investigado.

Em entrevistas anteriores com a imprensa, Domingos Brazão sempre negou qualquer participação no crime.

Ex-policial do Bope, Ronnie Lessa foi condenado em julho de 2021 por destruir provas sobre o caso. Lessa, a mulher, o cunhado e dois amigos descartaram armas no mar – entre elas, a suspeita de ter sido usada no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes.

POSSÍVEL MOTIVAÇÃO DE BRAZÃO

Domingos Brazão é ex-membro do Movimento Democrático Brasileiro, foi acusado em 2019 por dificultar a investigação do caso do assassinato de Marielle Franco. Ele já havia sido afastado do cargo de conselheiro do TCE por denúncias de propina em 2017. A principal hipótese do assassinato de Marielle era o desejo de vingança de Brazão contra Marcelo Freixo, ex-deputado estadual pelo Psol e atual presidente da Embratur. Freixo e Brazão mantinham uma rivalidade de longa data, enquanto Marielle trabalhou com Freixo antes de ser eleita vereadora em 2016. A possibilidade de Brazão ter agido por vingança foi considerada durante as discussões de federalização do caso Marielle em maio de 2020.

“Cogita-se a possibilidade de Brazão ter agido por vingança, considerando a intervenção do então deputado Marcelo Freixo nas ações movidas pelo Ministério Público Federal, que culminaram com seu afastamento do cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro”, diz o relatório da ministra.

“Informações de inteligência aportaram no sentido de que se acreditou que a vereadora Marielle Franco estivesse engajada neste movimento contrário ao MDB, dada sua estreita proximidade com Marcelo Freixo”, escreveu Vaz.

INQUÉRITO POLICIAL SOBRE MILÍCIA EM RIO DAS PEDRAS É REABERTO

De acordo com o Intercept Brasil, o Ministério Público iniciou uma nova análise dos documentos relacionados ao inquérito policial sobre a milícia em Rio das Pedras, na zona oeste do Rio de Janeiro. Tanto a polícia civil quanto o MP estão trabalhando em conjunto para investigar a conexão desse grupo com a família Brazão e o Escritório do Crime. A família Brazão é um importante grupo político no Rio de Janeiro, composto por Domingos, Manoel Inácio Brazão - também conhecido como Pedro Brazão - e Chiquinho, colega de Marielle na Câmara dos Vereadores na época do assassinato.

LIGAÇÃO COM O CLÃ BOLSONARO

Assim que saiu a notícias de que Brazão era um dos mandantes, a extrema direita, incluindo Carla Zambelli e Deltan Dallagnol foram às redes tentar relacionar Brazão com políticos de esquerda, dentre eles, a ex-presidenta Dilma Rousseff. No entanto, a família mais ligada ao clã Brazão é o Clã Bolsonaro.   

Os passaportes diplomáticos dados por Jair Bolsonaro  (PL) à esposa e ao filho do deputado federal Chiquinho Brazão (União) é apenas um dos laços que ligam as duas famílias, que têm laços históricos com a milícia que atua na região de Rio das Pedras, na zona Oeste do Rio de Janeiro.

Domingos Brazão atuou em dobradinha com Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), a quem tinha como uma espécie de pupilo. "Vossa excelência é um deputado jovem e, mesmo assim, percebe-se, não somente pelas suas afirmações de hoje, mas pela sua postura em plenário, que vossa excelência procura preservar o que há de melhor, a maior instituição, que é a família. Infelizmente, há aqueles que apostam no contrário. Vejo parlamentares apresentarem projetos que visam liberar casamento de homem com homem, mulher com mulher e outras coisas. V.Exa., embora sendo jovem, ainda mantém essa postura firme, que, com certeza, é fruto da educação de seus pais, uma questão de criação", disse Brazão dirigindo-se a Flávio Bolsonaro na sessão de 4 de março de 2006 da Alerj.

O elogio ocorreu após o filho de Bolsonaro elogiar o projeto de Brazão para conceder o título de cidadão ao pastor Sebastião Ferreira, da Primeira Igreja Batista de Vila da Penha, que morreu em 2017.

RELAÇÃO ENTRE BRAZÃO E FLÁVIO BOLSONARO

Flávio Bolsonaro e Domingos Brazão na Alerj.Flávio Bolsonaro e Domingos Brazão na Alerj.

Domingos Brazão e Flávio Bolsonaro já trabalharam juntos em várias propostas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Em 2014, Brazão foi relator do projeto de Flávio para estabelecer o programa "Escola Sem Partido" no sistema de ensino fluminense. Naquele ano, ambos trabalharam juntos na Comissão de Constituição e Justiça da casa.

MILÍCIAS E ESCRITÓRIO DO CRIME

Além das questões de costumes, Flávio Bolsonaro e Domingos Brazão colaboraram na defesa das milícias do Rio de Janeiro. Em 2006, quando Marcelo Freixo criou a CPI das Milícias, apenas os dois se posicionaram contra a investigação.

Ronnie Lessa, que delatou Brazão, morava a cerca de 100 metros da casa do clã Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra. De acordo com o escritor Bruno Paes Manso em seu livro "A República das Milícias", Lessa mantinha contato com o Escritório do Crime e com milicianos de Muzema, ligados ao Capitão Adriano. Manso também menciona a relação de Lessa "com figurões como Rogério de Andrade e Domingos Brazão".

O Capitão Adriano é Adriano da Nóbrega, que liderava o Escritório do Crime e empregou a mãe e a ex-esposa no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), ambas faziam parte do esquema de "rachadinha" no gabinete. O miliciano foi morto em 2020 e foi apresentado ao clã Bolsonaro por Fabrício Queiroz, que também tem ligações com a milícia de Rio das Pedras.

Durante as investigações sobre a morte de Marielle Franco, o MP-RJ apreendeu uma agenda com a esposa de Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar. Na agenda-guia, que deveria ser usada por Márcia para ajudar a família caso Queiroz fosse detido, há um coronel identificado como amigo de Queiroz e "braço direito do Brazão (sic)", uma possível referência a Domingos Brazão. Na caderneta ainda haviam nomes de pessoas ligados ao clã Bolsonaro e também a Adriano da Nóbrega.

Outra ligação entre Flávio e Brazão, que faziam parte da bancada da "segurança pública" na Alerj, é o ex-assistente de câmera Luciano Silva de Souza. Em 2019, Brazão nomeou Souza para o cargo de subdiretor da TV Alerj, o mais alto na hierarquia do departamento, e ele ficou responsável por gerir um contrato de cerca de R$ 800 mil por mês (quase R$ 10 milhões anuais) com a empresa terceirizada Digilab. Em seu currículo, Souza mencionou sua participação em recentes campanhas eleitorais do PSL, como a de Flávio Bolsonaro para o Senado.

FONTE: THE INTERCEPT | REVISTA FÓRUM