Em Narandiba (SP) a Justiça Eleitoral bateu o martelo e determinou, na 2ª.feira (14.abr.25), a cassação do diploma do prefeito Danillo Carvalho dos Santos (Republicanos) e da vice Joana Rita Ribas Branco (MDB) por compra de votos nas eleições de 2024.
A situação analisada pela justiça paulistana é semelhante a situação em Campo Grande (MS), onde a prefeita Adriane Lopes (PP) aguarda, tensa, o desfecho de um processo que traz ecos quase idênticos.
Em ambos os casos, o modus operandi envolve o uso de Pix para garantir apoio eleitoral. Em Narandiba, segundo a juíza Luciana Bertoncini, houve distribuição de dinheiro e materiais de construção em troca de votos — um clássico do clientelismo de interior, que, apesar da roupagem digital, mantém a essência rudimentar de sempre: transformar necessidade em moeda política.
A Justiça paulista foi clara. Além da cassação dos diplomas, Danillo, Joana e outros envolvidos foram declarados inelegíveis por oito anos, além de multados. Ainda cabe recurso.
CAMPO GRANDE NA MIRA
Em Campo Grande, a prefeita Adriane Lopes enfrenta um processo semelhante. Acusada de se beneficiar da compra de votos praticada por seus assessores, também por meio de transferências via Pix, Adriane é alvo de uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral movida pelo Ministério Público. A robustez das provas foi reconhecida até pelo juiz de primeira instância, que, embora tenha rejeitado a cassação, não negou a existência do crime eleitoral.
Agora, o caso está nas mãos do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul, e a cidade assiste, em compasso de espera, a um possível efeito dominó. Apesar de ter ganhado nas urnas, a prefeita acumula insatisfação da população campo-grandense, em um mandato marcado por desgaste político e denúncias.
PRÁTICAS ANTIGAS EM ROUPAGENS NOVAS
O que une Narandiba e Campo Grande é mais do que o uso do Pix para aliciamento eleitoral. Trata-se de uma engrenagem que insiste em girar fora das regras do jogo democrático. O pagamento eletrônico substitui o envelope marrom, o saco de cimento cumpre o papel do cheque de campanha, mas o objetivo permanece: manter o poder, a qualquer custo.
A decisão em Narandiba pode ser um sinal claro de que a Justiça Eleitoral está disposta a agir, ainda que com atraso, quando há fartura de provas. Resta saber se o mesmo rigor será aplicado em Campo Grande, onde o caso da prefeita Adriane já repercute e gera desconforto dentro e fora do Paço Municipal.
JUSTIÇA SELETIVA?
Apesar do discurso sereno da defesa e das notas protocoladas dos investigados, o desgaste político já está em curso. Em ambos os municípios, há uma lição amarga em processo: o risco de se confundir caridade com compra, ajuda com aliciamento, e fé pública com conveniência eleitoral.
A população, muitas vezes anestesiada pela rotina de escândalos, pode estar prestes a ver a Justiça agir com coerência — ou assistir, mais uma vez, à seletividade de decisões que livram uns e condenam outros.