Numa gravação, Daniela Magalhães da Nóbrega, irmã de Adriano da Nóbrega, ligado a família Bolsonaro, afirmou a uma tia, em 11 de fevereiro de 2020 (dois dias após execução do irmão) numa operação policial na Bahia, que ele [Adriano] soube de uma reunião envolvendo seu nome no palácio e do desejo de que se tornasse um ‘arquivo morto.
O ex-PM era acusado de chefiar milícia no Rio de Janeiro e a maior ponta solta, que ligava o esquema de rachadinha (desvio de salários de assessores) do hoje senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Isso porque, a conta de Adriano e de seus familiares no banco, foi usada para movimentar valores da rachadinha, pelo assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, aliado dos Bolsonaros.
“Ele já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele já era um arquivo morto. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, já. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele já sabia disso, já. Foi um complô mesmo”, disse Daniela numa gravação autorizada pela Justiça.
O Palácio do Planalto e a defesa de Daniela não se posicionaram sobre o conteúdo das escutas para a reportagem. Ouça:
A bancada do PSOL, protocolou na tarde da quarta-feira (6.abr.22) um requerimento de informações para que a Secretaria Geral da Presidência da República forneça esclarecimentos sobre a denúncia de que o Palácio do Planalto teria oferecido cargos comissionados em troca da morte do ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega. A resposta é obrigatória em até 30 dias, sob pena de crime de responsabilidade.
O trecho da escuta telefônica foi anexado pela Polícia Civil às investigações da Operação Gárgula, que apura um esquema de lavagem de dinheiro e a fuga de Adriano.
MORTE
Adriano foi morto na zona rural da cidade de Esplanada (BA), em um sítio de um vereador do PSL. Ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio, ele era considerado chefe do Escritório do Crime: um grupo criminoso. Adriano estava foragido desde janeiro de 2019, quando foi alvo de um mandado de prisão. A mãe do ex-oficial da PM do Rio, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher Danielle Mendonça foram, durante anos, nomeadas para cargos comissionados no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Alerj. Ambas foram denunciadas por suposto envolvimento na “rachadinha”.
Procurado, o Palácio do Planalto não se posicionou sobre as gravações.
O senador Flávio Bolsonaro (PL), filho do presidente Jair Bolsonaro, criticou em rede social a reportagem da Folha e negou que tenha havido oferta de cargos do Planalto ligada à morte de Adriano. "Obviamente isso nunca aconteceu", disse.