Campo Grande viveu uma semana que contrapôs a estranheza das promessas de centenas de obras e desaguou na realidade de uma Câmara Municipal sendo confrontada pela população e o fim do Instituto Mirim que se avizinha.
Sem conseguir definir se o caso dos planos que vêm sendo divulgados é uma questão de megalomania ou apenas uma estratégia de marketing, a população descrente de melhorias confronta e cobra dos vereadores ações pontuais e possíveis, que venham a lhes dar melhor qualidade de vida. Se por um lado há a incerteza de ver a Capital tomada por obras, de outro resta quase certo o fim do Instituto Mirim por uma questão política e pessoal do prefeito Gilmar Olarte.
Política partidária
Longe de qualquer cargo eletivo e para espantar os males do sereno político que isso proporciona, o ex-governador e mentor maior do PMDB, André Puccinelli vem alimentando a fogueira política com pequenas toras que, se não fazem a fogueira arder substancialmente, também não permite que as brasas permaneçam encobertas.
Na teoria de que “o que não é comentado, é esquecido” joga seus gravetos, conhecedor das regras do escotismo – que determinam que as fogueiras pequenas são mais fáceis de controlar, além de poder ter seu calor concentrado e, quando dispostas em círculos, em volta de um indivíduo, produzem efeito melhor do que uma única grande fogueira –, lançou mão do nome de Edson Giroto para sacudir o partido. Não ajudou em nada, mas agitou a política e fez seu nome lembrado como '‘o grande salvador’' de uma pátria que convive com a incerteza do que virá da reforma política; e se virá.
Ainda na política partidária, causou mal estar entre a classe política da Capital a linha adotada pelo PTdoB (em última análise uma extensão do poder andresista) de lançar candidatos “estrangeiros” como pré-candidatos à Prefeitura de Campo Grande. Com três vereadores eleitos, Flávio César, Eduardo Romero e Otávio Trad, é no mínimo um contrassenso aventar os nomes dos deputados estaduais Márcio Fernandes, de Jaraguari e Mara Caseiro, de Eldorado. Também ai o ex-governador parece ter deixado nas entrelinhas um recado claro: em partido que eu mando, não queiram me confrontar.
Estranheza administrativa
Na contramão da economia, Gilmar Olarte sonha como Juscelino e administra como Collor. Preenche suas falas, talvez para evitar explicações sobre a real situação da gestão municipal, com promessas que fazem pensar uma Campo Grande, em 2016, sem problemas nas áreas de saúde, educação, assistência social, mobilidade urbana, infraestrutura, enfim, a cidade dos sonhos.
No dia a dia vivido na dura realidade, não tem conseguido cumprir compromissos, por exemplo, em relação à Cultura, desobedecendo a própria lei, assim como já fez com o reajuste dos professores. O caso do tapa-buracos não é comentado, ainda que nada tenha sido feito efetivamente para comprovar uma fiscalização que deveria haver, mas não há, e permitir que uma empresa sob suspeição, a Selco, arrebate mais uma licitação. “Em fevereiro deste ano, o MS Notícias, publicou, com exclusividade, uma matéria que relatava o esquema de favorecimento a Abimael (Selco) por parte da prefeitura. Na época, empresários que participavam da concorrência pública nº 034/2014 para contratar empreiteiras para realizar serviços de limpeza de vias públicas não pavimentadas, e revestimento primário conhecido como cascalhamento, denunciaram ao MS Notícias que teriam sido procurados pelo secretário de infraestrutura, Valtemir Brito, o Caco, que teria pedido a eles que não participassem da concorrência, pois já haviam sidos “escolhidas” as empresas vencedoras, uma delas era a Selco Engenharia. Depois da denúncia, a licitação foi cancelada.”
Já havia se comparado ao ex-governador Pedro Pedrossian – e levou uma reprimenda do próprio Pedro, por isso – , agora se coloca como um administrador melhor que o ex-prefeitos André Puccinelli e Nelsinho Trad (ambos PMDB) quando compara entrega de Ceinfs. Faltou se posicionar no tempo e no espaço. “A média do ex-prefeito e ex-governador André Puccinelli era três por ano; a média do ex-prefeito Trad era dois por ano, com a entrega dos nove Ceinfs este ano estamos com uma média de sete e meio por ano. Olha a média de entrega de Ceinfs do prefeito Olarte, disse.”
Mas, o prefeito ganhou um descanso jurídico. O Conselho Superior do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul em reunião realizada na terça-feira (17) determinou a devolução dos autos à Promotoria de Justiça de origem, para diligências complementares que melhor definam o caso, conforme publicado no Diário Oficial do Ministério Público de quinta-feira (26). O processo deve apurar eventual irregularidade no fato de dois homens tentarem extorquir, em nome do Prefeito de Campo Grande, Gilmar Antunes Olarte, empresários que prestam serviços ao Município.”
Instituto Mirim
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Parece estar com seus dias contados, a depender de Olarte contemplar a vaidade da primeira-dama, Andreia e constituir a Fundação Mirim de Campo Grande. As rebeliões internas já foram insufladas e um pequeno grupo de professores cooptados por uma ex-funcionária daquele instituto e que hoje presta serviços à primeira-dama do município. O objetivo é pessoal, ou seja, preencher os cargos com pessoas que lhe prestam obediência, e político, uma vez que atribui ao ex-prefeito Alcides Bernal a indicação dos dirigentes daquele instituto. De uma forma ou de outra, todos perdem.
A greve - “Professores, cedidos pela Semed (Secretaria Municipal de Educação) ao Instituto Mirim de Campo Grande) realizam greve desde a última sexta-feira, dia 20. De braços cruzados, os professores pediram a saída imediata da atual diretoria da ONG (Organização Não Governamental).
No dia 24 de março apenas sete professores ainda permaneciam em greve, mas que durante a semana outros professores receberam uma ligação de funcionária da prefeitura chamada Ivani Oliveira de Souza que lhes orientou a retomar a greve caso contrário sofreriam consequências. '‘ontem a Ivani ligou e disse que não era para ir para sala de aula’', diz uma professora. Questionada sobre quem seria Ivani, ela conta que a funcionária trabalha no FAC (Fundo de Assistência à Comunidade) assessorando a primeira-dama.
Ivani, de fato, foi nomeada em dez de novembro de 2014 para exercer cargo em comissão de assessora técnica II, símbolo DCA-5 na SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social).”
A Câmara
A Câmara teve uma semana modorrenta, daquelas em que se discute muito e pouco se produz, ainda que aprovem e desaprovem uma série de medidas, no entanto mais de cunho administrativo. Cumprem o básico de suas funções.
Mas, para uma resenha, o importante foi a sessão itinerante, onde a população cobrou menos política-partidária e mais empenho na resolução dos problemas que afligem de forma mais acentuada as periferias.
Durante sessão na Região do Nova Lima, “os moradores aproveitaram o momento para repetir as reclamações que já se tornaram comuns a todas as regiões: falhas no atendimento à saúde, transporte coletivo precário e falta de segurança. Mas o item que mais chamou a atenção foi em relação às moradias populares. Os presentes chegaram a acusar que um dos comerciantes da região já havia recebido mais de 40 casas destinadas às famílias de baixa renda, e as comercializou, o que é flagrantemente ilegal. Um dos presentes chegou a dizer que 'só aparecem (os vereadores) para pedir votos durante as eleições, depois somem'. ”
Nada que não se saiba, algo que não se prova.
Por este motivo, o vereador Otávio Trad (PTdoB) ocupou a tribuna para dizer que “a Câmara não pode ficar à parte desse debate, até porque negociar as unidades habitacionais recebidas constitui crime tanto para quem compra quanto para quem vende. E, retomando o Caso Homex, lembrou que foi necessária uma CPI para que os moradores contemplados conseguissem sanar a péssima qualidade da obra. '‘a Caixa Econômica teve que assumir e contratar uma terceira empresa para reparar os danos deixados por aquela construtora’'.
Otávio lembrou que a responsabilidade cabe em parte à Empresa Municipal de Habitação (Emha), que teria a responsabilidade de fiscalizar a qualidade dos imóveis e o controle de seu uso, para que o beneficiado ocupe efetivamente a moradia.
Talvez por isso o vereador Chiquinho Telles (PSD), tenha enfatizado a necessidade da descentralização administrativa. Sem descartar a criação de subprefeituras, acredita que a descentralização permitiria melhor atendimento à população, uma vez que, por exemplo, problemas em postos de saúde seriam equacionados e relatados por um gestor público, sendo resolvido direto com o secretário de Saúde do Município. Também facilitaria a relação com o legislativo e melhor diálogo e fiscalização por parte dos vereadores.
Para a semana, é só.