22 de dezembro de 2024
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CONTRADIÇÃO

Brasil terá frio em abril e coronavírus pode acelerar como na Itália

Bolsonaro fala em clima diferente, no entanto, meteorologia vê possibilidade de climas gelados de abril a junho no País

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O presidente Jair Bolsonaro tem marcada para hoje cedo uma teleconferência com os quatro governadores do sudeste. Ontem, sem citar qualquer um por nome, ele partiu para o ataque em pronunciamento em cadeia nacional. “Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento de comércios e o confinamento em massa”, ele pediu. O presidente quer diminuir a política de quarentena. “O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Por que fechar escolas? Raros são os casos fatais de pessoas sãs com menos de 40 anos de idade.” Ele também se queixou da imprensa. “Grande parte dos meios de comunicação foram na contramão. Espalharam exatamente a sensação de pavor, tendo como carro-chefe o anúncio do grande número de vítimas na Itália, um país com grande número de idosos e com o clima totalmente diferente do nosso. O cenário perfeito, potencializado pela mídia, para que uma verdadeira histeria se espalhasse pelo nosso país.” Em seu discurso, o presidente ainda reafirmou que está bem. “No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado com o vírus, não precisaria me preocupar. Nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como disse aquele famoso médico daquela famosa televisão.”, na ocasião presidente falava do doutor Dráuzio Varela, que há aproximadamente 6 meses atrás gravou um vídeo falando sobre vírus, na ocasião o vírus tinha pouquíssimos casos no mundo e ainda não havia devastado a Itália, país no qual milhares de pessoas morreram, após o governo adotar um medida semelhante à defendida por Bolsonaro, para salvar a Economia. 

O ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles teve que pedir desculpas em suas redes sociais por compartilhar os vídeos antigos do médico Drauzio Varella publicados em seu Twitter, Salles fez a publicação no domingo (22.março). O vídeo a que Bolsonaro e sua equipe e principalmente seus filhos se referem, tem informações desatualizadas e fora de contexto sobre o novo coronavírus. Salles teve que pedir desculpas à Drauzio Varella após o Twitter apagar as publicações por violarem as políticas da empresa, além de ter dado a ele uma alta repercussão negativa.

A Itália chegou a adotar uma medida semelhante a defendida pelo presidente em pronunciamento na noite de ontem (24.março). À época da apelação do governo italiano, o coronavírus tinha cifras oficiais no final da noite da quinta-feira (27.fevereiro.2020) que apontavam 650 contágios, 17 mortes e 45 pacientes curados.

Para o governo italiano, o alarme social também era de percepção de alarde e medo em todo país. A medida adotada a época tinha um objetivo simples, neutralizar o impacto econômico da epidemia. O resultado foi desastroso. 

Em fevereiro, a Itália, que segundo o presidente Bolsonaro tem um clima muito diferente do Brasil, registrava termômetros entre 2°C e os 8°C, possuindo um população estimada de pouco mais de 60 milhões de habitantes.

Na noite de ontem (24.março), as regiões sul e sudeste do Brasil registraram termómetros iguais aos da Itália. Nessa quarta-feira (25.março) Urupema em Santa Catarina, com aproximadamente 3 mil habitantes, tem média climática de 16°C, durante a noite a cidadezinha cai drasticamente atingindo níveis abaixo de zero. Na região sul do país há ao menos 10 cidades, com climas semelhantes ou iguais ao da Itália. No entanto, o presidente parece não considerar essas regiões, ou esses seres humanos que lá vivem, tão importantes quanto a economia. 

ESTUDO DO CASO

Homem ajuda a carregar caixão durante funeral na Itália; país é o mais afetado pelo coronavírus. Foto: Piero Cruciatti / AFP

Na Itália, morreram apenas ontem 743 pessoas, hoje (25.março) o número saltou para 6.820 mortes registradas, conforme o governo italiano. 

No país, o vírus teve início em Lombardia e Vêneto, cidades consideradas os motores econômicos ao norte italiano. O vírus afetou drasticamente a força motriz, o turismo. Reservas hoteleiras foram impactas e Bolsa de Milão castigada, com números relacionados ao referendo do Brexit, que ocorreu em 2016, isso em fevereiro. Pois, agora o país consideraria um luxo, se pudesse se comparar ao ano 2016, visto que a devastação provocada pelo vírus alcançou todos os lares italianos centenas de pessoas de todas as idades foram limadas pelo coronavírus. 

Em primeiro momento a Itália caminhou em uma direção inteligente, por meio de medidas adotadas por governos e prefeitos, que assinaram uma série de regulamentos que foram depois corrigidos ou revogados por ordem de Roma. A exemplo, algumas regiões sem contagiados, como Marche, decretaram o fechamento preventivo das escolas e proibiram aglomerações públicas. O primeiro-ministro Giuseppe Conte ameaçou contestar a normativa, já que “contribuía para gerar o caos”, e um tribunal acabou por suspendê-la. Na Lombardia, inicialmente os bares foram proibidos de abrir à noite, uma medida que foi revogada dois dias depois.

Os italianos subestimaram um inimigo invisível e incontrolável. Apostaram no Capital e pagam caro, não tão caro ao governo, mas ao preço da vida dos cidadãos italianos. Em fevereiro, a mudança radical de pensamento do Governo, que central apostou na estratégia de gestão da crise de saúde pública. Alegando naquele mês que tentava conter o alarmismo e preservar a maltratada economia italiana. Sua grande cartada foi lançar uma mensagem de calma, coordenada com a comunidade científica dentro e fora do país. Em um encontro com os correspondentes estrangeiros em Roma, o ministro de Relações Exteriores, Luigi di Maio, lamentou que alguns países, como Israel e Rússia, tenham recomendado seus cidadãos a não viajarem à Itália (outros, como a Espanha, desaconselharam apenas viagens ao norte) e garantiu que o país é um lugar seguro. “Nossos filhos vão à escola na maioria das nossas cidades, e os turistas e investidores podem vir com tranquilidade”, afirmou. E reconheceu que o surto de coronavírus está abalando o sistema produtivo italiano. À época o preservado era a economia italiana, hoje ela não salva os cidadãos que morrem desenfreadamente todos os dias. 

O CLIMA FRIO AMEAÇA VIDAS NO BRASIL

Foto: Jornal Andradas Hoje Regional; Notícias Agrícolas; Rádio Rural

Boletim divulgado pelo Centro Americano de Meteorologia e Oceanografia (NOAA), agora em 2020, explica que os oceanos não passarão por fenômenos comuns como El Niño e La Niña. Com isso, a expectativa é de que as primeiras ondas de frio já comecem na segunda quinzena de abril na região Sul brasileira. 

Conforme especialistas do clima, a ausência dos fenômenos oceânicos, provocará um prolongamento do frio no Brasil, que pode seguir do outono (começou no último dia 21.março) e ir até o inverno (aproximadamente 20.junho). 

Desde de janeiro as mínimas climáticas já se fazem presentes ao Sul do país.Ventos de 70 km/h no Rio Grande do Sul e volumes de 40 milímetros, foi a tendência em janeiro. Além disso, as quedas deverão ganharem força sobre o centro-norte do Brasil, segundo o NOAA. 

O Sudeste passará por dois extremos, de acordo com o centro de meteorologia. O centro-sul de São Paulo terá tempo mais firme, mais parecido com o Sul do Brasil. Já Espírito Santo, norte de São Paulo e Minas Gerais terão chuva generalizada e volumosa, a exemplo do Nordeste. Isso acontece porque, sem bloqueios atmosféricos no oceano Pacífico, as frentes frias consigam rumar naturalmente ao longo da costa da Bahia.

Em março, com a neutralidade no Pacífico durante o outono, as ondas de frio podem atingir a região Sul na segunda quinzena do mês.

Em junho, quando começa o inverno, as chuvas ganham força na costa leste do Nordeste como é comum para esta época do ano e persistem no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

O FAKE QUE O ESTADO DIZ É MAIS ‘VERDADE’ DO QUE A QUE ELE ‘CONTA’

Na escrita do discurso, Jair Bolsonaro teve a ajuda de seu filho Carlos e do ‘gabinete do ódio’, apelido recebido pelos assessores que organizam suas redes sociais. Foto: Reprodução/Conversa Afiada

Bolsonaro alimentou também seu discurso contra a mídia.  Na noite de ontem o chefe do executivo atacou diretamente a imprensa, usando-se da ironia como objeto principal da sua fala. Como uma criança mimada a endossar mentiras. 

A relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), afirmou que percebe um esforço do clã Bolsonaro para travar as investigações e disse que se sente pressionada pelo governo.

Em entrevista à revista Época publicada no domingo (29.setembro.2019), Lídice classificou o governo Bolsonaro como "uma fábrica de fake news".

Também na Itália, o governo adotou a mesma postura. Em fevereiro Bolsonaro apresentou um mapa, elaborado pela unidade de crise do Executivo, “contra alarmismos e informações imprecisas”, no qual se mostrava que apenas 0,1% das localidades italianas (em 0,05% da extensão territorial) estaria submetida a quarentena rigorosa —10 cidades e aldeias na Lombardia e uma no Vêneto—, e dizia ao povo que era possível circular com normalidade no resto País. Também argumentaram em fevereiro que as pessoas em isolamento, cerca de 50.000 na época, representavam 0,089% da população total. A manobra do governo somava esforço para proteção da economia.  

Naquele mês, o ministro da Saúde italiano, Roberto Speranza, e Giuseppe Ippolito, diretor do hospital Spallanzani de Roma, o centro de referência para enfermidades infecciosas, salientaram na mesma entrevista coletiva os números de pessoas que se curaram da doença no país, 45 no total. E anunciaram que a Itália, a partir daquele momento, só submeteria exames específicos da Covid-19 as pessoas que apresentaram sintomas de infecção pelo coronavírus. A medida que observamos os erros aprendemos com ele, isso o governo brasileiro insiste em não entender. 

Naquele mês, segunda a Defesa Civil da Itália, foram feitos mais de 11 mil exames, dos quais só 5% deram positivo. “Não podemos ser culpados de termos sido um dos países que mais fizeram controles”, disse Di Maio, acrescentando que nos próximos dias enviariam diariamente aos demais países, através das embaixadas, todos os dados relacionados com os contágios. “A Itália não é o foco de contágio, o vírus está circulando em todo o mundo”, observou Walter Ricciardi, membro da Organização Mundial da Saúde e assessor do ministro da Saúde.

Speranza confirmou que, por enquanto, existem apenas dois epicentros onde os contágios se originaram: o maior, na Lombardia, e outro no Vêneto, e que os médicos estão estudando a possibilidade de que as transmissões tenham partido de um só lugar. Resultado?

Na segunda-feira (23.março), 602 pessoas morreram, depois de 650 mortes no domingo e 793 no sábado e o número não parou de crescer. O número diário mais alto desde que o contágio foi registrado na Itália 700 mortes em um dia, em 21 de fevereiro.

O número total de casos confirmados subiu para 69.176 em relação aos 63.927 anteriores, um aumento de 8,2%, em linha com a taxa de crescimento de segunda-feira, informou a Agência de Proteção Civil.