22 de dezembro de 2024
Campo Grande 24ºC

DIA DA ELEIÇÃO

Bolsonaristas ignoram "corrupção" de Lira e querem Centrão de volta ao comando

Candidato de Jair Bolsonaro à presidência da Câmara, Arthur Lira é alvo no Supremo Tribunal Federal (STF) de ações sob suspeitas que vão desde associação criminosa à corrupção passiva e ativa. Ele sobrevive graças ao Foro privilegiado

A- A+

Os candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), devem vencer as eleições para presidência da Câmara e do Senado, respectivamente. A eleição ocorre nesta 2ª-feira (1º.fev.21) e definir quem comandará as duas casas nos próximos dois anos. O Senado será a primeira casa a definir o novo presidente. Lá a eleição está marcada para começar as 14h. Já a Câmara começa a definir quem será o futuro presidente a partir das 19h. 

Ambos os candidatos apoiados pelo presidente Bolsonaro, pela esquerda e grande parte dos deputados e senadores desenham, na prática, a volta do Centrão ao comando da Câmara, de onde havia sido afastado desde a queda de Eduardo Cunha em 2016, cassado por corrupção e preso.

Queridinho de Bolsonaro para comando da Câmara, Lira é apoiado por bolsonaristas que chegaram a se reunir em manifestação pedindo “Lira pela governabilidade”, ignorando as acusações contra o político. 

Lira responde a processos de esquema milionário de rachadinha, mesmo crime que levou Flávio Bolsonaro a ser denunciado. Apesar disso, sobreviveu para eleição, graças ao foro privilegiado. Com ele no comando da casa, a possibilidade real de uma investigação das acusações ficará ainda mais distante, devido ao poder que ganhará ao ocupar a presidência da Casa de Leis. 

Ele também é alvo no Supremo Tribunal Federal (STF) de ações sob suspeitas que vão desde associação criminosa à corrupção passiva e ativa. Recentemente, ilado a denúncia feita pela Procuradoria Geral da República (PGR) relacionado aos crimes de peculato e lavagem de dinheiro por participação em um esquema conhecido da família Bolsonaro, o das rachadinhas, quando era deputado estadual em Alagoas.

Segundo a PGR, a denúncia é referente ao período em que Arthur Lira era deputado estadual e exerceu cargo de direção na Mesa Diretora da Assembleia Legislativa de Alagoas (2003 a 2006). O esquema em que Lira é acusado segue os moldes que foram implementados pelo senador Flávio Bolsonaro, quando atuava na Assembleia Fluminense. Ministério Público aponta desvio de R$ 12,4 milhões em Alagoas 

Como o caso não tem relação com o mandato de deputado federal, foi remetido para a primeira instância da Justiça, que arquivou o processo sumariamente. O ex-chefe de gabinete de Lira envolvido nos desvios trabalha atualmente no gabinete do deputado em Brasília.

Esse arquivamento não livra o líder do Centrão. O MP promete recorrer, mas nem Lira, nem seus apoiadores parecem preocupados. Segundo a denúncia, o esquema de desvios de recursos da Assembleia de Alagoas durou de 2001 a 2007 e teria movimentado R$ 12,4 milhões apenas entre janeiro de 2004 e dezembro de 2005. Lira, sozinho, teria recebido de interlocutores mais de R$ 1 milhão pelo esquema. A defesa, claro, nega as denúncias. O deputado também rechaçou a acusação, e seguiu suas articulações pela candidatura à Câmara sem demonstrar abalos.

Ao saber do arquivamento da denúncia, Lira se manifestou da forma que os colegas defensores de sua candidatura esperavam: com um tom de serenidade, mas sem deixar um aviso nas entrelinhas: “A vida do homem público é um livro aberto e quem está nela precisa ter serenidade. Nada como um dia depois do outro”, publicou o deputado em uma rede social, assim que a denúncia foi arquivada. Para quem acompanha os meandros do Congresso, a denúncia recente contra Lira não foi surpresa. Nem para a situação, nem para a oposição. Esse é um dos motivos pelos quais aliados do governo apostam que o passar dos dias vai amenizar a fumaça levantada pelo MP. Bolsonaro, que chegou a cogitar entre aliados um plano B em substituição a Lira, logo desistiu da ideia. Lira saiu do pós-denúncia, ao que tudo indica, ainda mais fortalecido — e com as bênçãos de Bolsonaro.

A certeza da vitória de Lira sobre Baleia Rossi (MDB-SP) veio ontem, quando o Democratas, partido do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), abandonou formalmente a candidatura do emedebista e se declarou neutro.

É uma derrota grande para Rodrigo Maia. Enquanto ainda tem poder para isto, reagiu ameaçando desengavetar um dos mais de 60 processos de impeachment ainda hoje. Há quem defenda que ele abra mais do que um, segundo Natuza Nery. Também há quem tente dissuadi-lo. 

Apesar de seu partido ter comandado o movimento que esvaziou Baleia, beneficiando Lira, o presidente do DEM, ACM Neto, foi hostilizado por bolsonaristas no aeroporto de Brasília.

O político baiano ganhou algo para trair Maia. A promessa de poder indicar o ministro da Educação.

Na política, é possível perder na vitória e ganhar na derrota. Com qualquer resultado hoje na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro sairá fragilizado: mesmo que Arthur Lira (PP-AL) vença a disputa, o presidente terá menos poder. Seja porque o governo despejou caminhões de recursos e interferiu na disputa, seja porque o apetite do Centrão jamais será saciado. Um ex-articulador político do Planalto alerta: é essencial manter diálogo com o Centrão, mas com muita cautela. O que custa caro hoje, tende a encarecer.

Políticos da esquerda, do centro e da direita avaliam que Rodrigo Maia (DEM-RJ) não se preparou para deixar a cadeira e não se deu conta que os dias de poder estavam acabando. Não ter conseguido manter sua própria legenda no bloco criado por ele já indica como será a vida fora da presidência, na opinião de colegas. Caciques partidários traçam futuro político sem prestígio a Maia e dizem achar improvável que ele fique no DEM. O cenário só muda se Baleia Rossi (MDB-SP) vencer.

O governo de Bolsonaro, entretanto, ainda tem uma aprovação forte, embora em queda, segundo levantamento do Instituto Paraná Pesquisas. Aprovam o governo 47,2% dos ouvidos, enquanto 48,5% reprovam.

PACHECO

Após o PT anunciar apoio à candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) à presidência do Senado, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot sugeriu que a decisão do partido está ligada ao suposto objetivo de “acabar com a Lava Jato”: “Pois é! Para acabar com a Lava Jato vale tudo! Incrível!”, disse no Twitter ao compartilhar a notícia.

Janot, que esteve no comando da PGR (Procuradoria Geral da União) de 2013 a 2017, liderou as investigações da Lava Jato na Instância superior. Políticos do PT foram alvos da operação, entre eles, os ex-presidentes Lula e Dilma Roussef.

O PT é a maior bancada de oposição do Senado, com 6 representantes. O apoio ao senador do DEM foi definido na 2ª feira (11.jan.2021). O candidato é apoiado por Davi Alcolumbre (DEM-AP), atual presidente e que tem a benção do presidente Jair Bolsonaro para fazer seu sucessor.

VOTAÇÃO 

Deputados e senadores se reúnem nesta 2ª-feira (1°.fev.21) para definir quem comandará as duas casas nos próximos dois anos. O Senado será a primeira casa a definir o novo presidente. Lá a eleição está marcada para começar as 14h. Já a Câmara começa a definir quem será o futuro presidente a partir das 19h. Por definição das mesas diretoras das duas casas, ambas as eleições serão presenciais. O voto também é secreto e apurado pelo sistema eletrônico.