Carlos Roberto Pereira é jornalista e ficou conhecido em Campo Grande, por integrar grupo de apoiadores do prefeito da Capital Alcides Bernal (PP). Nesta segunda-feira (14), Carlos chamou atenção depois de postar em grupo do WhatsApp áudio em que ele revela suposta "armação" feita por Bernal para instaurar Operação Coffee Break.
A equipe do MS Notícias entrou em contato com Carlos, que, em entrevista por telefone, explicou detalhes da sua versão da história. Carlos conta que conheceu Bernal em 2008, quando o progressista era ainda vereador e em 2012 trabalhou com então candidato a prefeito na campanha eleitoral. “Eu ajudava com parte das redes sociais, por ser jornalista, e então criamos um laço profissional, e em 2013 quando ele assumiu eu fui trabalhar no gabinete”.
Carlinhos, como é conhecido no meio político, manteve relação cordial de parceria com Bernal até agosto de 2015, quando segundo ele, descobriu que prefeito havia usado seu nome para efetuar denúncia no Ministério Público que originou Operação Coffee Break.
“O Bernal meses depois da cassação veio me pedir que eu assinasse uma procuração para ele para que ele pudesse pedir na Justiça acesso ao processo da cassação. Eu fui ao escritório do advogado dele o José Melk e assinei. Depois disso, os vereadores ligados a Bernal entraram com ação popular para derrubar cassação e eu fui colocado como autor da ação”.
Embora surpreso com fato de ser incluso como autor da ação sem seu consentimento, Carlinhos diz que relevou. "Até então eu confiava nele, para mim sempre foi pessoa de confiança tanto que defendi ele quando foi cassado e continuei defendendo.”
Depois da ação popular, Bernal voltou a procurar Carlinhos. Segundo o ex-comissionado, logo após exibição da matéria do programa "Fantástico" da Rede Globo que tratava sobre Operação ADNA, Bernal foi até casa dele (Carlinhos) pedir ajuda. A matéria mostrava esquema em que Gilmar Olarte é tido como responsável por trocar cheques, em branco, emprestados de terceiros, com agiotas.
“Depois reportagem do Fantástico, o Bernal me disse que precisava colocar provas na ação popular que ainda não havia sido julgada. Ele disse: ‘precisamos mexer para evitar que aconteça igual à ADNA’. Daí, ele veio cinco vezes em casa, pedindo assinatura, fazendo coisas no afogadilho. Na primeira vez que ele me disse isso eu fui com ele no MPE entregar para Humberto Brittes (Procurador Geral de Justiça), um pedido para que Humberto abrisse investigação a respeito dos fatos divulgados pelo Fantástico”, conta Carlinhos.
Carlinhos explica que foi junto com Bernal conversar com Procurador Geral e depois disso ficou um bom tempo sem ter notícias do progressista. Mas, no dia 25 de agosto, ele diz que foi surpreendido ao saber que Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) deflagrou Operação Coffee Break, que serviria para investigar suposto esquema de compra de votos de vereadores para cassar Bernal em 2014.
No mesmo dia, o prefeito Gilmar Olarte e então presidente da Câmara, Mario Cesar (PMDB) foram afastados do cargo. Dois dias depois, por decisão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, Bernal retoma comando da Prefeitura de Campo Grande.
“Logo que divulgaram Coffee Break e começaram a afastar vereador, o Olarte e esse pessoal começou a criticar MPE o Procurador, daí um amigo da imprensa me ligou e perguntou se eu tinha comprado minha armadura de titânio. Eu não entendi e depois descobri que era eu que assinava como autor da denúncia que originou Coffee Break”.
Depois de descobrir suposta “falsa denúncia” sobre Coffee Break, Carlos Pereira conta que procurou Bernal para exigir explicações. “Ele (Bernal) me disse para ficar tranquilo que nada iria acontecer. Eu tentei tirar meu nome da denúncia e daí procurei advogado e ele me aconselhou a procurar Força Tarefa do Ministério Público”.
Carlos conta que procurou os promotores da Força Tarefa, Thalys Franklin de Souza e Tiago Di Giulio Freir, para contar sua versão dos fatos. Na época, a ida do ex-comissionado de Bernal ao MPE foi questionada até mesmo pelos promotores. “O promotor Tiago me perguntou se eu estava sendo oportunista em ir lá mudar meu depoimento uma vez que eu tinha feito denúncia, mas eu respondi que não, que oportunista eu seria se tivesse ficado na gestão do Olarte, pois me ofereceram para ficar e eu recusei.".
O jornalista ainda revela que além de Bernal, quem teria conhecimento da suposta “armação” é chefe de gabinete do prefeito, Odimar Marcon e vereador Cazuza (PP). “O Marcon e Cazuza foram com Bernal em casa algumas vezes, eles sabiam”.
Carlos Pereira explica que decidiu divulgar áudio em redes sociais e aplicativos nesta segunda-feira (14) depois da conclusão do relatório do Gaeco sobre Coffee Break. “Depois que procurei Ministério Público e disse que não sabia dos fatos de denúncia, o Ministério Público não me procurou. E se essa denúncia for acatada pelo Procurador e for para Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, eu vou dizer em juízo que ele (Bernal) maquiou essa operação. Eu fui usado por Bernal, pois ele arquitetou isso”, finaliza.
A equipe de reportagem do MS Notícias entrou em contato com prefeito Alcides Bernal (PP), que, conforme assessoria de imprensa, cumpra agenda em Brasília nesta segunda-feira (14), mas ele não atendeu ligações. Já o chefe de gabinete Odimar Marcon confirmou conhecer Carlinhos, mas negou as denúncias feitas por ele. “Não tem sentido essa denúncia, eu trabalho com Bernal, mas nunca vi nenhuma situação parecida. Tudo que Gaeco apurou foi gravado com autorização judicial, mostrado à imprensa e não houve nenhuma fraude. Isso é alguém tentando desqualificar o que foi feito”.
O celular do vereador Cazuza está desligado.
Confira áudio publicado nesta segunda-feira (14) por Carlos Roberto Pereira