Por ordem do presidente Jair Bolsonaro (PL), Gilmar Santos e Arilton Moura, pastores evangélicos (funcionários fantasmas) ditam a liberação de recursos do Ministério da Educação (MEC), por meio de um "gabinete paralelo", semelhante ao montado pela Saúde durante o auge da pandemia de Covid-19.
“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do (pastor) Gilmar”, disse o ministro da Educação, Milton Ribeiro, num áudio vazado à imprensa.
A atuação dos pastores foi revelada na semana passada pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Os líderes religiosos têm nas mãos os recursos para negociar para quais obras de creches, escolas, quadras ou para compra de equipamentos de tecnologia irão as verbas. A atitude dá aos funcionários não oficiais o poder de cometer o tráfico de influência, barganhar com o poder da coisa pública.
Desde 2021, Santos e Moura negociam a liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), controlado pelo Centrão. “Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, explicou Ribeiro, ressaltando que a contrapartida é o apoio na construção de igrejas.
Segundo relatos de gestores e assessores feitos sob anonimato, os pastores negociam pedidos para liberação de recursos a prefeituras em hotéis e restaurantes de Brasília.
Em 5 de janeiro, o prefeito de Rosário (MA), Calvet Filho (PSC), gravou um vídeo com o ministro direto do apartamento dele, na Asa Norte de Brasília. Calvet falava sobre encontro "para tratar de liberação de recursos para construção de escolas, de uma creche e equipamentos".
O prefeito disse à reportagem que foi um encontro informal, mas que acabou rendendo mais. "Milton Ribeiro é pastor evangélico, amigo de outros pastores. Por causa desses amigos, estivemos juntos", disse ele, que reforçou a atuação de parlamentares nas demandas do município.
Calvet Filho negou que tenha negociado obras com os pastores. Disse conhecer Arilton pessoalmente e ter falado com Gilmar só por telefone. As conversas com os dois, diz o prefeito, foram para organizar pregações de Gilmar na cidade.
Questionados, MEC, FNDE e a Presidência não responderam. Gilmar Santos e Arilton Moura foram procurados, mas também não se manifestaram.