08 de novembro de 2024
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Editorial

As mesmas moscas agora rodeiam a gestão de Olarte

Para a população, Olarte está morto politicamente, ou deveria estar; para uma parcela dos vereadores, esse defunto pode lhes proporcionar vantagens.

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El Cid (Rodrigo Díaz de Vivar), herói cristão da Hispânia, conta a lenda que, estando morto, venceu uma batalha contra os mouros. “Sua mulher mandou amarrar seu corpo ao cavalo e sua espada a sua mão e o mandou ao campo de batalha. Ao ver El Cid em cima do seu cavalo, os mouros bateram em retirada e foram perseguidos e derrotados pelo exército Cristão. Por isso reza a lenda que Don Rodrigo de Castella venceu uma batalha depois de morto”.

Na sessão de ontem (26) da Câmara Municipal de Campo Grande, enquanto alguns poucos presentes no plenário se digladiavam entre muitos contras e poucos defensores de Gilmar Olarte (PP - sob liminar) – mas invariavelmente “todos” dando apoio aos professores que se reuniram para pressionar os vereadores em defesa de sua ‘mais do que justa’ causa –, nos corredores e salas de paredes sem ouvidos, entre a visita do contestado secretário de Governo, Rodrigo Pimentel no início da sessão e do secretário de Saúde, Jamal Salém, quando se encerravam os debates e três horas antes de seu retorno àquela Casa para o enfrentamento com os membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI do Orçamento), as moscas que rodeiam o “poder”, qualquer que seja o signatário de plantão, se agitavam.

Morto, Olarte já está, a questão neste estranho vampirismo político, onde até o sangue dos mortos alimenta, é saber como e quanto se aproveitar desse corpo político inerte. Enquanto na “Democracia” a política é uma arte, por aqui apenas uma peça de ficção, um teatro do absurdo que nunca passa da fase de ensaios porque não lhe interessa o público.

Colocada a possibilidade da instauração de uma Comissão Processante, que deverá analisar crimes cometidos pelo prefeito com mais celeridade que a Justiça e com grande probabilidade de, assim fazendo, realizar o enterro desse político insepulto, as moscas se agitaram.

Se o dia começou com a quase certeza de que Rodrigo Pimentel jogaria a toalha porque envolvido no processo de compra de vereadores que dormita nos escaninhos do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, e envolvido em suas próprias contradições, sua visita sinalizou para um pedido de sobrevida da atual gestão. Talvez até tivesse discutido a escolha de um novo líder – que está semelhante à piada da escolha de um voluntário para a guerra, que seria aquele que daria um passo à frente, e se escolhe o único desconectado que não deu um passo atrás –, mas entre os que articulavam fora dos holofotes, nenhum tem perfil ou condições.

Tivesse sido antes da instauração da CPI, com certeza Airton Saraiva (DEM) teria a estatura necessária para ocupar este pequeno espaço, mas como está relator da CPI, ainda que seja um defensor ferrenho da atual gestão, sua missão nessa condição, é mais útil para as pretensões de Olarte. Espantada a poeira, talvez recaia sobre João Rocha (PSDB) esta escolha, ele que já havia abandonado o leme, sem abandonar o barco, assim como fez Edil Albuquerque (PMDB). Tanto Airton Saraiva quanto João Rocha atuavam como líderes não oficiais, portanto... Todos os outros chamados recusaram a tarefa, afinal aproveitar-se de um insepulto pode ser, fazer-lhe companhia na cova, jamais.

Cresce a possibilidade do baixo clero e não será surpresa se Coringa vier a assumir essa árdua missão, nesse caso os iguais se atrairiam.

Resta saber o que as moscas decidiram: permanecem revoando o mesmo administrador ou se deslocam para outro foco. Isso saberemos se houver mais política e menos encenação. Nesse caso, tudo gira em torno da aprovação da Comissão Processante, que vai decidir se as moscas pousam.