16 de novembro de 2024
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OPINIÃO

Anistia vai pelos ares: 'Lobo solitário'? Terrorista é fruto do bolsonarismo

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Quase dois anos após o atentado contra a democracia do 8 de janeiro, o bolsonarista Francisco Wanderley Luiz, o “Tio França”, planejou um atentado a bomba no Supremo Tribunal Federal, o STF. Levou explosivos ao prédio do tribunal, mas não conseguiu entrar.

Jogou alguns rojões na direção do prédio e, ao ser confrontado pelos seguranças, resolveu cometer o suícidio em frente à estátua da justiça, na praça dos Três Poderes. Embriagado pela ideologia bolsonarista, Francisco quis fazer do seu suicídio um ato político.

A polícia ainda investiga se há outras pessoas relacionadas diretamente ao atentado. Mas as circunstâncias políticas já estão dadas. É possível dizer com absoluta convicção que não se trata de um episódio isolado ou ocorrido no vácuo.

Ao contrário do que afirmou Jair Bolsonaro no X, Francisco não era um lobo solitário, um maluco qualquer, mas um fanático forjado pelas paranoias produzidas pelos gabinetes do ódio e pelos discursos bélicos do ex-presidente contra a democracia, especialmente contra o STF.

Assim como tantos outros golpistas do 8 de janeiro, o catarinense foi candidato a vereador pelo PL e era um militante bolsonarista ativo nas redes sociais. Pelo teor das mensagens publicadas por ele, trata-se, sem dúvida, de um perturbado mental teleguiado pelas narrativas fabricadas pelo bolsonarismo.

Em uma mensagem publicada no Facebook, Francisco antecipou o ato terrorista que faria no STF: “Vamos jogar??? Polícia Federal, vocês têm 72 horas para desarmar a bomba que está na casa dos comunistas de merda: William Bonner, José Sarney, Geraldo Alckmin, Fernando Henrique Cardoso… Vocês 4 são VELHOS CEBÔSOS nojentos”, escreveu.

Perceba que a linguagem do texto segue à risca os padrões delirantes da militância bolsonarista: tem uma provocação à Polícia Federal, um prazo de 72 horas e chama de “comunista” qualquer direitista que não siga a cartilha bolsonarista. O palavreado é muito parecido com o utilizado por Carluxo em seus tweets e poderia ter sido escrito por qualquer militante bolsonarista.

Em outras mensagens, Francisco deixa claro que fará do seu suicídio um ato político que terá consequências positivas ao país: "Vamos brindar?? Não chores por mim! Sorria!! Entrego minha vida para que as crianças cresçam com liberdade. Que o coração de pedra dos homens maus e injustos derreta igual açúcar. Assim os novos governantes terão atitudes mais doses (doces). Aqui de cima posso ver claramente as cores do nosso lindo e amado Brasil, verde, amarelo, azul e branco. SOMOS UMA NAÇÃO ABENÇOADA!".

O tom messiânico do texto mostra que ele se vê como um mártir da causa bolsonarista.

O passado recente nos mostra que há uma alcateia de lobos dispostos a usar violência e praticar atos terroristas para atingir seus propósitos. Tivemos o episódio do caminhão-tanque que bolsonaristas planejaram explodir no aeroporto de Brasília após a eleição de Lula.

Um pouco antes, tivemos o “Acampamento dos 300”, um grupo paramilitar liderado por Sarah Winter que se instalou em Brasília em 2020 e marchou em direção ao STF com tochas de fogo. Depois de presa, Winter admitiu que as ameaças ao tribunal eram orientadas pelo Planalto.

Isso para não falar no plano dos militares para fazer uma emboscada contra Alexandre de Moraes para sequestrá-lo ou do plano de golpistas de 8 de janeiro para enforcá-lo na praça dos Três Poderes.

Não, Francisco não era um lobo solitário. Além desses e do 8 de janeiro, há muitos outros episódios de violência liderados por extremistas lobotomizados. O flerte com o terrorismo é uma constante nas narrativas bolsonaristas.

Como se vê, o terrorista não surgiu do nada. Ele é fruto claro e inequívoco da visão de mundo lisérgica e doentia do bolsonarismo e sua campanha permanente contra a democracia. Jair Bolsonaro passou boa parte dos quatro anos do seu mandato ameaçando o STF e incentivando a população a se armar.

Em 2021, durante um ato golpista na Avenida Paulista, o então presidente afirmou: "Quero dizer a vocês que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou, ele tem tempo ainda de pedir o seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais".

Em diversos outros momentos, o então presidente incentivou o povo a se armar para se preparar para uma guerra civil: “Povo armado jamais será escravizado. Comprem suas armas”.

Ainda não se sabe se havia mais pessoas por trás do ataque terrorista, mas não há dúvidas de quem forneceu o combustível ideológico. O ex-presidente Jair Bolsonaro e outros líderes do bolsonarismo são politicamente responsáveis por mais esse atentado.

CHANCES DA ANISTIA FORAM PELOS ARES

Se a eleição de Trump nos EUA serviu para animar a tropa e fazer o bolsonarismo estufar ainda mais o peito contra o STF, as novas explosões em Brasília caem como um balde de água fria para seus propósitos.

Políticos bolsonaristas já admitem que, se as chances de anistia eram remotas, agora são nulas.  A Folha teve acesso a conversas entre bolsonaristas do PL no Whatsapp e constatou o clima de velório.

"Parece que foi esse cara mesmo. Agora vão enterrar a anistia. Pqp", escreveu o deputado Gustavo Gayer (PL-GO). O colega de Câmara Capitão Alden (PL-BA) respondeu dizendo que "lá se foi qualquer possibilidade de aprovar a anistia". Em outra mensagem, o deputado Eli Borges (PL-TO) escreveu: "se tentou ajudar, atrapalhou".

O sonho da anistia para os golpistas foi enterrado de vez com as explosões em Brasília. A relação do atentado com o inquérito do 8 de janeiro é evidente, e a Polícia Federal já informou que enviará a investigação para o relator Alexandre de Moraes.

O ato terrorista reforça o óbvio: o 8 de janeiro “não foi um domingo no parque" como o bolsonarismo insiste em querer fazer parecer. Ele continua no imaginário bolsonarista e seus atos violentos seguem inspirando parte da militância.

É fundamental e urgente que o país puna exemplarmente todos mentores políticos desses atos terroristas. Anistia nunca mais!

AUTOR: João Filho, cientista social e jornalista. Autor do Jornalismo Wando.