26 de dezembro de 2024
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Nova York deve eleger prefeito de perfil esquerdista

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Folhapress

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Nova York, ao que tudo indica, vai para a esquerda. Enquanto na política nacional a ala ultraconservadora do Partido Republicano faz barulho, com sua feroz oposição ao governo Barack Obama, na maior cidade americana as pesquisas de intenção de voto para a prefeitura indicam larga vantagem para o democrata Bill de Blasio.

Com 65% das preferências, segundo pesquisa recente da Universidade Quinnipiac, o candidato do Partido Democrata ao pleito desta terça-feira tem um perfil que se encaixaria muito bem numa chapa petista. Na juventude, foi ativo defensor do governo sandinista da Nicarágua e fez sua carreira na defesa de interesses de pobres e minorias. Ocupa o cargo de advogado público da prefeitura, uma espécie de ombudsman a serviço da população.

Para completar o figurino progressista, Blasio, descendente de alemães e italianos, é casado com Chirlane McCray, uma escritora e militante feminista negra, que levantou controvérsias por ter assinado um artigo, em 1979, intitulado "Eu sou lésbica".

O principal adversário na disputa é o republicano Joe Lhota, 59, um empresário de origem modesta, que estudou em Harvard e trabalhou para a administração municipal de Rudolph "Rudy" Giuliani (1994-2001). Em 2011, foi convidado pelo governador Andrew Cuomo a assumir a direção da Autoridade Metropolitana de Transporte --órgão responsável pela maior rede pública de trens, metrô e ônibus do país.

Racionalizou despesas, planejou novas linhas e recebeu elogios durante a tempestade causada pelo furação Sandy, quando se antecipou à inundação, fechou o metrô, levou os trens para a superfície e criou conexões de emergência para auxiliar no deslocamento da população.

Na tradição de seu partido, Lhota defende mais rigor e disciplina nas finanças da prefeitura e se opõe aos subsídios sociais. Não deixa, porém, de se esforçar para ser simpático à população de baixa renda --num movimento para a "terceira via", em busca de apoio do eleitorado sem partido.

Os esforços de Lhota até aqui não frutificaram. Com 26% das intenções de voto, será difícil impedir que seu concorrente leve os democratas de volta à prefeitura de Nova York, na sequência de dois mandatos de Giuliani e de três do bilionário Michael Bloomberg, ex-republicano que se tornou "independente" a partir de 2007.

ATAQUE REPUBLICANO

Diante da evidência de um fiasco, o republicano partiu para o ataque nas últimas semanas. Elevou o tom nos debates e passou a veicular na TV um filme alarmista com imagens do passado de violência urbana de Nova York --uma época de insegurança que seria restaurada em caso de vitória de Blasio.

Do outro lado, a campanha democrata tenta colar no oponente o rótulo de candidato dos ricos. De 2002 a 2011, Lhota foi executivo sênior do magnata James L. Dolan, dono da TV paga Cablevision, do Madison Square Garden e dos times de basquete e hóquei da cidade --o Knicks e o Rangers. Nesse período, ele fez lobby para a prefeitura reduzir taxas que incidiam sobre os negócios do grupo.

Embora por si só não expliquem a vantagem de Blasio, mudanças no perfil social e demográfico de Nova York, nos últimos anos, associadas aos efeitos da crise econômica, favorecem o discurso democrata --que os críticos acusam de demagógico.

Em 1990, a população branca da cidade desempenhava um papel preponderante, com 42,3% do total --enquanto negros e latinos se dividiam equanimemente, em fatias de 25%. Hoje, Nova York possui uma população de 33% de brancos, seguida de perto pela hispânica, com 29% --enquanto os negros são 23%. A desigualdade é outra característica da metrópole: 45% de seus habitantes estão em situação de pobreza ou próximos disso.

Num artigo para o "New York Times" ("O Novo Populismo Urbano", 22/10), em que coteja esses e outros dados, o jornalista Thomas B. Edsall cita dados reveladores quanto às repercussões políticas desse quadro.

Estudos eleitorais de um instituto ligado às universidades de Stanford e Michigan mostram ser dominante entre hispânicos e negros a ideia de que cabe ao Estado zelar pela oferta de "trabalho e bom padrão de vida para todos". Já a maioria dos brancos acredita que o governo deve "simplesmente deixar que cada um um siga em frente por si mesmo".

É nesse cenário, com uma sintomática aparência de "brasilização" socioeconômica, que Blasio está prestes a conquistar Nova York.