Os yanomamis gritam, imploram para que o governo de Jair Bolsonaro para de permitir a invasão das terras indígenas em Roraima. Eles denunciaram a morte de duas crianças ao escritório das Nações Unidas, em Genebra – elas foram sugadas e assassinadas por dragas de garimpeiros nas terras do povo em Alto Alegre.
A denúncia foi protocolada em 26 de outubro. “Mais de 20 mil garimpeiros na Terra Indígena Yanomami. Jair Bolsonaro retire garimpeiros na TIY e outras terras indígenas também”, disse Dário em uma publicação no Instagram.
Este é apenas um dos casos relatados por Yanomamis. Invasões de terra, conflitos entre garimpeiros e indígenas, além da contaminação dos rios também fazem parte desta realidade do povo durante a gestão de Jair Bolsonaro.
No Brasil, as terras yanomamis estão localizadas nos estados de Roraima e Amazonas e correspondem a cerca de 9.664.975 mil hectares de floresta tropical, segundo o site do Instituto Socioambiental (ISA). Mais de 26 mil pessoas vivem nesta terra, e de acordo com a Hutukara Associação Yanomami uma área equivalente a 500 campos de futebol foi devastada na terra indígena em 2020.
O relatório ‘Cicatrizes na Floresta - Evolução do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami (TIY) em 2020’, desenvolvido pela própria Hutukara e publicado em 2021, mostra que entre janeiro e dezembro foram 2.400 hectares de área desmatada em terras yanomamis, o que significa um avanço de 30% do garimpo ilegal nesta região.
Entre as regiões mais afetadas, o documento aponta que Waikás (35%), Kayanau (23%) e Aracaçá (17%) foram as áreas mais degradadas. Em entrevista ao ISA, Davi Kopenawa, que é o presidente da Hutukara, afirma que está preocupado com a situação.
“Há vinte anos conseguimos mandar embora esses invasores e eles retornaram. Estão entrando como animais com fome, à procura da riqueza da nossa terra. Está avançando muito rápido. Está chegando no meio da terra Yanomami. O garimpo já está chegando na minha casa”, disse ele.
MINERAÇÃO ILEGAL NAS TERRAS YANOMAMIS
Já são 500 pedidos registrados na Agência Nacional de Mineração (ANM) que solicitam cerca de 3,3 milhões de hectares de terras indígenas yanomamis para extração mineral, sendo 34,3% da área total da TI. A informação foi dada pelo Amazônia Minada, projeto do InfoAmazonia.
Essas solicitações não podem ser aprovadas visto que não há no Brasil uma lei que permita a exploração mineral em terras indígenas. Entretanto, com a eleição de Jair Bolsonaro à presidência em 2019 os pedidos permanecem parados na expectativa de uma possível mudança no legislativo.
Com o avanço do garimpo e da procura pelo ouro, mesmo durante a pandemia da Covid-19, a Hutukara estima que mais de 20 mil garimpeiros estão presentes na TIY, o que é quase o dobro da população indígena que vive na região.
CONTAMINAÇÃO DOS RIOS E DESNUTRIÇÃO
Em 2018, a desnutrição crônica entre crianças indígenas menores de 5 anos era de 28,6%, de acordo com o relatório ‘Situação Mundial da Infância - Crianças, alimentação e nutrição’ da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Em entrevista à agência Amazônia Real, Ana Lice Yanomami, do baixo rio Mucajaí, em Roraima, atribui esta desnutrição, tanto das crianças quanto das mães do povo, à poluição dos rios com o mercúrio despejado pelos garimpeiros.
“Nossa comida está toda contaminada, até as mães que estão amamentando estão sofrendo, muitas estão desnutridas também, quando falamos que o garimpo tem que acabar, é porque quem está sofrendo somos nós”, afirmou.
A poluição dos rios com mercúrio pode causar danos neurológicos a longo prazo aos indígenas.
A situação tem provado uma escassez de alimentos e os indígenas passam a consumir produtos ultra processados, que são levados por pessoas de fora da terra indígena, como biscoitos e enlatados, resultando no quadro de desnutrição.
Em julho de 2020, a Hutukara entregou uma carta em que pedia a retirada dos garimpeiros ao general Hamilton Mourão. Na ocasião, o vice-presidente se comprometeu em retirar os garimpeiros da região, o que não ocorreu até o momento.
“A invasão garimpeira funciona como uma complexa rede de atividades clandestinas que exige uma logística cara. Quem financia o garimpo tem muito dinheiro. Aqueles que promovem a atividade atuam como crime organizado ligado ao tráfico de drogas e de armas. Tudo isso, em uma região de fronteira, configura verdadeira ameaça à soberania nacional”, diz um trecho da nota publicada pela associação.
*COM YAHOO