07 de setembro de 2024
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GUERRA | ORIENTE MÉDIO

Israel prossegue massacre mesmo após Biden anunciar 'cessar-fogo'

Democrata parece não ter 'força' para enfrentar o genocida de extrema direita Benjamin Netanyahu

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A política tem duas caras. Na 6ª.feira (31.mai.24), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden – em plena campanha eleitoral – anunciou um cessar-fogo ‘duradouro’ nos ataques de Israel e Faixa de Gaza, na Palestina. Apesar do anúncio, tanques e aviões israelenses seguiram o massacre na madrugada. 

Biden mencionou em coletiva ontem a “nova proposta abrangente” supostamente proporcionada por Israel, para encerrar a guerra.

Israel já matou mais de 36 mil civis palestinos – quase a metade (15 mil) crianças – teria sugerido um ‘acordo’ com o Grupo Hamas em três fazes. O primeiro, seis semanas para cessar-fogo completo, junto à retirada das tropas israelenses de todas as áreas povoadas do enclave. Neste entremeio, deve haver troca de prisioneiros entre as partes e fluxo humanitário a Gaza. “Cidadãos americanos seriam libertados neste primeiro estágio”, insistiu Biden. “Queremos que eles voltem para a casa”.

Conforme estimativas, ao menos um milhão de palestinos foram deslocados mais outra vez pela escalada israelense desde o início de maio, sob grave crise de fome. 80 mil palestinos foram feridos e dois milhões de desabrigados.

Segundo o presidente americano, o Catar transmitiu a proposta ao grupo palestino Hamas, que administra Gaza.

Em mensagem compartilhada no Telegram, na noite desta sexta-feira, o Hamas disse acolher os comentários de Washington, conforme “cessar-fogo permanente, retirada das tropas ocupantes, reconstrução de Gaza e troca de prisioneiros”.

O grupo expressou prontidão em responder “positiva e construtivamente” a qualquer proposta que inclua as medidas supracitadas, além do retorno dos palestinos deslocados a suas casas em Gaza, caso Israel “se comprometa explicitamente” com os termos do acordo.

O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou em nota que o chefe do governo autorizou sua equipe de negociação a “apresentar uma proposta” para avançar na pauta da libertação dos reféns mantidos em Gaza.

A medida, no entanto, iterou o comunicado, deve permitir Israel a “continuar com a guerra até que seus objetivos sejam conquistados, incluindo a destruição das capacidades de governança e combate do Hamas”.

Para Netanyahu, “a noção de que Israel concordará com um cessar-fogo antes dessas condições serem cumpridas é carta fora do baralho”.

As declarações, embora motivo de ceticismo, coincidem com pressão sem precedentes a Israel e Estados Unidos — seu maior apoiador — sobretudo após imagens gráficas de um massacre em um campo de refugiados de Rafah, no sul de Gaza, circularem nas redes em todo o mundo. As imagens mostravam cadáveres de crianças carbonizadas por bombas disparadas pelos militares israelenses. 

ESTRATÉGIA ELEITOREIRA 

Biden está se vendo obrigado a parar a guerra, para a qual já destinou bilhões de dólares e vetos no Conselho de Segurança, ante ao recorde de rejeição que sofre nos EUA, diante de uma dura campanha eleitoral na qual volta a enfrentar Donald Trump.

O Democrata parece não ter 'força' para enfrentar o genocida de extrema direita Benjamin Netanyahu. A Casa Branca havia 'gritado' aos quatro ventos que se Israel invadisse Rafah estaria cruzando uma 'linha vermelha' com os EUA. Netanyahu invadiu a massacrou milhares em Rafah e os EUA nada fizeram até agora. 

Biden desfruta do apoio de menos de 20% de eleitores árabes americanos, grupo crucial nos chamados “swing states”, isto é, sem definição partidária, que podem decidir o pleito.

A votação está marcada para 5 de novembro. A prorrogação da guerra em Gaza — por mais sete meses, conforme Tzachi Hanegbi, assessor de Segurança Nacional de Israel — deve certamente impactar os resultados de Biden.

“Os sinais estão claríssimos para todo mundo ver”, comentou Josh Ruebner, do Programa de Paz e Justiça da Universidade de Georgetown, em conversa com a Al Jazeera. “Caso Biden insista em seu apoio irredutível a Israel — não apenas dezenas de milhares morrerão — como ele próprio perderá a eleição”.

Segundo a analista política Nour Odeh, a proposta não difere “fundamentalmente” das rodadas anteriores. Todavia, é marcante que Biden assuma a dianteira. “O presidente prometeu garantir que Israel cumpra sua parte da barganha, desde que os mediadores convençam o Hamas”.

Em 6 de maio, o Hamas reportou ter consentido com um cessar-fogo mediado por Egito e Catar, semelhante ao plano presente. Na ocasião, Tel Aviv rejeitou a proposta, após um breve flerte na mídia estrangeira, embora impassível no idioma hebraico.

Biden observou que a segunda fase do acordo deve compreender a soltura de “todos os reféns ainda vivos”, em troca da retirada israelense do enclave e “cessação das hostilidades”.

Contudo, acrescentou aos jornalistas: “Serei franco com vocês, há vários detalhes que temos de negociar para ir da primeira à segunda fase. Contudo, o plano prevê que, caso as negociações se estendam para mais de seis semanas, na fase um, o cessar-fogo continuará”.

A reconstrução de Gaza, não obstante, ocorreria apenas na terceira fase, com a devolução dos corpos dos israelenses mortos no enclave ao longo da guerra.

Biden admitiu ainda que, embora o plano tenha anuência preliminar de Israel, alguns líderes do país — incluindo membros da coalizão de Netanyahu — devem divergir da proposta, ao insistir na manutenção do conflito.

Netanyahu deve enfrentar um novo voto de censura em breve, após a introdução de um projeto de lei do partido União Nacional — do ex-general Benny Gantz, membro do gabinete de guerra — para convocar novas eleições, conforme apelos de 70% da população.

A coalizão de Netanyahu possui maioria no parlamento (Knesset), para obstruir o voto, mas os ministros Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional) e Bezalel Smotrich (Finanças) ameaçam implodir o governo caso haja um cessar-fogo.

Netanyahu, por sua vez, teme que o colapso do gabinete culmine em sua prisão por corrupção, sob três processos ainda em curso.

O primeiro-ministro — junto do ministro da Defesa, Yoav Gallant — tem também um mandado de prisão solicitado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), radicado em Haia.

Biden observou: “Deixaram claro: Querem ocupar Gaza. Querem lutar por anos. Os reféns, para eles, não são prioridade. Mas peço à liderança em Israel que apoie este acordo, não importa a pressão que o suceda”.

FONTE: MONITOR DO ORIENTE.