Na noite desta 3ª feira (29.jun.2021), o Jornal Folha de S. Paulo divulgou um material apontando que o Governo Bolsonaro pediu propina de US $1 por dose de vacina, segundo o representante da empresa Davati Medical Supply.
Segundo apuração da repórter Constança Rezende, o representante, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, afirmou que foi Roberto Ferreira Dias - diretor de Logística do Ministério da Saúde - quem fez a cobrança. O encontro teria acontecido ainda em 25 de fevereiro, durante um jantar no restaurante Vasto, localizado no Brasília Shopping.
Ricardo Barros, que é líder do governo de Jair na Câmara - já citado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), por Luis Miranda na última 6ª (25.jun.2021)-, foi o responsável por indicar Roberto Dias ao cargo, ainda na gestão do ex-ministro sul-mato-grossense, Luiz Henrique Mandetta.
De acordo com o veículo de imprensa, Davati buscou o Ministério da Saúde com intenção de negociar 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca. A proposta feita seria de US $3,5 por cada, sendo que, após isso, esse valor passou a girar na casa de US $15,5.
Cristiano Alberto Carvalho se apresenta - segundo a Folha - como representante da Davati Medical Supply, e foi o responsável pela ponte entre o jornal e Dominguetti.
Ainda, segundo informações da agência de notícias Folhapress, a Cúpula da CPI - na pessoa do presidente Omar Aziz (PSD-AM), informou que irá convocar Luiz Paulo Dominguetti para depor na 6ª feira (02.jul.2021).
Nas palavras do presidente da Comissão, essa é uma "denúncia forte", o que justifica o depoimento marcado em uma data tão próxima. Também o vice-presidente, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apontou que "a denúncia terminou de escancarar a porta que abrimos na 6ª feira (25.jun)".
Desde janeiro, Domingueti representa a Davatti e, em declaração à Folha, contou que ouviu, no encontro de fevereiro, que seria necessário "compor com o grupo".
"E eu falei: 'Mas como compor com o grupo: Que composição seria essa?'. Ele me disse que não avançava dentro do ministério se a gente não compusesse [com o grupo], que existe um grupo que só trabalhava dentro do ministério, se a gente conseguisse algo a mais tinha que majorar o valor da vacina, que [a vacina] teria que ter um valor diferente do que a proposta que a gente estava propondo", disse o representante à repórter Constança Rezende.
Se negando a aceitar, Dominguetti apontou que a vacina vinha "de fora" e que eles não operavam daquela forma, apontou. Em resposta ouviu então que “para vender vacina ao ministério teria que ser dessa forma”.
Dominguetti, que afirmou ter achado estranha a situação, disse que não estava sozinho no jantar e que, além de Roberto Dias, estavam presentes um militar do Exército e um empresário de Brasília.
Segundo o representante da Davati, por não aceitar a propina, ninguém queria a vacina. Que após o jantar no dia 25 de fevereiro, data em que o país registrava 250 mil mortos, Dominguetti foi chamado ao Ministério da Saúde para um novo encontro com Dias, onde foram pedidas as documentações necessárias.
"Eu disse para ele que teriam que colocar uma proposta de compra do ministério para enviar as documentações, as certificações da vacina, mas que algumas documentações eu conseguiria adiantar", apontou ele à Folha.
Ainda no Ministério, colocado em uma sala ao lado enquanto Roberto Dias ia para uma suposta reunião, Dominguetti recebeu uma ligação perguntando se ia ter o acerto.
"Aí eu falei que não, que não tinha como. Me chamaram, disseram que ia entrar em contato com a Davati para tentar fazer a vacina e depois nunca mais. Aí depois nós tentamos por outras vias, tentamos conversar com o Élcio Franco (ex-secretário executivo do ministério), explicamos para ele a situação também, não adiantou nada", relatou o representante.
Entretanto, Dominguetti decidiu por não especular sequer quem seria o tal "grupo a ser agradado" dentro do ministério, uma vez que diante da conversa sobre a propina "já sabia que o trem não era bom".
Ele contou à Folha que, trazer a vacina para o Brasil, pelo mesmo valor que era vendida em países estrangeiros, "era um sonho". "Não existia aquele negócio de majorar, de ganhar, era mais um sonho, a gente sonhava com isso. Fazia parte do processo, entrar na história como alguém que ajudou", afirmou.
** (Com informações Jornal Folha de S. Paulo e agência de notícias Folhapress).