A granel é uma coisa sem qualquer embalagem ou acondicionamento. No sentido figurado, refere-se a algo em grande quantidade, a rodo. Assim é a corrupção nossa de cada dia. Está em todos os lugares e, na política, parece ser sine qua non.
Nisso têm razão os petistas, quando reclamam dos ataques à presidente Dilma Rousseff, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aos demais membros do partido envolvidos em uma série que iniciou com o “Mensalão”, passa pelo “Escândalo Petrobras” e parece que terá novos capítulos envolvendo Saúde, Caixa, BNDES e vai por ai afora. Mas não são apenas petistas os envolvidos. Não são apenas escândalos envolvendo os governos petistas.
E, para cada crítica, que eles consideram sempre “ataques desmedidos”, entoam o bordão de Sócrates, o Macaco: “Só eu?! Cadê os outros?!
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Na base do “quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”, nossa esquerda não mediu ou conteve a sanha com que se atirou ao dinheiro fácil da corrupção. Na base de “os fins justificam os meios”, para – supostamente—compor a base financeira de campanha, pagou tributo aos “intermediários”, a tal ponto que um gerente ressarcirá os cofres públicos em US$ 150 milhões. Muito mais deve ter sido a parte dos diretores, obedecida a hierarquia. Se estes são atravessadores que recebem, em última análise, comissões, quanto terá sido, afinal, a parte grossa da coisa, a parte do leão que coube aos partidos políticos?
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E, por analogia, se os partidos que se beneficiaram desses esquemas são xifópagos – estreitamente ligados por inclinação e temperamento –, e o PT encabeça a cadeia de comando, culpa maior lhe cabe. E todos, sem exceção, são culpados por cumplicidade, se sabiam e participaram, ou incompetência se não sabiam, ou ainda por omissão, se sabiam e nada fizeram.
Mas, agora nós perguntamos, cadê os outros?
E vem bem a calhar nosso poeta Carlos Drummond de Andrade: "O poeta municipal / discute com o poeta estadual / qual deles é capaz de bater o poeta federal. / Enquanto isso o poeta federal / tira ouro do nariz"
O que faltou aos políticos menores que não foram às ruas? Não fazem parte da população? Em tese, não representam a população que se manifestava? Parece que faltou coragem, mas não faltou prudência. Nessa hora, o que menos querem são holofotes.
Afinal, a pesquisa Datafolha, em levantamento realizado no domingo (12) com manifestantes da Avenida Paulista em São Paulo, comprovam que parcela significativa da população protestava contra a “corrupção”, aquela sem sobrenome e, sobretudo sem endereço. Mas como o que tem tido destaque na mídia nacional são os casos de corrupção federais, ou comandados a partir dos palácios e gabinetes de Brasília, e como as manifestações tinham caráter nacional, parece que a menção à corrupção e desmandos nossos de cada dia, ficou para outra seara.
Diferente dos petistas, assim entenderam nossos políticos municipais e estaduais, e se resguardaram para não avivar as memórias.
Almoço grátis?
Sem pretender reinventar a roda, mas com sagacidade, os jornalistas Ricardo Galhardo, Vamar Hupsel, Ricardo Chapola e Fábio Leite, do jornal O Estado de S. Paulo, questionaram sobre as fontes de arrecadação dos grupos que organizaram os recentes protestos. Destaque a nível nacional para os movimentos Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre e Revoltados On-Line, que não fornecem nota fiscal de venda dos produtos comercializados e que levam as suas marcas. Justificam que a comercialização das peças, bem como as doações recebidas, financiam suas atividades.
Mas não existe almoço grátis em política. Uma parcela da população se apercebeu disso, e parece ser aquela que não compareceu à manifestação. Ainda que desejassem, não pretendem ser usadas como massa de manobra, nem deste, nem daquele. A organização proposta, com bandeiras, faixas produzidas, organização, trios elétricos para animar (??? —animar o quê se a revolta nasceu da desilusão?), tirou o caráter espontâneo de ir para a rua com o direito de protestar e exigir as mais díspares soluções, do impeachment da presidente ao retorno à ditadura.
Bem, ainda que o grande produtor consiga safras recordes, temos que aguar nossa pequena horta para que possamos comer hoje. Então, sem perder o foco na grande sangria nacional, vamos ver quanto de ouro tira do nariz nossos vereadores, nossos prefeitos, nossos deputados e nossos governadores.