Especialistas e analistas de guerra americanos temem que o o partido Hamas tenha desenvolvido surpresas bélicas nos últimos anos, especialmente no que diz respeito aos drones aquáticos ou armas até desconhecidas.
Jornais americanos recordaram, na 5ª feira (19.out.23), o assassinato do engenheiro aeronáutico tunisino, Mohamed Al-Zouari, em 2016, que foi o mentor do desenvolvimento da indústria de drones do movimento para abastecer a resistência Hamas.
O Ministério do Interior tunisino acusou um serviço de inteligência estrangeiro de estar por trás do assassinato de Al Zouari. De acordo com o relato oficial tunisino sobre a execução, 11 pessoas estiveram envolvidas no planeamento e execução da operação, incluindo três tunisianos e oito estrangeiros. A operação foi planejada fora da Tunísia e envolveu enormes quantias de dinheiro.
QUEM FOI AL ZOUARI
Mohamed Zouari tinha apenas seis anos quando eclodiu a guerra de Outubro de 1973 — Guerra do Yom Kippur — em Sfax, na Tunísia. Zouari, com sua “aparência jovem” e olhos verdes, veio de uma família modesta e conservadora.
Ele tinha acabado de começar a escola primária e um caso grave de asma afetou seu corpo frágil. Sua mãe o carregava nas costas para a escola todos os dias e esperava para levá-lo para casa.
Apesar dos problemas de saúde, o excelente desempenho acadêmico de Zouari alimentou a sua determinação em prosseguir os estudos.
Quatro décadas depois, o menino asmático se transformou em um engenheiro habilidoso.
INSPIROU-SE NO FUNDADOR DO HAMAS
Em 1991, no distrito de Daerat Al-Zeit, em Sfax — cidade natal de Zouari — 15 jovens reuniram-se numa residência modesta, todos oriundos de várias províncias, mas unidos pela sua filiação ao movimento islâmico. Cada um deles tinha sua própria história, causa e aspiração distintas. Mas todos foram atraídos pela personalidade carismática do palestino Sheik Ahmed Yassin, o fundador do Hamas, que cumpria pena de prisão perpétua decretada por israeleneses.
Tetraplégico e praticamente cego, Yassin locomovia-se em cadeira de rodas desde que fora vítima de um acidente esportivo aos 12 anos de idade. Ao longo de sua vida, tornou-se o símbolo da resistência palestina aos colonos israelenses.
Em 1997, Sheikh libertado em troca de dois agentes do Mossad (Serviço Secreto Israelense, equivalente a CIA; agem fora da lei), capturados em solo jordaniano quando tentavam matar outro integrante do Hamas, Khalid Meshal. Yassin foi morto em 22 de março de 2004, aos 67 anos, em um assassinato seletivo realizado por helicópteros da Força Aérea de Israel — no mesmo ataque outros 9 palestinos foram assassinados.
ZOUARI NO HAMAS
De acordo com um relato fornecido pelas Brigadas Al-Qassam (exército do Hamas), Zouari foi recrutado em 2006 devido à sua notável proficiência em engenharia mecânica, ciência da computação e tecnologia militar.
Antes de entrar para a luta do Hamas, ao longo de 20 anos, Zouari viajou pelo mundo. Ele passou um longo período no Sudão, onde também lutou ao lado de um grupo de jovens perseguidos pelas forças de segurança devido ao seu envolvimento no movimento "Liberação da Iniciativa" — uma causa da qual o Movimento Ennahda (partido político da Tunísia) mais tarde se distanciou. Zouari viu milhares de jovens de 15 e os 26 anos encarcerados e condenados a penas severas, deixando para trás famílias inteiras e rotuladas como terroristas.
Após ser recrutado pelo Hamas, Zouari mudou-se para Gaza, onde desempenhou um papel fundamental no avanço da indústria de drones, dando origem ao drone "Ababil-1", utilizado pela primeira vez durante a Operação Al-Asf Al-Maakoul (palha mastigada).
Após colaborar por anos com o Hamas na resistência, Zouari decidiu voltar à Tunísia. A decisão veio com a queda do regime do presidente Zine Al-Abidine Ben Ali. Ele procurou continuar suas atividades acadêmicas na mesma universidade onde havia se destacado anteriormente. Ele contava que estava voltando para realizar seu sonho de obter um diploma de engenharia que levasse seu nome verdadeiro em sua terra natal.
Em outros países, como nomes "falsos" ele havia se formado em engenharia e fundado o "Southern Aviation Club". No regresso, o clube acolheu jovens talentos do sul da Tunísia que desconheciam o papel significativo de Zouari no Hamas.
Zouari por muito pouco não conquistou o sonho de obter um diploma de engenharia no seu país, pois ele foi assassinado meses antes de defender sua tese de doutorado, que incluía seu projeto de graduação e a invenção de uma aeronave não tripulada.
APAIXONADO PELA PALESTINA
As invenções de Zouari representaram uma oportunidade para ligar o seu nome à causa palestina, na qual ele acreditava apaixonadamente.
Uma declaração das Brigadas Izz al-Din al-Qassam, emitida apenas um dia após o início da Operação Al-Aqsa Flood, em 7 de Outubro, colocou Zouari no centro das atenções.
A declaração revelou que o Hamas empregou 35 drones suicidas Zouari em todas as frentes, abrindo efectivamente o caminho para os seus combatentes penetrarem nos territórios ocupados.
Foi por meio destas declaração que muitos souberam quem era o engenheiro Zouari, semelhante à forma como os tunisianos o conheceram pela primeira vez em 15 de dezembro de 2016, quando ele foi executado.
O Hamas acusou a Mossad israelita de orquestrar este assassinato, enfatizando o papel de liderança de Zouari, a sua supervisão de projetos como as iniciativas de aviões e drones Ababil, e um projecto de submarino pilotado remotamente.
HERANÇA DE ZOUARI
Al-Zouari fabricou drones aquáticos autônomos que poderiam ser equipados com explosivos para atacar plataformas petrolíferas, portos e navios marítimos.
À medida que a guerra em Gaza aumenta e a grande força bélica de israelitas massacram a população palestina, aumentam as probabilidades de o Hamas revelar uma “surpresa fatal”.
Jornais ocidentais especulam que os fabricantes de armas do movimento adquiriram tecnologias para uma série de novas armas, que vão desde poderosas minas e bombas rodoviárias até munições guiadas com precisão, observando que algumas delas foram desenvolvidas por engenheiros do Hamas fora de Gaza, e na maioria dos casos com suposta assistência técnica do Irã.
Os americanos disseram à imprensa que teme um susposto arsenal reserva do Hamas mais avançado tecnologicamente, para ser utilizado em resposta a um ataque terrestre israelita que o movimento os líderes sabem que definitivamente está chegando.
“É muito possível que o Hamas tenha capacidades que ainda não vimos, mas que poderemos descobrir mais tarde”, afirmou Fabian Haines, especialista em mísseis e analista de defesa do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, um think tank (laboratório de ideias) britânico.
"Se o Hamas seguir o mesmo manual do seu aliado Hezbollah – o grupo militante apoiado pelo Irã que entrou em guerra com Israel em 2006 – o movimento poderá tentar arrastar as forças israelitas por terra e depois lançar ataques inesperados, talvez contra alvos distantes da linha da frente", comentou Haines.
Ele continuou: “A ideia é atingir um nível mais alto de escalada e depois tirar o coelho da cartola”.
A citação à imprensa referenciou a inesperada surpresa militar do Hezbollah na guerra de 2006: um míssil anti-navio.
Haines lembrou que na época as agências de inteligência israelenses não viram nenhuma evidência de que o Hezbollah fosse capaz de atingir navios de guerra a quilômetros da costa até 12 de julho daquele ano, quando um míssil atingiu a nau capitânia da Marinha israelense, INS Hanit, matando 4 tripulantes .
Autoridades israelenses dizem que os milhares de foguetes e mísseis que o Hamas disparou contra Israel, até agora, carecem de pacotes de orientação sofisticados, embora muitos especialistas acreditem que o grupo militante adquiriu a tecnologia principal do Irã ou do Hezbollah anos atrás.
NETANYAHU
Na época que foi executado em frente a sua casa em seu país natal, Zouari foi parar na lista dos agentes da Mossad. O nome de Zouari teria sido colocado na lista por ordem do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que tomou tal decisão logo após o sucesso de Zouari no projecto do “submarino pilotado remotamente”.