30 de março de 2025
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Prefeitura abandona pacientes de hemodiálise: "Vão esperar alguém morrer", diz vereadora

Com a van parada, pacientes com situação delicada de saúde passam a noite na calçada do hospital

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Cerca de 10 pacientes da hemodiálise — tratamento que filtra o sangue de pessoas com insuficiência renal — foram deixados para trás na noite da 3ª-feira (25.mar.25), em Porto Murtinho (MS), pela prefeitura da cidade. Eles deveriam chegar por volta das 6h da manhã desta 4ª-feira (26.mar.25) em Campo Grande (MS) para realizar o tratamento.

De acordo com a vereadora Marcela Quinones (PL), a administração municipal mandou um micro-ônibus que não comportava todos os pacientes. “É um veículo que não cabe todos os pacientes, há um TAC em que a prefeitura se compromete em oferecer transporte adequado, porque são pacientes em situação de saúde delicada, não podem ir amontoados. O que vão esperar? A prefeitura parece que está esperando alguém morrer para solucionar isso, é um descaso total com o cidadão, o cidadão murtinhense”, protestou a legisladora.

A vereadora Marcela Quinones, ao celular, sentada no meio-fio do hospital em que os pacientes renais aguardam transporte para a Capital. Foto: Denuncia de LeitorA vereadora Marcela Quinones, ao celular, sentada no meio-fio do hospital em que os pacientes renais aguardam transporte para a Capital. Foto: Denuncia de Leitor

Ao todo, fazem uso do transporte 26 pacientes e seus acompanhantes, o que supera a capacidade de um micro-ônibus de 20 passageiros. Foram deixados para trás doze pacientes, alguns deles, pela madrugada, começaram a ter sintomas de glicemia e precisaram ser levados ao hospital local.

Micro-ônibus superlotado deixou a cidade sem levar todos os pacientes renais. Foto: Denuncia de LeitorMicro-ônibus superlotado deixou a cidade sem levar todos os pacientes renais. Foto: Denuncia de Leitor

No Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado entre a prefeitura de Porto Murtinho e o Ministério Público Estadual (MPE) em 2022, consta que o transporte estaria sendo feito por dois veículos adquiridos e mantidos pelo Fundo Municipal de Saúde (FMS) da cidade.

Samir Mohamed Kadri, de 48 anos, um dos pacientes dependentes do transporte, lamentou que, apesar de alegar à justiça que está cumprindo o TAC, a prefeitura reiteradamente submete as pessoas a tal situação. “Não somos tratados com respeito, tem pessoas aqui que vão morrer à míngua porque a prefeitura não faz o papel dela. O que estamos pedindo é que seja disponibilizado, portanto, um ônibus para o serviço. Eram um micro-ônibus e uma van, agora é só um e não comporta todos nós”, explicou.

Mohamed faz tratamento há 5 anos e já protocolou inúmeras denúncias no Ministério Público. "O mricro-ônibus estava lotada. Estamos mais uma vez na luta, somente nosso direito que estamos reivindicando, esperando uma solução por parte do prefeito, da secretária de saúde", lamentou ele ao lado de uma van que poderia ser usada para levar o restante do pessoal, mas que está parada.  

“Eu liguei e mandei mensagem tanto para o prefeito Nelson Cintra quanto para a secretária, mas nenhum dos dois me responderam. As pessoas estão aqui, virando a noite num descaso dessa gestão. Não é possível; isso revolta, porque não acreditam que pagamos impostos para isso. Nós, todos, temos que ter nossos direitos respeitados e o que vejo aqui é a prefeitura violando direitos básicos que esses pacientes conseguiram não por boa vontade da gestão, mas conseguiram na justiça. Eles precisam de um ônibus e vamos correr atrás disso, basta desse descaso!”, completou a vereadora Quinones.