07 de setembro de 2024
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HISTÓRIA ULTRAJADA

Gestão de Porto Murtinho jogou no lixo um dos principais registros memoriais do Município

Abandonado e em ruínas, Museu D. Jaime Barreira hoje não é sequer um atrativo para a galeria cultural da Rota Bioceânica 

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Quando entrar em operação efetiva, a Rota Bioceânica vai oferecer aos seus usuários da América Latina e outros continentes uma expressiva quantidade de endereços e pontos de visitação turística, principalmente os marcos civilizatórios e culturais. Infelizmente, para Porto Murtinho, uma de suas mais preciosas relíquias arquitetônicas corre sério risco de ficar de fora desta nobre galeria: o Museu Cultural D. Jaime Aníbal Barreira, antiga Padaria Cuê.

Nos últimos anos, e sobretudo na atual gestão, o prédio construído entre 1827 e 1928 sofre um verdadeiro massacre, castigado pelo completo abandono a que foi atirado pela administração do prefeito Nelson Cintra (PSDB). Sem ter a mínima noção da grandeza histórica da obra, o prefeito simplesmente deixou a construção ao relento, abandonada, saqueada e sob um criminoso desuso. 

Foto: ReproduçãoFoto: Reprodução

O local, com as salas e paredes em deterioração, sem vigilâncias e totalmente aberto, já não tem mais a maioria das peças, documentos e outros registros de época. Seus espaços agora são de desocupados, que fazem ali ponto de moradia e outras necessidades. Não é nem sombra do ambiente acolhedor, instrutivo e de lazer que há pouco tempo ainda era atração das famílias e núcleo importante para o conhecimento e atividades educativas para todas as idades.

Foto: ReproduçãoFoto: Reprodução

PADARIA E MOINHO

O prédio foi erguido por construtores espanhóis que seguiam as orientações do comerciante uruguaio Jaime Aníbal Barreira. O projeto foi concebido para abrigar uma padaria e um moinho de trigo no final da década de 1920. Chama a atenção a criativa combinação entre o rústico e o sofisticado nas suas estruturas, com caprichadas influências da arquitetura europeia. Em 1954 foi comprado pela Cooperativa Florestal Brasileira S/A, que em 1978 o entregou ao Estado de Mato Grosso do Sul para quitação de dívidas. 

Foto: ReproduçãoFoto: Reprodução

Em 2004, no governo de Zeca do PT, foi inaugurado no espaço da Padaria Cuê – que em guarani significa “antigo” -, o Museu Dom Jaime Aníbal Barrera.  Além de investir na restauração do prédio, Zeca ainda o abasteceu de peças, móveis, utensílios, fotos e documentos doados pelas famílias murtinhenses e paraguaias. Formou-se um dos maiores acervos históricos e culturais da região, com objetos e registros que lembram, por exemplo, os tempos dos ciclos econômicos da Erva-Mate, do Charque e também do Tanino. Lamentavelmente, quase todas estas relíquias foram extraviadas.

Para realçar a importância maiúscula do histórico imóvel, no dia 21 de fevereiro passado, com base no parecer favorável do Conselho Estadual de Políticas Culturais, o Governo do Estado sacramentou oficialmente os processos de tombamento de duas edificações importantes em território murtinhense, a Padaria Cuê e a Prefeitura Cuê. Com isto, apesar de pisoteadas pela ignorância de quem não valoriza a história do lugar aonde mora, as duas obras foram incluídas no rol do Patrimônio Cultural Material de Mato Grosso do Sul.