15 de novembro de 2024
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OMISSÃO | LEGISLADORES DE MS

Após denunciar prefeito, vereador diz estar sendo ameaçado por Guarda Patrimonial

Situação em Porto Murtinho revela Casa de Leis omissa e prefeito que usa veículo oficial para segurança de fazenda

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O vereador Helton Atele (PP), registrou boletim de ocorrência em 29 de abril de 2022, por ameaça em desfavor do coordenador dos Guardas Patrimoniais de Porto Murtinho (MS), Jhony Ramão Izidre, de 30 anos. O vereador relatou que as ameaças ficaram mais agressivas desde que ele fez uma denúncia sobre o uso indevido de uma motocicleta da prefeitura por um ‘guarda informal’ da fazenda do prefeito Nelson Cintra (PSDB). Em contraponto, o guarda diz que é perseguido pelo vereador e outros legisladores. 

Conforme Atele, os atritos com o guarda ocorrem desde as eleições de 2020. “Esse guarda aí disputou eleição, mas teve só 3 votos, um cara que foi nomeado e está fazendo esse trabalho, acredito eu, em razão das denúncias de uma motocicleta que revelamos que estava sendo usada indevidamente pelo prefeito. Eu acredito que isso aí [perseguição] tenha cunho político”, iniciou o vereador progressista.  

Atele disse que o flagrante ocorreu na noite do dia 19 de abril. O funcionário informal, Júlio Cezar Millan, foi surpreendido trafegando na BR-262, sentido a uma fazenda de Cintra, em uma moto Honda Bros 2022, de propriedade da prefeitura. “Ele não é funcionário público, não poderia estar usando um veículo oficial para serviços particulares do prefeito e, pior, ele não tinha habilitação”, denunciou, Atele.  

Apuramos que a motocicleta é de fato da prefeitura e que o funcionário não é nomeado, aliás, Millan estaria trabalhando há 6 meses para Cintra de maneira irregular. (Veja abaixo). 

Em áudios a que a reportagem teve acesso, Millan, confirma que trabalha há 6 meses na fazenda de Nelson Cintra e até o momento não foi registrado formalmente. [Millan fala com uma assessora do prefeito]: “A senhora pode comunicar o seu prefeito que já está indo para o sexto mês e nada de ele registrar minha carteira, preciso que registre minha carteira...”, e segue num áudio em que também está falando em espanhol: 

MS Notícias · O funcionário informal, Júlio Cezar Millan

Ele ainda solicitou, na mensagem de áudio (acima), que lhe forneça um cartão para abastecer a motocicleta, que, conforme documento de Cautela assinado por Daniel Adam Soares Morais, Assessor Extraordinário de Ações Estratégicas, foi entregue à Millan em 3 de março de 2022.

Após revelar a situação na Casa de Leis municipal, o vereador tentou abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra Nelson Cintra, mas não teve assinaturas suficientes. “Nosso regimento interno regulamenta três assinaturas para abertura. Não consegui porque teve alguns vereadores que alegaram que é pouca coisa. Se fosse alguma questão financeira seria diferente. Mas o entendido é simples: não importa o valor, o crime é o mesmo!”, argumentou o vereador.  Diante disso, a situação foi encaminhada ao Ministério Público Estadual que deve apreciar.  

Desde o episódio, Jhony teria usado as redes sociais para desferir os seguintes avisos ao vereador: "Bom, vereador cenourinha, você vai correr do Capeta, mas não de mim, c*%$ de caça mosca. Estou à sua procura para esclarecer essa história que anda falando, que eu recebo 30 mil por mês. Uma coisa eu vou falar para você, eu não sou esses carinha que você fica cagarejando ai no microfone da Câmara. Aqui, nós bota para tocar, pa pum! Vai der laive, meu vereador cenourinha (sic)", postou Jhony. Veja:

Postagem no Facebook mostra que Jhony  de fato ameaçou o legislador. Foto: Redes

Ato de nomeação de Jhony. Foto: Redes Ato de nomeação de Jhony. Foto: Redes 

A reportagem procurou o Jhony Ramão Izidre, que prontamente negou que fez ameaças ao vereador, apesar de haver os prints que mostram os episódio ligados a sua conta de rede social.

Jhony sustentou que, na verdade, ele é quem vem sendo perseguido, assim como os guardas patrimoniais em geral: “Eles fizeram essa abordagem do guarda da fazenda do prefeito de maneira irregular... agora, o marido da vereadora Aline Costa, que também estava no dia da abordagem, começou a me fazer ameaças... ficam perseguindo nós da guarda — durante ronda à noite, isso é perigoso, nós somos funcionários públicos”, disse ele, enviando uma sequência de prints ao site, em que diz que comprovaria as ameaças, mas o teor do diálogo não sustenta a acusação de Jhony, que parece na verdade, ser amigo do interlocutor.  

Jhony também defendeu a prefeitura e a administração de Nelson Cintra. "Eles inventaram um monte de coisa. Estão abusando do poder, não podem ficar abordando as pessoas, perseguindo. Inventaram coisas contra a prefeitura, a administração para prejudicar o prefeito", argumentou, ao telefone. Apesar da defesa de Jhony, Millan não é guarda patrimonial, não sendo possível compreender o porquê ele diz que o vereador fez abordagem a um servidor público". 

A vereador Aline Costa, citada por Jhony, também é do PP. Ela revelou ao MS Notícias algo que Atele tinha mencionado. “Não procede isso de que estamos perseguindo os guardas, inclusive, não há nada que indique isso. O que existe, na verdade, é que o Jhony persegue a gente desde as eleições, ele concorreu pelo mesmo partido, mas não se elegeu... Ele está sempre procurando uma polêmica, só ver as redes sociais dele”, indicou a legisladora. 

Seguindo a orientação, a reportagem acessou o perfil de Facebook de Jhony e lá, todas as denúncias feitas por Atele e Aline estavam materializadas com horários e, inclusive, diversos vídeos ao vivo. Veja: 

Mais uma ameaça de Jhony contra o legislador.  Mais uma ameaça de Jhony contra o legislador.  

O MS Notícias confirmou que além de sempre buscar a polêmicas em suas postagens, Jhony usa muito sua rede social para atacar Atele e para fazer promoção de Nelson Cintra como Chefe do Executivo. Em diversas mensagens, ele celebra a administração e rasga elogios ao gestor tucano: 

Por outro lado, tem diversos posts com ameaças veladas e vídeos em que chama o legislador Atele de "Cenourinha": 

MARIDO DA VEREADORA

Sobre as supostas ameaças que o seu esposo teria feito contra Jhony, Aline rebateu: “O Jhony é um conhecido do meu esposo, que era de dentro da casa dele, da mãe dele... vivia lá. Desde que aconteceu o desfecho das eleições e diante de algumas declarações do Jhony, o meu esposo o convidou para uma conversa. Ele disse: eu quero conversar contigo, mas tem que ser pessoalmente’; mas não foi em tom de ameaça era para tentar entender o que se passa com o Jhony, porque está falando essas coisas”, esclareceu a vereadora. 

A DENÚNCIA SOBRE A MOTO

Motocicleta Broz 2022 utilizada por guarda informal da fazenda de Nelson Cintra. Foto: Reprodução Motocicleta Bros 2022 utilizada por guarda informal da fazenda de Nelson Cintra.  (Fonte ao MS Notícias) 

Apesar de terem provas e tudo que dê sustentação para abertura de uma CPI na Casa de Leis, Aline disse não compreender o que move os colegas. “Eu não consigo compreender, são várias provas. Eu não consigo mesmo compreender essa decisão dos meus colegas.... Agora nossa esperança é que vá para Comissão de Constituição e Justiça, vamos brigar, porque a Lei é para todos, não vale só para alguns, deve valer para todos”, finalizou a vereadora. 

Documento mostra que motocicleta do ano foi comprada com dinheiro público. Estava sendo usada por trabalhador informal da fazenda de prefeito, em MS. Foto: Redes Documento mostra que motocicleta do ano foi comprada com dinheiro público. Estava sendo usada por trabalhador informal da fazenda de prefeito, em MS. Foto: (Fonte ao MS Notícias) 

Para a reportagem, Atele disse que decidiu registrar o boletim de ocorrência diante de ameaças que recebeu na rede social e, também, após o guarda ir morar próximo a casa da genitora do vereador.  

"Eu preciso me resguardar, porque sinto que pode ele pode não estar gostando de como eu desenvolvo meu papel aqui. Precisamos fiscalizar, é para isso que fomos eleitos. Recentemente o guarda se mudou para a esquina da quadra onde vive minha mãe, eu estou todo dia lá  e com essas ameaças aí de 'eu vou te encontrar', 'te pegar', preciso me resguardar", justificou o vereador. 

Veja o vídeo do momento em que os vereadores abordaram o trabalhador informal de Nelson Cintra: 

Atele também registrou um boletim de difamação e calúnia em desfavor de Jhony. "Ele fez ataques infundados a minha honra nas redes sociais, além desses por mensagem direta", explicou.  

A situação de um prefeito usar uma moto pública para fazer segurança da sua fazenda não parece assustar a Câmara da cidade, que manteve-se passiva. 

A reportagem procurou Nelson Cintra por telefone e mensagem nesta tarde de segunda (2.abr.22), para que explique se de fato está usando o veículo oficial para segurança particular de sua propriedade rural e, ainda, que esclareça se é do cofre público a verba que está pagando a gasolina da motocicleta utilizada em assuntos pessoais.  Apesar do contato feito, até a publicação desta reportagem não foi dado nenhum posicionamento.