O Quilombo Urbano São João Batista terá sua história contada e preservada a partir de um projeto intitulado “Quilombo em Atividade” que começa a ser realizado neste mês de novembro em Campo Grande. O projeto criará um site e registará as memórias e histórias dos habitantes da comunidade, que é constituída por um núcleo familiar de 100 pessoas, moradoras em sua maioria da região do Pioneiros e em bairros como Piratininga e Aero Rancho.
Em cinco meses de trabalho, os realizadores pretendem promover 6 atividades, pesquisa e registro audiovisual, construção de um site sobre o quilombo, e sobre a vivência de Capoeira Angola. Além disso, farão dois cursos — um voltado para professores e outro sobre elaboração de projetos culturais.
A ideia, segundo o pesquisador Marcos Vinicius Campelo é estabelecer uma troca com o quilombo. "Eles estão partilhando conosco seus conhecimentos e queremos partilhar com eles algo que possa ser útil para a comunidade, como o curso de elaboração de projetos que pode contribuir para ampliar as atividades já existentes na Associação Familiar da Comunidade Negra São João Batista (AFCN), a partir da formação de jovens e outros interessados na elaboração e captação de recursos para desenvolvimento de projetos", explicou o pesquisador, que é proponente do projeto.
O site, criado para receber os registros que serão feito por meio de audiografia (junção de áudios-registros com frotografia) será repassado, posteriormente à comunidade dando ênfase ao protagonismo local.
O "Quilombo em Atividade" terá também espaço de debates que serão promovidos a fim de tocar assuntos presentes na rotina social e repercutidos na mídia, como o racismo e a importância do fortalecimento da identidade racial como ferramenta de combate a violência, garantia e promoção de direitos.
HISTÓRIA
A história da Comunidade Negra São João Batista começou a ser contada a partir da matriarca Sr.ª Maria Rosa Anunciação, filha de negros, ex-escravos, cujos ancestrais são originários da Bahia e Minas Gerais.
Maria e família migraram para MS, primeiramente habitando Coxim, mais tarde em 1945, a família veio para Campo Grande em busca de melhores oportunidades.
No início do século, em 2000, a comunidade fundou a Associação Familiar da Comunidade Negra São João Batista (AFCN). Em 2006, receberam a certificação do quilombo pela Fundação Palmares e desde então vem desenvolvendo inúmeros projetos voltados ao fortalecimento e resgate da cultura afro-brasileira, assim como projetos sociais, que atendem jovens e famílias em situação de risco. “Tudo começou com o sonho do meu pai, Reginaldo, que pensou na constituição da associação e chamou a nossa atenção para trabalhar com as famílias que estavam em situação vulnerável. Então, a formação da comunidade sempre foi voltada à inclusão e valorização, tanto das pessoas quilombolas que são nossos familiares, pessoas que passam pela nossa tradição, quanto de outras pessoas da comunidade do entorno”, diz Rosana, presidente da Associação.
PRESENÇA DA COMUNIDADE
Umas das idealizadoras do projeto, a artista visual, Vanessa Bohn explicou que a comunidade é forte e atuante no município de Campo Grande e no estado do Mato Grosso do Sul. “Desenvolvem um importante trabalho de resgate, fortalecimento e perpetuação da cultura e saberes afro-brasileiros”, acentuou.
Vanessa detalha os objetivos do projeto. “A proposta audiovisual é trazer à tona todo esse contexto de vivência e ancestralidade da comunidade, contando a história do Quilombo a partir da história de vida de cada pessoa. Serão captados os depoimentos e realizaremos uma série de fotografias que culminarão na sobreposição de som e imagens trazendo a luz o que chamo de audiografias. Este material irá compor o site do projeto formulando uma espécie de mapeamento poético do Quilombo São João Batista”, finalizou a artista visual.
O projeto foi contemplado com recurso do Fundo Municipal de Incentivo à Cultura (FMIC/2019), oriundo da Prefeitura de Campo Grande por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur).