Já se passaram mais de três meses e até hoje – quarta-feira, 22 -, a Polícia Federal não informou ainda o que já apurou sobre o episódio ocorrido em 16 de fevereiro passado, envolvendo o deputado federal Loester Carlos Gomes de Souza, 37, mais conhecido como Tio Trutis. Naquele dia ele comunicou que estava em seu caro com o motorista, na rodovia BR-060, entre Campo Grande e Sidrolândia, e que teria sido surpreendido por vários tiros.
Trutis contou à polícia que estava armado e reagiu, disparando contra o outro veículo, sem conseguir identificar quem eram os atiradores. Ele e seu motorista não sofreram qualquer ferimento. O carro ficou com cinco perfurações. Trutis afiançou que nenhuma outra pessoa viu o que aconteceu, além dele e do condutor. A BR sempre foi bastante movimentada.
Nas redes sociais – seu principal espaço de manifestação -, o parlamentar bolsonarista, eleito pelo PSL, sem citar nomes lançou graves acusações para justificar a convicção de que tinha sido vítima de um atentado. Fez bravatas, avisando que anda armado e sempre está pronto para se defender de qualquer tipo de agressão. Porém, por falta de elementos consistentes para embasar suas afirmações, Trutis caiu no descrédito de uma expressiva parcela da sociedade e nas redes sociais multiplicaram-se os memes e insinuações de que a história da emboscada teria sido forjada.
Estranhamente, depois que a PF entrou em cena, nenhuma informação oficial chegou a publico sobre o andamento das investigações. Apesar de seu temperamento arrogante e belicoso, o deputado recebeu a solidariedade de todas as partes do País, de forças sociais e políticas diversas, inclusive da esquerda – ele é declarada e ostensivamente de direita e anticomunista.
GASTOS
Levanta-se agora mais uma polêmica na direção de Tio Trutis e de seus tresloucados protagonismos. Veículos de imprensa de todo o Estado e de várias cidades brasileiras informam que o parlamentar vem gastando com despesas pessoais as verbas disponíveis em caráter especial para a manutenção dos mandatos. Entre essas despesas, ele incluiu um escritório de advocacia que defende seus interesses, o Agneli & Andrade.
O Portal da Transparência da Câmara dos Deputados confirma: e janeiro deste ano, do total de R$ 53 mil 540,68 de despesas do gabinete, R$ 31 mil 300,00 foram destinados para o escritório de advocacia. Trutis, evidentemente, apresenta as notas fiscais e pede a devolução do dinheiro. A nota de R$ 31 mil emitida em nome de Agneli & Andrade no dia 18 de março está registrada na prestação de contas com o documento 00000017.
No primeiro trimestre do ano, o total de despesas do gabinete de Trutis foi R$ 133,8 mil, sendo R$ 535,5 mil em janeiro, R$ 42,9 mil em fevereiro e R$ 37,3 mil em março. Segundo o site “Congresso em Foco”, em 2019 Trutis pediu ao departamento financeiro da Câmara o ressarcimento de R$ 251.965,00 por despesas com serviços de consultoria parlamentar.
Do total dos gastos daquele exercícios, 78% foram desembolsados para consultoria, pesquisas e trabalhos técnicos. Ele gastou R$ 323 mil e com isso ficou na 80ª posição entre os 513 deputados federais. Um detalhe: em 10 notas fiscais ressarcidas com valores que vão de R$ 12,7 mil até R$ 35,4 mil, todas foram emitidas pelo mesmo escritório de advocacia que o representa nas ações em que é réu.
EXPLICAÇÕES
Nas redes sociais Tio Trutis dá informações sobre suas atividades políticas e ações sociais que realiza. Para famílias carentes distribui cestas básicas e cadeiras de rodas, ajuda na aquisição de passagens – inclusive para estudantes que cursam fora do País – e agora, na crise do coronavírus, está abastecendo quem necessita de insumos preventivos, como álcool em gel e máscaras.
Contudo, parece guardar o máximo de silêncio sobre as investigações da PF e quase não aborda o ocorrido em fevereiro. Uma de suas postagens, feita no Facebook em 29 de fevereiro, mostra o deputado com uma arma de fogo de grosso calibre nas mãos e a frase: “A propriedade privada é sagrada. Defendê-la é um direito natural. Eu jamais mataria alguém para tomar um pedaço de terra, mas se alguém quiser tirar a minha vida por causa disso, não pode reclamar da minha reação, simples assim”.
Na mais recente incursão pela rede, Trutis se reedita na generalidade e se repete entre o vitimismo e a bravata: “Política MS em algumas linhas: Líderes do crime organizado pagam campanhas eleitorais. Os eleitos fazem vista grossa aos crimes, e promovem os policiais corruptos, logo eles também disputam eleição e são eleitos. Todos os eleitos pelo crime usam verba de seus mandatos para pagar a imprensa local, para que ela faça de conta que nada disso ocorre, e de quebra ela usa o alcance de suas matérias para tentar manchar a reputação de quem não está no esquema. Quando isso não funciona, tentam matar você”.