02 de novembro de 2024
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POVOS ORIGINÁRIOS

"Ibama voltou" destruindo aeronaves do garimpo e 'sitiando' criminosos (vídeos)

Governo estima que 15 mil garimpeiros ilegais estejam na região

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Sob o governo Lula (PT), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em parceria com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), voltou a poder atuar coibindo a invasão de terras indígenas. As entidades, iniciaram uma operação conjunta de retomada do território Yanomami, em Roraima, na 2ª.feira (6.fev.23). 

A medida visa combater o garimpo ilegal que ampliou as invasões ao território no encalço da ascenção do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2018.  

A operação fez as primeiras apreensões na noite da 3ª.feira (7.fev.23) e até está 4ª.feira (8.fev.23) já foram destruídos um helicóptero, um avião, um trator de esteira e estruturas de apoio logístico do garimpo. Duas armas e três barcos, com cerca de 5 mil litros de combustível, também foram apreendidos. 

Numa postagem no perfil oficial do Ministério do Meio Ambiente, comandado por Marina Silva, o órgão federal escreveu: "O IBAMA voltou!", na legenda de um vídeo da operação que mostra uma aeronave sendo destruída. O veículo aéreo pertencia aos garimpeiros invasores e estava escondido numa mata, mas foi localizado pelos agentes. Eis o vídeo:  

As operações por terra e ar contam com o apoio da Força Nacional de Segurança Pública, que instalou uma base de controle no rio Uraricoera, principal rota fluvial da região, para impedir o fluxo de suprimentos para os garimpos. Além de gasolina e diesel, os barcos apreendidos carregavam cerca de uma tonelada de alimentos, freezers, geradores e antenas de internet. Todos os suprimentos serão usados para abastecer a base de controle.

Segundo os agentes, nenhuma embarcação com carregamento de combustível e equipamentos será autorizada a seguir daquele ponto de bloqueio em direção aos garimpos.

A instalação de bases de controle será estendida para outras áreas da terra indígena. A estrutura logística é fornecida pela Funai, com o apoio dos próprios indígenas nesta fase da operação.

A ação aérea é realizada pelo Grupo Especializado de Fiscalização (GEF) do Ibama, que monitora pistas de pouso clandestinas na região. Sobrevoos para identificar e destruir a infraestrutura do garimpo, como aviões, helicópteros, motores e instalações, serão mantidos. O trator destruído era usado para abrir “ramais” na floresta.

O Ibama também fiscaliza distribuidoras e revendedoras responsáveis pelo comércio irregular de combustível de aviação que abastece os garimpos.

O objetivo principal da operação é inviabilizar linhas de suprimento e rotas que abastecem e escoam a produção do garimpo, além de garantir a permanência das equipes de fiscalização por prazo indeterminado.

As ações foram acompanhadas pela Procuradoria Nacional de Defesa do Clima e do Meio Ambiente, da Advocacia-Geral da União (AGU).

Cerca de 350 indígenas estão internados nos hospitais de Roraima. Mulheres e crianças são as mais atingidas. “A área Yanomami virou campo de concentração”, disse o secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Ricardo Weibe Tapeba.

O hospital da base Surucucu ainda está em montagem dentro do plano de contingência e a Casai, que é o hospital de atendimento indígena, abriga 281 Yanomamis, sendo mais de 50 crianças em quadro grave de desnutrição. Segundo Tapeba, o polo de referência do Surucucu estava sem água, internet, telefone e energia.

Ontem, o presidente Lula disse que foram identificadas 75 pistas clandestinas próximas do território indígena Yanomami. A região possui uma profusão de rotas aéreas clandestinas, com atividade dentro e fora do território nacional, mantida pelo crime organizado para extrair ouro e cassiterita.

ONDE FICA?

Desde a semana passada, a Força Aérea Brasileira (FAB) aumentou o controle do espaço aéreo na região, com o objetivo de neutralizar o tráfego de aeronaves relacionadas à mineração ilegal, em um trabalho de estrangulamento logístico do crime que reúne cerca de 25 mil garimpeiros na floresta.

“Temos 840 pistas clandestinas, só perto das terras Yanomami são 75. Não é possível não enxergar isso. Quem permitiu isso tem de ser responsabilizado”, escreveu o presidente, no Twitter. Na segunda-feira, a FAB anunciou a abertura parcial do espaço aéreo nas terras indígenas Yanomami, com a criação de três corredores de voo para viabilizar a saída de garimpeiros da região. Os mineradores, que têm pedido ajuda às autoridades para sair do território, terão uma semana para aproveitar a alternativa oferecida pela FAB, uma vez que os corredores vão ficar ativados até a próxima segunda-feira.

O governo estima que 15 mil garimpeiros ilegais estejam na região, mas que “milhares” já começaram a sair por conta própria antes do início de uma operação policial coercitiva, programada para apreender e destruir equipamentos e pistas clandestinas, e efetuar prisões em flagrante. A expectativa é de que 80% dos garimpeiros saiam do território ao longo desta semana.

Nos últimos dias, mineradores e mulheres gravaram vídeos pedindo socorro às autoridades e ajuda para conseguirem sair da região. Eles relatam dificuldades para deixar a área indígena e que pessoas doentes estão ilhadas no local.

No último dia 20, o Ministério da Saúde declarou emergência em saúde pública de importância nacional para a situação vivida pelo povo Yanomami. A medida foi tomada porque o território, com mais de 30 mil indígenas, tem sofrido com casos de insegurança alimentar, desnutrição infantil, doenças e falta de acesso da população à saúde.

*Com Estadão Conteúdo.