A importância do voto feminino e do poder político-eleitoral das eleitoras deixa de ser uma simples figura de retórica ou um apelo episódico. A quantidade e a qualidade da questão de gênero na estratificação do voto e na composição de chapas indicam: a cada eleição, elas demonstram a eles que no cenário de confronto pelas urnas a igualdade está avançando além dos discursos, embora ainda sem refletir numericamente na relação de forças estabelecida na distribuição dos mandatos.
Em Mato Grosso do Sul, experiências em disputas estaduais e municipais vinham sinalizando o crescimento da influência feminina, sobretudo a partir de 2010, quando as urnas acolheram vitoriosamente a chapa majoritária que tinha André Puccinelli (MDB) como governador e Simone Tebet na vice.
O experimento se fortaleceu com o sucesso eleitoral da chapa que triunfou em duas eleições consecutivas na Capital, Campo Grande, sugerindo também um passo adiante no comportamento político da sociedade. Em 2016 o candidato do PSD a prefeito, Marquinhos Trad, foi eleito tendo como candidata a vice-prefeita a advogada Adriane Lopes, dobradinha que se repetiu na campanha exitosa de 2020.
A BALANÇA
Não há como ignorar o peso desta medida. No Brasil, dos 156,4 milhões de eleitores, 53% são mulheres. Em Mato Grosso do Sul, o voto feminino acompanha esta realidade. Dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), atualizados no dia 30 de junho passado, revelam que até esta data Mato Grosso do Sul tinha 1.996.505 homens e mulheres aptos a votar. Desse total, a maioria é do sexo feminino: 1.047.054, o que corresponde a 52,44 % do eleitorado.
Os homens compõem os restantes 47,56%, ou 949.451 eleitores. Nos 79 municípios sul mato-grossenses que foram às urnas em 2020 os eleitores escolheram apenas cinco mulheres como prefeitas. Em 2021 esse número subiu para sete, , graças à eleição suplementar de Sidrolândia, que desaguou na vitória a Vanda Camilo (PP), e à renúncia do prefeito Marquinhos Trad (PSD), em Campo Grande, cuja vaga foi preenchida pela vice, Adriane Lopes (Patriota). Na Assembleia Legislativa, apenas uma das 24 cadeiras é ocupada por mulher, a deputada Mara Caseiro (PSDB). Contudo, o Estado já registrou eleições que terminaram com a vitória de 11 candidaturas femininas.
No Congresso Nacional, a representação feminina melhora um pouco. Das oito vagas na Câmara dos Deputados, só duas sulmatogrossenses têm assento: Rose Modesto (União Brasil) e Tereza Cristina (PP). Já no Senado elas dominam: de três vagas, duas estão com as senadoras Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil). Nas eleições para as Câmaras Municipais, o número de mulheres eleitas aumentou de 2016 para 2020: eram 110 vereadoras e agora são 164, um acréscimo significativo de 58%.
A representatividade feminina na política cresceu em Mato Grosso do Sul: enquanto em 2016 foram eleitas 110 vereadoras, com o resultado das urnas no último dia 15 de novembro, a partir de 2021 serão 164 mulheres a ocuparem as cadeiras nas câmaras de vereadores em todo o Estado, número que representa um aumento de 58% se comparado com o último pleito. Com destaque para os municípios de Três Lagoas, com 5 vereadoras eleitas, Amambai – que antes tinha apenas uma vereadora, passa a contar com 4 mulheres na Câmara de Vereadores, mesmo número de Sidrolândia e de Coronel Sapucaia, município que já possui tradição de eleger mulheres.
O OLHAR NA DIFERENÇA
No atual processo pré-sucessório estadual, das nove pré-candidaturas anunciadas três são de mulheres: Giselle Marques (PT), Luhhara Arguelho (PSOL) e Rose Modesto (União Brasil). Entre as chapas masculinas, a única que desenha a perspectiva de ter uma presença feminina é a de Marquinhos Trad. Ele tem ao seu lado no PSD a médica Viviane Orro, presidente do partido em Aquidauana.
O emedebista André Puccinelli, que vai tentar seu terceiro mandato de governador e já teve uma mulher de vice, ainda não definiu, mas já antecipou a preferência por uma mulher como companheira de chapa. Uma das opções é também uma médica, Cristiane Iguma Câmara. O tucano Eduardo Riedel sonhava ter no palanque a deputada federal Rose Modesto como sua vice - ela, entretanto, tornou-se sua concorrente, lançando-se pré-candidata pelo União Brasil. Já o pré-candidato Capitão Contar (PRTB) carimbou para vice o advogado e empresário Beto Figueiró, seu correligionário.
Interessante observar que a escolha das mulheres para as chapas majoritárias não aparenta obedecer a critérios protocolares, para dar satisfações ao eleitorado que cobra compromissos com questões afirmativas de gênero, por arranjos políticos ou afetivos. Os partidos demonstram levar em consideração critérios que atestam as qualidades de cada uma, principalmente a capacidade de formulação e de defesa de propostas, nos eventuais ativismos sociais/profissionais e no comprometimento com os ideários programáticos da campanha.
Nos casos da douradense Cristiane Câmara e da aquidauanense Viviane Orro há recortes específicos que as colocam entre as cogitações para as chapas de Puccinelli e Trad. Ambas são médicas, porém o item de maior apelo para Cristiane é o geopolítico. Embora seja reconhecida como importante autoridade e debatedora de temas envolvendo Medicina e Saúde, ela traz uma solução geopolítica para Puccinelli, pois representaria a Grande Dourados, região com a maior concentração de eleitores no interior do Estado.
Quanto a Viviane, conta a seu favor as experiências profissionais, políticas e administrativas: é médica nefrologista e qualificada em políticas públicas, foi secretária de Saúde e candidata a prefeita em Aquidauana. É dirigente partidária e ativa militante de movimentos sociais, com profundo conhecimento do programa partidário.