27 de dezembro de 2024
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HOLERITE DO AMOR

Contribuinte sustenta romance de deputado bolsonarista que defende "corte de privilégios"

Além da assessora-“namorida” que ganha R$ 10,8 mil mensais, Trutis usa verba da Câmara para pagar advocacia privada

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A advogada Raquelle Lisboa Alves foi presenteada em agosto de 2019 com o cargo SP 24 na Câmara dos Deputados. O salário mensal bruto: R$ 14.485,18. Com os descontos do Imposto de Renda e da Previdência, a remuneração ficou em R$ 10.854,12 líquido. Desde a nomeação até junho passado, em 10 meses a moça embolsou R$ 108.541,20  em salários acumulados.

Mas nem tudo é bonito, ético e exemplar nessa história. O SP do cargo de Raquelle é das iniciais de “secretária parlamentar”, função para a qual foi nomeada na Câmara para servir ao deputado federal Loester Carlos Gomes de Souza, o Tio Trutis (PSL/MS). Mas o útil andava junto com o agradável: a assessora de gabinete era e é quem compartilha os lençóis e a alcova do parlamentar bolsonarista sulmatogrossense.

“Defensor ferrenho do corte de privilégios para políticos”, como se autodefine em seus perfis nas redes sociais, Trutis apagou essa parte quando resolveu patrocinar com verba publica seus prazeres particulares. Ainda que não seja parâmetro confiável em matéria de cultura geral, useiro e vezeiro em duelar com a inteligência e a sensatez, o deputado sabia estar passível de sr acusado por crime de improbidade administrativa e até quebra de decoro parlamentar.

Afinal, ao fazer de companheira amorosa ou de vida marital uma servidora nomeada em seu gabinete para ser paga com dinheiro do contribuinte, está fazendo uma criminosa e nada ética parceria publico-privada financiada pelas economias populares. Repetiu erros cometidos por ouros políticos do Executivo e Legislativo que tradicionalmente alojam parceiros e parceiras amorosas em cargos públicos.

Este é, reconhecidamente, um dos claros desvios de finalidade com ofensa a princípios constitucionais da impessoalidade e da moralidade. Trutis deu curso a maus exemplos, como o do senador Marcos do Val (Cidadania-ES) que nomeou para cargo publico em seu gabinete uma advogada com quem tinha um caso. Foi obrigado a exonera-la.

PUBLICO E PRIVADO

Mas não é somente a própria vida amorosa que Trutis sustenta com o dinheiro dos contribuintes. Além de figurar entre os principais gastadores das verbas extras a que os parlamentares têm direito, o deputado do PSL também bancou necessidades jurídicas com verbas da Câmara. O escritório aquinhoado por Trutis é o Agnelli & Advogados, localizado na Rua da Paz, no centro de Campo Grande.

O serviço é contratado ou simplesmente lançado numa nota fiscal, que é apresentada à área financeira da Câmara para fazer o reembolso ao deputado. As notas fiscais emitidas pela Secretaria Municipal da Receita exibem esta relação de negócios. Duas delas têm data de vencimento em 15 de julho de 2019, com pagamentos de R$ 16.730,00 e R$ 15.425,00 em honorários advocatícios. Outras duas, com vencimento em 17 de junho do mesmo ano, são para pagamentos de R$ 12.770,00 e R$ 15.340,00 pelos mesmos serviços.

Assim, de maio de 2019 a março de 2020, só para uma empresa privada, o Escritório Agnelli & Advogados, Tio Trutis fez 13 pagamentos por honorários advocatícios que lhe garantiram um reembolso de R$ 345.265,00 pela Câmara dos Deputados. E segue firme na luta para acabar com os privilégios dos políticos.