O ministério da Economia de Paulo Guedes reconheceu nesta manhã (30 de junho), aquilo que a realidade dura de muitos comerciantes (pequenos e médios) no Brasil. O suposto crédito oferecido pelo governo bolsonarista com taxas elevadas para os pequenos e médios e quase nula para as grandes empresas demonstra “não está chegando na ponta”. Guedes falou também sobre o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que segundo ele, será “muito bem-sucedido”. Mas pode gerar “alguma perda”. “Sabemos que deve haver alguma perda nesse programa, mas a nossa responsabilidade é conceder esses recursos. Isso explica até uma frase minha muito mal compreendida naquele vazamento de uma reunião ministerial onde eu dizia: 'Olha, com as empresas grandes, nós vamos até ganhar dinheiro, agora, com as pequenas, não'”, destacou o ministro, referindo-se à reunião ministerial do dia 22 de abril, que teve o sigilo do vídeo retirado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), onde veio a tona face mais cruel do governo de Jair Bolsonaro.
Guedes participou de audiência pública virtual, promovida pela Comissão do Congresso que acompanha a situação fiscal e a execução orçamentária e financeira das medidas relacionadas ao coronavírus (covid-19).
“Tenho a maior franqueza em reconhecer que, na parte de crédito, ele não foi satisfatório até o momento, e nós continuamos aperfeiçoando o nosso programa para o dinheiro chegar à ponta, que era a maior reclamação”, argumentou o ministro.
Guedes disse ainda que o governo tem um “time técnico muito bom”, mas a demanda por crédito cresceu muito. Ele citou o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e os presidentes de bancos públicos. “Como [a pandemia] travou o país inteiro, a necessidade de capital de giro triplicou, quadruplicou. Então, mesmo expandindo o crédito, como expandimos, a verdade é que continuou insuficiente. Continuamos, o tempo inteiro, aperfeiçoando os programas em busca de um melhor desempenho”, disse.
Por outro lado, Guedes disse que o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEM) foi bem-sucedido. “No mercado formal americano, em cinco, seis semanas, demitiram 30 milhões, e aqui nós impedimos a demissão de 10 milhões. Houve, nesse período, uma demissão de em torno de 1 milhão de pessoas só no mercado formal, o que foi absolutamente excepcional, foi extraordinário”, argumentou.
O ministro afirmou que, em nenhum momento, quis dizer que não haveria liberação de recursos para as pequenas empresas. “Era justamente o contrário: é que, quando você empresta para um gigante, para uma companhia aérea, uma coisa assim, o governo tem que dar uma satisfação à população porque ele está salvando um gigante econômico; então, ele tem que ganhar algum dinheiro para fazer isso. Então, nós desenhamos as debêntures conversíveis exatamente para isto: eu salvo a empresa aérea, mas, quando ela voltar a voar e ganhar dinheiro, o estado ganhou dinheiro”, explicou.
Segundo o ministro, no caso das pequenas empresas a situação é diferente. “Já a pequenininha, não. Você vai dar dinheiro para milhares de pequenas empresas, e algumas podem realmente morrer no caminho e não conseguir pagar. Então, com as pequenas, a gente pode não ganhar dinheiro. Mesmo assim, daremos o crédito, foi isso que eu estava falando. E aí deformaram completamente a frase, dizendo que a gente não dá dinheiro para os pequenos para não perder.”, rebateu.
CONTROVERSA
Apesar disso, Guedes nunca explicou o porque de no início da crise os bancos terem recebido todo o susporte que precisavam e até mais, terem dinheiro para 'apostas'.
Entre as principais medidas para o mercado financeiro na gestão Guedes, está a liberação adicional de R$ 68 bilhões em depósitos compulsórios, sendo que em fevereiro já havia acontecido a liberação de R$ 135 bilhões com o mesmo intuito, totalizando R$ 203 bilhões só nesse quesito aos banqueiros,
De acordo com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, as medidas visavam permitir que os bancos privados tivessem ainda mais dinheiro em caixa e diminuissem as incertezas dos agentes do mercado, incertezas essas – e isso ele não explica – que na verdade, são formas dos agentes do sistema financeiro especularem sobre onde apostar suas fichas no sobe e desce da bolsa de valores em tempos de crise, enquanto os trabalhadores seguem produzindo as riquezas do país para serem sugadas por meia dúzia de bilionários.
Na prática, as medidas do governo significam que os bancos terão mais dinheiro para gerar novos empréstimos aos seus clientes, podendo esses substituir dívidas velhas por novas. Em tempos de pandemia, isso é bastante lucrativo para os banqueiros: enquanto os trabalhadores tem reais chances de terem não apenas seus salários cortados ou até mesmo suspensos, mas também, ao ver crescer o aumento do desemprego a busca por empréstimos bancários aumenta consideravelmente, porque o desespero para não passar fome e manter as contas de casa em dia bate com força na porta de cada trabalhador.
Vale lembrar que isso ocorre no mesmo momento em que os juros cobrados pelos bancos subiram de forma acelerada, apesar de uma nova redução na Selic (anunciada em janeiro), a taxa básica de juros da economia, que reduziu de 4,25% para 3,75% ao ano. Isso quer dizer que o governo oferece dinheiro aos bancos para eles terem mais dinheiro para realizarem novos empréstimos e assim ganharem ainda mais dinheiro com as altas taxas de juros e ainda por cima venderem na mídia tradicional a ideia de que essas são medidas boas para a economia.
Muitos donos de pequenas empresas, que não conseguem prever sua receita futura e têm medo de tomar mais dívida que talvez não consigam pagar, preferem simplesmente não pedir os créditos públicos.
Ao contrário do programa de financiamento à folha de pagamento nos Estados Unidos, o U.S. Paycheck Protection Program, que perdoa o empréstimo se ele for usado para pagamento de salários, os financiamentos no Brasil precisam ser pagos e são adicionados à dívida mesmo que a empresa vá à falência. Então muitos optam por demitir ou cortar salários.
"DEIXADOS PARA MORRER"
O presidente Jair Bolsonaro e o Ministro da Economia Paulo Guedes nunca mediram esforços para socorrer quem mais ganha dinheiro no Brasil. Apesar disso, as pequenas empresas, como Guedes bem reforçou no topo desta reportagem, "Não pagam as dívidas".
O Banco Central (BC) comprou títulos soberanos do Brasil denominados em dólar (global bonds) das instituições financeiras nacionais no governo bolsonarista. A operação é com compromisso de revenda. O estoque desses títulos é de US$ 31 bilhões (R$ 161 bilhões). O valor é 11 vezes mais do que as medidas do governo para socorrer os mais pobres em plena pandemia do novo coronavírus, em que foi repassada a gorgeta de R$ 15 bilhões, à milhões de brasileiros. Isso após a 'briga' no Senado, porque, se fosse pelo querer de Bolsonaro, o auxílio-emergencial (direito da população) seria de apenas duzentos reais. A briga dos senadores também tem seus motivos, devido às eleições municipais neste ano, o valor foi aumentado para R$ 600 por um período de 3 meses.
Desde 2008, época da crise financeira internacional, que o BC não fazia esse tipo de operação que aumenta a liquidez no mercado no atual momento de crise agravado pela pandemia da Covid-19.
Em nota, o BC informou que os títulos serão comprados com desconto de 10% em relação aos preços de mercado. “A medida entrou em vigor no dia 18 de março e visa a garantir o bom funcionamento dos mercados”, disse.
Banqueiro, fundador do banco BTG Pactual, deixou claro desde o primeiro dia do atual governo que sua prioridade e compromisso são com o cartel do sistema financeiro.
O lucro líquido dos quatro maiores bancos do Brasil com ações na Bolsa de Valores, Itaú (R$26,58 bi), Bradesco (R$ 22,6 bi), Banco do Brasil (R$18,16 bi) e Santander (R$ 14,18 bi) cresceu 18% em 2019, na comparação com o ano anterior. Os ganhos acumulados somaram R$ 81,5 bilhões ante R$ 69,1 bilhões em 2018.
Guedes toma atitudes como dar o direito das empresas suspenderem o contrato de trabalho, cortando ou reduzindo salários, deixando os trabalhadores à deriva e praticando o oposto do que governos como na Europa e o dos EUA têm feito, que é garantir o emprego e a renda dos trabalhadores para que a população fique em casa ou preste serviços em sistema de home Office.
O descaso do governo brasileiro com o povo é tamanho que a política ultraliberal do ministro banqueiro não percebe um elemento fundamental para enfrentar a crise econômica é o consumo das famílias. De nada adiantará socorrer só os grandes (empresas e bancos), quem compará os produtos fabricados por essas gigantes?
*Com Agência Brasil.