O Cerrado, conhecido como "berço das águas", é o segundo maior bioma do Brasil, ocupando cerca de 2 milhões de km², ou 24% do território nacional. Ele desempenha um papel essencial na regulação climática, na produção de água e na proteção de ecossistemas sensíveis como o Pantanal. O Cerrado alimenta as principais bacias hidrográficas brasileiras, incluindo as do Tocantins-Araguaia, Paraná-Paraguai e São Francisco.
Infelizmente, o Cerrado é um dos biomas mais ameaçados do Brasil, com cerca de 50% de sua vegetação original já destruída, principalmente pela expansão da agropecuária, cultivo de soja, milho e pastagens, além da produção de carvão vegetal. De acordo com o MapBiomas e o IBAMA, aproximadamente 1 milhão de km² de vegetação natural foi perdida até 2023, afetando o clima, os recursos hídricos e a biodiversidade da região.
A degradação do Cerrado tem impactos críticos, como intensificação de secas, perda de fertilidade do solo e comprometimento das nascentes que alimentam grandes bacias hidrográficas, como a do Pantanal. Além disso, a destruição do bioma compromete a geração de energia, já que a maior parte da matriz energética brasileira é hídrica e depende dos rios e aquíferos que nascem no Cerrado.
Grande parte das áreas desmatadas no Cerrado é usada para a pecuária de forma ineficiente. Cerca de 40% da área desmatada, ou 400 mil km², está ocupada por pastagens degradadas. Práticas inadequadas, como o sobrepastoreio, degradam o solo e reduzem sua capacidade de regeneração. Essas áreas subutilizadas representam uma oportunidade para a recuperação sustentável, com práticas de manejo integrado, evitando novos desmatamentos.
No Brasil, a erosão do solo é uma realidade preocupante. Estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) indicam que existem cerca de 28 milhões de hectares de pastagens degradadas, mas com grande potencial de recuperação para uso agrícola, desde que sejam aplicadas tecnologias adequadas. Um exemplo marcante é o assoreamento do Rio Taquari, no Pantanal Sul-Mato-Grossense, que exige ações urgentes de recuperação para restaurar o equilíbrio ambiental e preservar a funcionalidade desse importante ecossistema.
O combate ao desmatamento no Cerrado é uma prioridade estratégica para o Brasil. Políticas públicas rigorosas, incentivo à agricultura sustentável e a valorização das populações tradicionais são essenciais para preservar o bioma. Proteger o Cerrado é garantir o futuro da água, da energia e da produção agrícola no país.
Além disso, os rios voadores, correntes de vapor d'água transportadas da Amazônia, desempenham um papel vital no regime de chuvas do Cerrado. A umidade proveniente da floresta amazônica ajuda a manter o ciclo de chuvas, fundamental para a biodiversidade, agricultura e estabilidade climática. Com o desmatamento crescente na Amazônia, a redução do volume de vapor transportado pode impactar severamente o regime de chuvas no Cerrado, agravando períodos de seca e afetando a produção agrícola e a geração de energia hidrelétrica.
Portanto, a preservação da Amazônia é crucial não apenas para o equilíbrio climático da região norte, mas também para garantir a sustentabilidade do Cerrado e outros biomas brasileiros que dependem dos rios voadores para manter seu ciclo hidrológico.