15 de abril de 2025
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Trump: o verdadeiro vilão da economia global

Desde o início ele demonstrou sua intenção de implementar tarifas de importação generalizadas

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A economia brasileira respondeu de forma sensível durante o período eleitora nos Estados Unidos em 2024, alvoroçando-se em maior intensidade à medida que aumentava a probabilidade de vitória de Donald. Isso porque, desde meados de 2024 já havia a perspectiva de que um governo Trump estaria associado a políticas econômicas imprevisíveis e protecionistas, o que traria volatilidade e pressão de desvalorização para o real.

Em outubro de 2024, Trump já se encontrava em vantagem sobre Kamala Harris nas pesquisas e casas de apostas, o dólar disparou ultrapassando a casa de R$5,70. Naquele momento os analistas notaram uma tendência de alta na taxa de câmbio diante da possibilidade de Trump vencer as eleições.

O Dólar fechou setembro/2024 em R$5,45 e chegou a R$5,73 na semana de 24/10/2024. O mercado sinalizava que o retorno de Trump levaria o dólar para uma posição mais relevante globalmente e, com os juros dos EUA em alta, haveria uma pressão para desvalorizações em moedas de emergentes, como o Real.

Com a vitória de Trump, em novembro de 2024, houve reação turbulenta. A partir do início do período eleitoral nos EUA e, com mais vigor com a vitória de Trump, o real perdeu valor e o mercado ajustou preços, precificando riscos de políticas protecionistas e inflação global. Esse fator encarece insumos importados e pressiona para cima os preços internos de alimentos e commodities.

Dentre os diversos alimentos em alta no Brasil encontram-se justamente aqueles de exportação relevante, como café e carne, a subida do dólar no final de 2024 tornou o mercado externo mais atrativo, levando produtores brasileiros a elevar os preços domésticos aos patamares internacionais. A desvalorização cambial intensificada pelo “fator Trump” foi um canal direto de impacto para o aumento da inflação de alimentos no Brasil.

Trump sinalizou desde o início de sua campanha a sua intenção de implementar tarifas de importação generalizadas, para o Brasil isso significaria perder competitividade no mercado dos EUA, que é seu segundo maior parceiro comercial.

Um exemplo é o café brasileiro, produto líder de exportação aos EUA: o governo Trump já anunciou que taxará produtos do Brasil, por outro lado, a retaliação chinesa levará à redução das compras de produtos agro dos EUA e beneficiará os exportadores brasileiros (por ex., soja e carne suína encontraram espaço na China) .

Políticas equivocadas efetivadas já em janeiro/2025 por Donald Trump agravaram o sistema de abastecimento interno e aumentaram a procura por exportações brasileiras – os EUA importaram um volume recorde de ovos do Brasil (alta de 84,9% sobre 2023) devido à escassez interna. É obvio que frente a tal cenário, produtores brasileiros privilegiaram a exportação em detrimento da reposição e oferta local com preços mais altos.

O agronegócio brasileiro, apesar de competitivo, sofre com a instabilidade cambial e taxas de exportação. Os custos de produção são em parte atrelados ao dólar, como fertilizantes e a previsibilidade de demanda cai com eventuais retaliações comerciais. Como já destacado em estudo da Unesp, a internacionalização da agricultura brasileira fez com que alimentos da cesta básica interna (carne, café, óleo etc.) ficassem sujeitos aos humores do mercado externo. E esses humores em 2024-25 incluem a perspectiva de um governo conservador nos EUA disposto a rever acordos e priorizar produtores americanos, o que alimenta prêmios de risco nas commodities.

Diversos economistas, analistas de mercado e veículos de imprensa estabeleceram vínculos entre a conjuntura política americana e a alta de preços alimentícios no Brasil. Em particular, a possível volta de Trump trouxe de volta o fantasma do protecionismo comercial e do “America First”, que mexe com as expectativas de exportadores e importadores globalmente.

O Brasil, sendo um player central em alimentos, viu-se no centro desse furacão: exportações aquecidas e câmbio desvalorizado “contaminaram” os preços internos, gerando picos de mais de 50% no café e 20% nas carnes. Especialistas sustentam que esse fenômeno não teria sido tão intenso não fosse o “efeito Trump” somado a outros choques.

A expectativa de Trump no poder atuou como um agravante, elevando a aversão a risco dos investidores, o dólar e o apetite externo pelos nossos alimentos – combinação que encarece a comida no prato do brasileiro comum.