18 de novembro de 2024
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Para deputado, CPI do Cimi favorece hostilidade contra índios

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Após discussão entre índios e deputados, em sessão na Assembleia Legislativa na quinta-feira (22), protagonizada pela coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara e pelo deputado estadual Paulo Correa (PR), o deputado estadual Pedro Kemp (PT) culpou a CPI do Cimi pelo clima de tensão instalado na assembleia. 

“Toda essa confusão é culpa da criação da CPI do Cimi. Eu alertei que essa CPI só ia inflamar ainda mais os ânimos entre os produtores e os índios. Para mim está muito claro que a o Cimi não tem participação nas ocupações de terra, é uma decisão dos próprios índios, fazer a demarcação por conta própria. Criaram a CPI do Cimi para tentar desviar as atenções do que realmente deve estar em foco. A manifestação ontem foi pacífica e os ânimos ficaram exaltados sem necessidade. Isso não vai chegar a lugar algum, a Casa tem que respeitar a democracia. Na próxima terça-feira (27) será apresentada uma solicitação dos 24 deputados sugerindo que o Estado utilize recursos da dívida que ele paga ao Governo para capitalizar um fundo na tentativa de resolver os conflitos”, diz Kemp. 

O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Junior Mochi (PMDB) que foi obrigado a suspender a sessão e só retomá-la quando o Plenário fosse esvaziado, condena as discussões e acredita que a democracia deve permanecer dentro da Casa. “Se alguém se sentiu ofendido, deve ser feito um requerimento para só então a mesa tomar as devidas providências. Tudo aquilo que extrapola o limite do bom-senso é ruim, pois a Assembleia abre a palavra para todo mundo para expor pensamentos, convicções, mas tudo deve ser falado sem ofender ninguém”, destacou Mochi. 

Protestos

O incidente aconteceu logo após o pronunciamento de Sônia Guajajara, coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. Em nome dos 130 representantes de diversos povos, ela anunciou o lançamento da campanha internacional de boicote às principais comodities do agronegócio brasileiro, soja e carne, alegando que esses produtos estão manchado com o sangue indígena, uma referência às atividades econômicas de produtores que ocupam áreas reclamadas pelos índios.

Logo que Sônia Guajajara terminou de falar, o deputado Paulo Corrêa (PR) foi ao microfone de apartes e pediu a Junior Mochi, que exigisse da oradora seu CPF, RG e endereço. Os índios, que ocupavam a maioria das cadeiras no Plenário, consideraram isso uma provocação e passaram, primeiro, a vaiar o deputado republicano.

Corrêa insistiu em cobrar os documentos da Guajajara e a temperatura do bate-boca se elevou. A deputada Mara Caseiro (PTdoB), autora do pedido de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o apoio do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) aos índios em Mato Grosso do Sul, uniu-se a Corrêa nos apartes. Começou uma troca de ataques verbais. O parlamentar dirigiu-se aos índios de dedo em riste e os desafiou, dizendo que não apoiaria o movimento e que estava ali em defesa dos produtores. Preocupado, Mochi suspendeu a sessão, declarando-a encerrada em seguida. Minutos depois, quando os índios já haviam saído para o saguão, a sessão foi reaberta com o discurso de outro integrante da bancada ruralista, Zé Teixeira (DEM). Do lado de fora, com danças e cânticos nativos, os índios faziam seu protesto e lançavam a campanha de boicote à compra de produtos do agronegócio cultivados em terras reivindicadas pelos povos originários.

CPI do Cimi

A CPI foi instalada na Assembleia Legislativa para investigar supostas denúncias de financiamento de invasões a propriedades rurais em Mato Grosso do Sul, o que tem provocado confronto entre índios e fazendeiros.